
Após tomar um banho e colocar um roupão, ligo a televisão. Não era um hábito ligar a TV às 8 da manhã. Mas foi como se precisasse de uma presença a mais na casa. Como a sensação que o aparelho transmite quando se entra em casa e ele está ligado, sabe? Simplesmente sabemos que a TV está ligada. Lembro da manhã agradável de sol, depois de uma noite de trampo tranquila. Lembro do roupão e das pantufas de velho. Lembro do copo d’água que fui pegar na cozinha enquanto a chamada do Plantão da Globo chegava aos meus ouvidos. Parei na frente da TV e tudo estava acontecendo: gente correndo pra todo lado, repórteres tentando elucidar aquela loucura toda e um avião entrando com tudo no World Trade Center ao vivo. Quando o reporter disse que aquele era o segundo avião a atingir as Torres Gêmeas, sentei no sofá e disse “Merda!” pra mim mesmo.
Depois daquela manhã, Osama Bin Laden, Afeganistão, WTC, Al Qaeda e tantos outros nomes, lugares e termos, contaminaram o mundo. No P.E.S.T.E. (Projetos Especiais Simultâneos de Trabalhos Escritos) o tema da semana era o WTC e nos rendeu boas histórias. O conto que escrevi chamava-se “Tsunami” e contava a história de um aposentado no vôo da United 93. Curiosamente, três anos depois, o termo “Tsunami” também estaria na crista da onda (Hã, entenderam o trocadilho? Hein? Hein?) ao devastar a costa asiática e matar centenas de milhares de pessoas.
Mas nem só o P.E.S.T.E. ou Alan Jackson propagavam o amor nos tempos do WTC. Levou uns dois meses para os internautas criarem o NY Defender, um joguinho em flash onde o mouse era uma mira e o jogador tinha de acertar os aviões que tentavam chocar-se contra as Torres Gêmeas. Admito que o jogo era uma massagem. Gifs, montagens de fotos que colocavam um turista sorridente em uma das torres (enquanto, em segundo plano, um avião se aproximava) e uma penca de referências ao fatídico dia pulularam pela internet e pela indústria cinematográfica.
Aproveitando o ensejo (como diria minha Mãe) dos atentados, G. W. Bush resolveu travar uma pequena guerra contra qualquer país que ameaçasse a segurança estadunidense. Os EUA abraçaram a causa da retaliação. Virou a tal “Febre do Terror”. O engraçado é que todos esses países se encontravam no sudoeste da Ásia, mais precisamente na região árabe. Afeganistão primeiro. Iraque depois. Lembro-me de uma piada no Oscar de 2002 onde Billy Cristal dizia “Sabe pessoal, na última vez em que apresentei o Oscar, em 1992, tudo era diferente: o presidente dos EUA era George Bush e estávamos em guerra contra o Iraque”.
Quando sentei no sofá, na manhã do dia 11 de setembro de 2001, eu sabia que algo grande estava acontecendo. Era burro demais pra sacar a jogada toda numa só tacada, mas já conseguia enxergar alguns aspectos do efeito dominó que aqueles aviões trariam para o mundo. Sabia que os portões para a entrada de estrangeiros em países de 1º Mundo iriam se fechar como ostras. Sabia que esta crise e uma reação à ela dariam mais um mandato à George Bush (que até aquele momento era um Geraldo Alckmin no Salão Oval: não fedia e nem cheirava). Mas confesso que não imaginei que este catalizador justificaria não somente a caçada à “armas de destruição em massa”, como também a execução de Saddam Hussein e a transmissão de seu enforcamento na internet, nos remetendo ao que há de mais bárbaro e aterrador no espírito humano. O que nos diferenciava de certos animais, de algumas tribos abissais e de pessoas como o próprio Saddam (que era um notório genocida e merecia queimar mesmo) simplesmente foi para o espaço. Justificamos uma execução e o mundo assistiu de camarote. Hoje, qualquer criança abre o vídeo do enforcamento do ditador no You Tube.
Foi isso que perdemos naquela manhã de sol.
3 comentários:
É,dificilmente aquela manhã sairá da cabeça de quem viveu (à distância) e viu (pela televisão). Eu também me lembro de um dia de sol, já morava nesta cidade que moro hoje. Liguei o rádio de manhã (pra variar)e escutei notícias tão confusas que soavam mais como Guerra dos Mundos (me poupe de qualquer referência sobre isso, combinado? rs). Bom, daí liguei a TV e certamente compartilhei do sentimento de perplexidade de outros tantos milhões de indivíduos.
Das cavernas até hoje continuamos na mesma...a certeza de dias incertos. Beijos.
Bah! Incrível como a maioria das pessoas lembra exatamente onde estava naquele dia. De alguma forma, ele mudou a vida de milhões.
Bju
Eu trabalhava no Jornal da ZOnba Leste, meu primeiro trampo de jornalista. Lembro do office boy chegar da rua com uma história louca e entao fomos ligar uma TV velha que havia na redaçao (tao bagacenta que tivemos de colocar bombril na antena, imagine...) para ver o que realmente acontecia. E vimos. Foi de arrepiar os pêlos do cu.
Beijo
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