sábado, 29 de dezembro de 2007

"Os Batedores" na ZH.

Hoje saiu a primeira divulgação impressa do curta Os Batedores, na contracapa do Segundo Caderno do jornal Zero Hora. Clique aqui para ler a matéria, ou corra para a banca mais próxima.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Magia.

...e atravessava a rua com passos pesados. Em volta, a paisagem desolada convidava o pensamento para o relembrar. Uma parada de ônibus. Sabia que ali havia tido discussões, feito promessas, se despedido. Uma, duas, várias vezes. Três pessoas esperavam o ônibus na manhã. Nenhuma das três era. Manhã pós-natal. Cedo. Uma época tétrica para os solitários. E ele era um. Observava o bar que pegou como seu, acostumado com o movimento noturno do lugar. Mas não era mais noite. O bar estava fechado.

Poucas pessoas saindo de suas casas. Ainda cedo. Na esquina, o sorvete barato que agora não tem preço. Também fechado. Pedia o de iogurte, com sabor de nada. Pedia por pedir. Gostavam disso. Além das grades, dois vagabundos dormiam na calçada da frente. “É o que resta”, pensou ele. Na transversal, os lugares com nomes estranhos que serviam de refúgio em algumas noites. Fechados. O natal faz isso com os lugares, não interessa os nomes que eles tenham. Lembrava que o tempo passava devagar quando chegavam nesses locais. Ofuscantes. Interessantes. Irresistíveis. Magia. Os ponteiros corriam rápidos logo depois. Tempo nenhum parecia suficiente. E não era. Cremes e taças de vinho eram bons no inverno. Fim de ano não é inverno.

Na esquina mais movimentada da Cidade Baixa havia uma alma penada. Ele olhava para um lado e via um cinema com filmes-cabeça. Olhos arregalados na tela. Risadas nervosas. Outra parada de ônibus naquela direção. Olhava para o outro lado e pedia o de sempre para o garçom de sempre: um para dois. A mesa era a de sempre também? Disso ele não lembrava. Ou lembrava e queria deslembrar. O sol já batia no seu rosto. Sol de cedo. Magia. Tinha que atravessar para a sombra e atravessou.

A nova calçada era velha conhecida. Via as mesas e cadeiras de costume espalhadas por tudo. O barulho das pessoas conversando e bebendo. Passavam costurando entre as mesas com sorrisos. Ele sempre na retaguarda. Mão direita grudada na mão direita. Mas cedo assim, não havia cadeiras, nem mesas, nem gente bebendo. Havia sim uma sopa de capelletti no pão que nunca aconteceu. Outra promessa. Quem vê, parece que só pensavam em comida, mas olhando melhor no fim daquela rua, ele se viu deitado num colo de banco de praça. Lendo alto um livro que não era seu. Bisbilhotando nos briques de domingo à procura de uma felicidade que cabia em seus bolsos. Magia.

Já tinha mais pessoas na rua quando ele ganhou a avenida. Era cedo, mas não era mais tão cedo. Por mais que caminhasse, parecia que seu travelling out insistia em lhe cutucar os sentidos. Sua manhã pós-natal era feita de insights e esquinas. Nem insights e nem esquinas são boas companhias no fim de ano. Na última por onde passou, viu alguém vestida de preto, ao lado de uma banca de revistas. No corredor de ônibus da avenida, alguns veículos cujo itinerário conhecia de cor já se projetavam. Via-os parando. Primeiro de perfil, depois de frente, esperando alguém descer. Esperava por algo/alguém? Chegou a parar por uns momentos. Gente feia descia dos ônibus. Dois, quatro, cinco desafortunados (as) que não conseguiram engrenar um recesso de fim de ano e tiveram que acordar cedo de seus sonhos. Nenhum dos cinco era. Ele não esperava que fosse.

Até ele dobrar na rua que queria, a avenida mantinha-se longa. Lembrava de ter parado algumas vezes em certo ponto de táxi, mas nunca pegou um táxi ali. Tarde da noite, sempre. Outro lugar de despedidas. Descobriu-se acostumado com isso: abanar e deixar seguir viagem. Desta vez, não teve abano. Só seguiu viagem. E como sempre e sempre esperado, voltaria sozinho para onde quer que fosse. O caminho continuaria longo, e não era mais tão cedo. Queria sorrir de desdém, mas atravessava a avenida com passos. Novamente pesados. A saudade muda não deixava que ele mostrasse os dentes. Saudade do que não.

