
Parto do seguinte princípio: se há uma produção decente (leia-se “com grana”), com cenas filmadas aqui pra valer (muitas vezes usam o chroma, estúdio ou locações fechadas para simularem que estão em outros países), então o que tem de mal em se esforçarem para que pareçam estar no Brasil de verdade, certo?

Eis que no episódio Eating the Young (S.01-E.09), nossos heróis são enviados ao Rio de Janeiro para deter um negociante de armas e apreender 7 mísseis Stinger que estão em seu poder e que seriam vendidos para serem usados por terroristas nos Estados Unidos. Quando apareceu a favela ao fundo, pulei da cama e comecei a anotar mentalmente a sucessão de erros:
- Jonas e Charlie (“disfarçados” de turistas) desfilam batendo fotos indiscriminadamente com máquinas fotográficas enormes (?), às portas da favela;
- Uma guarnição policial aparece em um jipe (??). Não consegui ver a placa;
- Os tais policiais entram calmamente em um barraco. Escuta-se som de tiros. Eles saem arrastando dois corpos e retiram do barraco várias sacas de arroz cujos selos acusavam que haviam sido doadas pelo Governo dos Estados Unidos (???). Charlie cochicha para Jonas: “Terra de Ninguém”;
- Alguns piás estão jogando futebol e um deles chuta a bola no braço de um dos policiais. A mãe do garoto pede piedade num portunhol brabo: ela tira moedas (????) do bolso e oferece ao oficial. Ele dá um tiro na bola e manda ela sumir logo dali (por incrível que pareça, num português decente);
Essa merda toda acontece logo nos primeiros cinco minutos, e havia ainda 40 de episódio.
Admito que as piores coisas vieram no início, mas se o roteirista (que definitivamente não fez o seu dever de casa, e nem acessou o Google pra escrever essa bosta) estava dando um tempo, a produção não deixou a peteca cair: todos os pirralhos usavam All Star (?????), o negociante de armas se chamava “Jimenez” e quase todo o elenco era adepto do portunhol. Vale salientar aqui o personagem principal deste episódio: um menino, vestido com a camisa da seleção brasileira, que leva os americanos até um avião abatido e FALA INGLÊS FLUENTE. Quando perguntado aonde aprendeu o idioma, ele diz que sua mãe era empregada doméstica na casa de um gringo. Só que o guri não conseguiu inventar uma boa desculpa para o seu péssimo português.
Enquanto procurava uma imagem para ilustrar esta “divagação”, encontrei um pequeno texto no blog Diário de um PM, escrito por um policial militar de verdade do Rio de Janeiro. O texto tem link para a cena acima citada, bem como algumas opiniões de outros PMs sobre a mesma. Se quiser conferir, basta clicar aqui. Vale a pena.

Com esses atributos, espero mesmo que The Unit venha, nos próximos episódios, a respeitar um pouco mais a minha inteligência em suas caracterizações (executando produtores deste tipo, quem sabe). Quanto às produções gringas no geral, acho que esperar tal coisa seria meio inutil, uma vez que o hábito de colocar brasileiros na tela falando espanhol e cismar que há uma cidade de ouro perdida na Amazônia está incutido no American Way de fazer cinema.
Anaconda que o diga...

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