Magia?

Como dizia o livro que não era dele:

“Achava que sim.”

“Que sim.”

“Sim.”

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

1º Teaser Trailer de "Os Batedores".

Agora é pra valer: vazou o primeiro teaser trailer do curta-metragem "Os Batedores", o mais novo projeto da Arquivo Morto em parceria com a Lumiere, onde contamos a história de Raul (Marco Soriano Jr.), um batedor de carteiras que vai ter de suar a camisa pra conseguir uma bolada até o fim do dia e pagar uma dívida pra um chefão do crime.

Para assistir, clique aqui.


Correria, situações bizarras, muita briga e pilantragem de primeira linha pintam a tela de "Os Batedores", que está em fase de captação de imagens e tem previsão de finalização para fevereiro de 2008. O filme é dirigido por Filipe Ferreira e roteirizado por este que vos escreve.

Tu encontras mais detalhes sobre o projeto nos textos anteriores deste blog (marcador "Os Batedores"), em textos que estão por vir, claro, bem como no blog Sobrevivendo ao Jogo e no blog da Arquivo Morto (links na coluna ao lado).

Fique de olho...

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Aos melhores amigos que alguém pode ter...

Este ano de 2007, diferente para alguns, bom para meia dúzia e terrível para outros (sou desta leva), está demorando para findar. Nesta reta final, alguns de vocês, meus melhores amigos, têm encontrado adversidades que fariam o Papa desacreditar em Deus.

É desestimulante quando noto que meus problemas, se comparados com os de vocês, é um simples pedaço de bolo. Desestimulante porque, se eu pudesse, abraçava-os todos para mim. Abriria a camisa e pintaria um alvo no peito com um letreiro dizendo “Acerta aqui, porra!”, unicamente para poder privar vocês, pessoas que amo e admiro, dessas mazelas que a vida tem lhes pregado.

Embora essas desventuras me façam pequeno, quero lhes dizer que estou aqui. Não importa se estão certos ou errados, doidos ou caretas, com enormes crises de melancolia ou não menores fases de alegria. Não importa. Estarei, hoje e para sempre, para sempre mesmo, do lado de vocês. E se não de maneira efetiva para sanar a situação, pelo menos fazendo o meu melhor, mesmo que, às vezes, o meu melhor não seja nada bonito de se ver.

Tenham força. Tenham fé. Este ano de tormento está acabando, e vamos superar ele e iniciar um novo juntos, com novas premissas, objetivos, e com a certeza de dias melhores.

Pois como diria Gandalf, “E a estrada em frente vai seguindo...”

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Prestação de Contas.

Este post serve para solucionar algumas coisas que ficaram pendentes nos textos anteriores. Antes tarde do que nunca, certo?

Alguém continua com a cabeça desprotegida no Parque da Redenção. Dia desses notei que o Diretor de Os Batedores ainda possui em sua pasta o “ofício” onde a Arquivo Morto se comprometeu a doar um capacete para o parque em troca da autorização de filmarmos a 1ª diária no local. Provavelmente ele deve estar guardando o treco para o dia em que faltar papel higiênico no set...

Faz uma semana que não vou à academia. Alie isso ao fato de que ainda não consegui emplacar a dieta que a nutricionista me passou e terás a visão do Édnei voltando à velha forma: preciso de grana, minha gente.

Falando em comida, finalmente consegui apreciar um dos manjares mais famosos da Cidade Baixa (vide foto). O Bell’s Burguer realmente é o lanche de melhor relação custo/benefício da noite, só não descobri ainda do que é feito aquele hambúrguer. Carne humana talvez?

A prova de matemática onde Johnny Cash me assombrou foi um sucesso. Como eu previa, o único problema que errei foi o que não fiz. A professora deve estar se perguntando até agora como diabos consegui encaixar fórmula SAP naquela questão de série de pagamentos e acertar. Não importa. Como diria Maquiavel: “Os fins justificam os meios, desde que os fins sejam justos”.

Matemática já matei, e aquela cadeira chata de Sistemática de Comércio Internacional abandonei no momento em que minha professora nos confidenciou o seguinte:

- Meu maior tesão é conseguir trazer mercadoria do exterior por um preço baixo.

Caralho. Como prosseguiria num curso de Administração com ênfase em Comercio Internacional com essa premissa? E sexo? Nem pensar? No dia seguinte pedi desligamento da matéria, e no dia posterior, reopção de curso para Administração Plena. Na sexta-feira passada, recebi a confirmação de que meu pedido foi aceito. Resta agora ver se consegui passar na G2 de Introdução à Economia (EAD) ou se perdi minha bolsa integral na PUCRS por ser ratão e dar atenção a quem não merecia um tostão no decorrer do curso...

Nem preciso dizer que, se isso acontecer, meto uma bala na cuca, né...

Quarta passada, no aniver de um amigo no Bell’s, fiquei sabendo que aquela matéria sobre a Redenção saiu mesmo no Correio do Povo, na segunda-feira. “Édnei Pedroso, roteirista de cinema, procura a tranqüilidade do parque para ficar longe do barulho do trânsito.” Estampando a matéria, uma foto minha sonolento, segurando um livro. Um dos meus amigos enumerou que faltou apenas uma página para figurar nas páginas policiais.

- Um dia tu chega lá, dizia o cara.

Neste sábado rolou a filmagem do curso Cinema e Música, ministrado no Santander Cultural. Minha produtora havia me pedido uma mão para registrar o evento e eu fui de bom grado, afinal, ela tem sido de grande valia no nosso projeto. O curso era ministrado através de duas palestras, onde o Goida e o André (não me perguntem os sobrenomes) falavam sobre a incursão da música no cinema e sobre a música no cinema contemporâneo. Bem interessante o assunto, permeado por alguns trechos de filmes que eram exibidos numa tela grande. A sala estava cheia e, curiosamente, a grande massa era composta por pessoas idosas, sendo que o único jovem que estava por lá (além de mim e da produtora) era o indivíduo que meu cumpadre e eu apelidamos de MacMannis (idéia do meu cumpadre, não me pergunte porquê, só sei que é engraçado). Engraçado também que cumprimentei o MacMannis e ele apertou minha mão tri a contragosto, como se eu tivesse lhe sedado e lhe arrancado um rim em alguma outra vida...

Como diria o Chapeleiro Louco, “Que mina mais rancorosa, caralho.”

O recesso está prestes a terminar. Se Deus quiser, voltamos a filmar Os Batedores neste findi. Estamos dependendo de algumas coisas, como as tratativas que ando tendo com alguns hospitais para nos cederem um quarto para o Flashback do Homem saindo do coma. Ainda há esperança de que consigamos em tempo esta autorização. Está andando também a manufatura dos releases, que nossa Assistente de Direção (e jornalista) está findando para atacarmos na mídia.

Poutaquepareeeeeeeeeeeeeeeeeu...

Acabo de ter uma notícia que promete abalar todas as estruturas. Algo que me deixou emocionado e contente. Uma nova perspectiva se abre para uma certa pessoa que amo.

Esta semana promete.

Caralho, este ano novo promete.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Boa noite, boa sorte.

Insólita, alcoólica, histórica. São algumas palavras que podem descrever minha noite de ontem, que começou logo com um convite de um amigo para uma festa e coquetel da revista Noize, no Cabaret do Beco.

Eu, como todo bom alienado, desconhecia a existência da revista. Ontem pude folhear e descobrir do que se trata: uma revista voltada para a música, com matérias, dicas, reportagens interessantes sobre costumes, artes e atualidades. Tudo super bem escrito e com excelente acabamento. O mais interessante é que o treco possui tiragem de 10 mil exemplares e é de grátis, distribuído em alguns picos famosos e universidades daqui. Este amigo, além de colunista, faz cobertura de shows e resenhas de CD’s para a revista.

Bem, estávamos ele, eu e outro amigo no Beco, já empinando alguma coisa cedida pelo coquetel (uma mistura de algum energético estranho com vodca, que ganhava uma coloração verde). Uma espécie de licor negro também estava sendo doado aos mais sortudos (não é o meu caso). O lance começou a bombar. A música e a descontração pegando. Então recebo um torpedo. Um torpedo da garota do Bell’s (aquela do outro post), perguntando quanto estava pra entrar no Beco e dizendo que talvez fosse, talvez não fosse pra lá. Já tinha perdido o colunista de vista e meu outro amigo já andava com o orçamento estourado e olhando o relógio:

- Tenho que trabalhar cedo amanhã. Dizia o fruta.

Quando fazemos uma última ronda e estamos subindo para ir embora, eis que este meu amigo esbarra com uma garota. Ela cochicha algo no ouvido dele. Ele amarra a cara e aponta pra mim: era a garota do Bell’s. Havia se separado do grupo de amigos, que preferiram ir para outro lugar da noite, e estava ali, sozinha.

Estava.

Me despedi dos meus amigos e ficamos, ela e eu, dançando despreocupados. Os sorrisos iluminados pela luz negra. Olhares. Beijos. Dança. Mais olhares. Mais beijos. Súbito, uma pergunta dela para uma das funcionárias do Beco:

- Ele pode tirar a camisa aqui?

O mais engraçado é que a funcionária respondeu:

- Só um pouquinho que vou verificar.

E ela FOI se informar. Claro que não deixaram, mas foi muito divertido. Quando as músicas começaram a ficar ruins (o DJ devia estar cansado), decidimos ir encontrar os amigos dela num estranho bar da Osvaldo Aranha. Um dos caras nos pegou de carro na frente do Beco e já constatei o estado do moço quando ele arrancou o carro com a porta aberta antes de eu entrar. Com um sotaque pra lá de carioca, o motora saiu cantando pneu e quase entrou embaixo de uma Kombi, que passeava inocente pela Av. Independência.

- Foi mal, bicho.

Chegamos no tal bar da Osvaldo (o qual não lembro do nome com clareza). Sinistro. Muito sinistro. Não havia letreiro, nem placa. A porta, feita de metal e vidro quebrado, mostrava apenas uma escada na penumbra lá dentro. Do lado de fora, um rastro de sangue fresco. Muito sangue. Muito fresco. Alguém tinha se fodido muito ali, e o pessoal lá em cima, bebendo e conversando alto enquanto riam. Logo o falatório cessou e as luzes se apagaram. Nós ficamos a ver navios, apenas esperando o pessoal sair do lugar. Não entramos. Não fomos convidados.

Jogamos sete pessoas dentro do carro e fomos todos para o fim de noite mais famoso da cidade: o Van Gogh. Para os que não conhecem o lugar, basta dizer que é o reduto da finaleira. Se o Bell’s é uma ótima opção para o fim de noite, o Van Gogh seria o fim de noite institucionalizado. Toda sorte de vagais, barangas, veteranos, mafiosos, boêmios, drogados e afins, enfeitam as mesas do lugar. Claro que há também os festeiros e os beberrões, classes as quais nosso grupo pertencia.

Momento Salvador Dali: quando fui ao banheiro tirar água do joelho e aproveitei pra tentar me arrumar no espelho. Um senhor, velha-guarda total, de camisa vermelha sangue e sapatos caramelos, pára de urinar, vira pra mim e diz:

- Tu não me leva a mal meu jovem, mas tu tá bonito pacaralho.

- Só tentando sobreviver, amigo.

Na mesa, o papo corria solto e os assuntos variavam de bombas caseiras (e fáceis de fazer) ao preço do pacote de maconha. Quando um dos garçons voltou para nos atender, eis que a garota do Bell’s lhe fez a pergunta que não queria calar:

- Ele pode tirar a camisa aqui?

O garçom disse algo sobre ser parceiro se o pedido fosse para uma mulher e se retirou...

O dia clareou e a fome bateu. Vale lembrar que o Van Gogh só serve algo da cozinha até as 6 da manhã e já era 7. A garota deu a idéia de irmos para a Lancheria do Parque. Fomos somente os dois. Pedimos cachorros-quentes e começamos a conversar sobre as coisas da vida, do universo e tudo o mais. Curioso como ela (uma mulher tão mais jovem) e eu temos inúmeras coisas em comum: alguns pontos de vista, definições, gostos...enfim...foi tudo muito estranho e bom, até bater 8 da manhã e eu ter de me mandar para o estágio, sem ter dormido.

Hoje o dia foi de cochilos e torpedos.

***

Dica de lugar:

Van Gogh: Rua da República, 14 – Porto Alegre

O fim de noite mais famoso de Porto Alegre. Lá ninguém paga mico. Ninguém vai te olhar feio por não gostar da tua roupa e a sopa de capelletti é a mais confirmada para curar ressaca. É o lugar onde tu sempre entra de noite e sai de dia. Incondicional.

From Dusk Till Down!

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Nothing to film in this week, then...

...completo minha vida com insigts e coisinhas bizarras que sempre me rondam, enquanto a Arquivo Morto não retoma suas atividades.

Começando com o convite de um conhecido para uma boca livre num conceituado colégio particular do Centro de Poa.

- Paguei um galeto a mais, mas a patroa não vai poder ir. Tais afim?

- Pergunta se macaco quer banana, meu filho.

Fui de madrasta, mas o rango prometia e era free, então tava valendo. Antes do jantar, tivemos de agüentar a criançada da primeira série numa apresentação de dança de diversas regiões do Brasil. O auge foi uma cópia mirim de Callipso, onde uma menininha de 6 anos requebrava o pequeno quadril e um guri tocava empolgado uma guitarrinha de mentira. Na platéia, os pais embasbacados filmavam tudo e assobiavam, enquanto um gordinho fazia a dança do robô no meio dos pseudonordestinos. Chega a hora do rango e o pessoal, gente chique que paga um precinho de facul por mês para manterem seus filhos ali, dirigiu-se para a quadra de futsal, onde haviam montado as mesas. Na mesa grande, nada de rango. Tinha algo errado. Começaram então a distribuir senhas para um sorteio de brindes. Era um estratagema para tentar fazer hora até os assadores conseguirem dar conta da demanda, pois os galetos ainda estavam vivos. Um Papai Noel magro e com barba falsa chegou e formou-se uma fila gigante para pegar algum presente. As crianças frustravam-se ao constatarem que no saco do bom velhinho só tinha balas de R$ 1,99. Havia gente pequena chorando, traumatizada, enquanto começava o tal sorteio de brindes. Todos na minha mesa foram sorteados. Na verdade, haviam 250 senhas e 249 brindes. Que dúvida: meu 21 foi o único a ver navios. Dane-se, a fome apertava e eu só queria saber de forrar a pança. E não era só eu. Quando desceram as travessas de galeto, aquelas pessoas chiques das quais falei acima, levantaram-se e correram, tal qual os orcs de Senhor dos Anéis nas cenas de batalha, em direção à mesa com seus pratos na mão. Era a luta pela sobrevivência. Cotoveladas, olhares psicóticos, ameaças, empurrões, valia de tudo para angariar uma asinha ou um pedaço de peito. Meu conhecido mandou o filho ir com um prato e furar a fila, como um teleguiado. O piá voltou com duas folhas de alface e um olho roxo. Alguns ignoravam e pegavam 6 pedaços, estimulando a violência e a boca suja. Um sujeito de uns dois metros me ameaçou. Olhei feio pra ele. No meu lado, duas tias gordas trocavam gentilezas na disputa por uma coxinha. Compostura zero. Saí de lá perto das 10 da noite, com um pedaço de salsichão dentro de um pão, comendo pelas ruas escuras do Centro. Punk.

Na noite seguinte, rolou a festa no ex-apê da Diretora de Arte de Os Batedores e seu ex-colega de apê. Chamaram uma trupe e várias caixas de isopor para frisar a ceva. Demorou um pouco pra engrenar, mas valeu a pena, pois o papo foi descontraído e constatamos mais uma vez o quanto Porto Alegre é um ovo. De quebra, me indicaram onde achar um dos comerciais da BMW que todo mundo me dizia existir e eu nunca tinha visto, numa campanha publicitária milionária na qual a empresa contratou alguns dos diretores mais fodões de Hollywood da época para fazerem curtas onde os BMs fossem as estrelas. Para assistir ao curta do Guy Ritchie no YT, clique aqui.

Travesseiro até às 13h de domingo e lá fui eu pra Redenção, curtir uma brisa. Curioso como o parque estava vazio, a não ser pelos emos que passavam enquanto jogavam suas franjas de um lado para o outro e suavam dentro de suas roupas pretas. É certo que a burguesia usou o findi para ir pra praia, aproveitar o calor. Estendi minha toalha de poker na grama, peguei um livro de teoria e prática do roteiro (um roteirista, assim como qualquer outro profissional, tem que se reciclar sempre) e, depois de três páginas transcritas, peguei no sono. Acordei duas horas depois com uma repórter do Correio do Povo me cutucando, querendo me entrevistar. Atrás dela, um fotógrafo com o polegar pra cima sinalizava que já tinha uma foto minha...dormindo. Sensacional.

Fecho a noite de domingo com uma bebedeira insólita com meu produtor de elenco, minha ex-figurinista (que trabalhou comigo em três curtas) e um amigo nosso, que faz elétrica e assistência de câmera. No caminho para outro boteco, colhemos outra lenda viva (conhecido da figurinista) para nos acompanhar. O moço da elétrica apertava a mão do sujeito emocionado. Mal sabia ele que estávamos angariando um problema. O cara podia ser lenda, mas era uma lenda que falava alto pacaralho e que cuspia quando pronunciava os “efes”, os “erres”, os “pês”...na verdade ele cuspia o tempo todo, e no chivito do moço da elétrica, que já não estava mais tão emocionado com o encontro. Um copo de ceva derrubado e uma ótima história de mendigo depois, e conseguimos, a muito custo, direcionar a figura pra casa. Que maravilha.

A semana agora promete: releases pra mandar pra imprensa, locações pra conseguir, cronograma pra ajeitar à vontade de todos os envolvidos e um Making Of , no próximo sábado, de algo que não sei se é um documentário ou se é um debate sobre cinema.

Calma, Édnei. A semana recém começou...

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Zine, Matemática, Bell's e Johnny Cash...

Essas coisas sempre acontecem numa pausa de produção: enquanto enfrentamos um recesso de duas semanas sem filmagem, a vida segue com suas pérolas e algumas promessas. Quando se trata da minha vida então...

Numa dessas madrugadas, minha produtora e eu estávamos num papo descontraído no MSN, colocando algumas coisas em dia sobre o curta Os Batedores e jogando conversa fora. Alguns minutos sem trocar palavras e ela volta com a seguinte frase:

- Fui no banheiro cagar e tive uma idéia.

Uma dama, sem dúvida. A idéia, que poderia ser uma merda, acabou chamando meu cumpadre (que teclava com sua amada, da casa dele, por MSN) pra conversa: fazer uma zine sobre cinema independente em Porto Alegre, com o selo da Arquivo Morto. Opa, como assim? Isso mesmo. Começar com algo pequeno e de tiragem limitada, bem boca de rua mesmo, mas com material interessante sobre esses realizadores de cinema de guerrilha e seus projetos. Seria um meio de reunir esse núcleo cinematográfico (aproveitando que o cinema daqui é um ovo) e de divulgar o nosso selo. O que no começo soou como algo estranho pra mim, logo fez brilhar os olhos do meu cumpadre, que dizia “conta mais” pra moça. No fim, acabei gostando um bocado da idéia e o papo rendeu. Com água na boca, ficamos de verificar isso assim que terminássemos o curta.

Ainda na madruga e sem sono, passei um bom tempo trocando links de vídeos interessantes do You Tube com outro amigo meu. Ele havia me dito certa vez que não assiste mais TV: quando quer se divertir, ele digita “idiota” no search do YT e passa a noite toda rindo. Pelo menos ele dá um tempo na masturbação. Algumas dessas maravilhas que trocamos podem ser conferidas nos links abaixo:

PULP FICTION IN TIPOGRAPHY ->
O diálogo mais clássico do cinema nos últimos 20 anos mostrado de um jeito original e irreverente. Assista com o som alto.

ROCKY EM 5 SEGUNDOS -> A saga do boxeador Nº 1 da Filadélfia contada em 5 segundos. “Rushpatoish!”

O PAI DAS PUTA -> Vídeo comentado à exaustão por um certo bixcoito de Sta. Maria. Dublagem de Hermes e Renato para algum filme chinês da década de 70. “Pááára de botar pilha.”

300 UNITED -> Crossover dos filmes “300” e “United 93”, onde os espartanos combatem terroristas num avião. “Madness? This is United!”

Um sono num sofá apertado depois...

Meu pescoço era um “s” e o sol batia forte na minha cara de manhã cedo. Seria mais um dia de correria rotineira e uma prova de Matemática Financeira me esperando no fim da trilha. Que diabos. E eu lá sei algo sobre análise de investimentos? Como de praxe, não tive tempo de estudar e eu precisava tirar 7 pra passar na risca. Minha sorte é que tenho uma relação estranha com essa matéria: eu sempre acerto tudo, errando somente o que eu não fiz. E sempre tem alguma que eu não faço. Nada de ficar quebrando a cuca para achar uma saída. Sou um sujeito prático. Se não sei, rabisco um “x” bem grande na folha e era isso. Quando começou a prova, matei três das cinco questões no ato. Uma eu deixei, afinal, não sei fazer análise de investimentos, e a última tava foda, mas eu tinha a impressão de que poderia resolvê-la. Quando estava quase chegando num entendimento com o problema, eis que a mente se desvencilha dos números e me vejo viajando em uma música da qual eu sempre gostei e cujo clip dela encontrei no YT, pouco depois de dar boa noite ao meu amigo na noite anterior. Segue a letra:

Hurt (Johnny Cash)

I hurt myself today

To see if I still feel
I focus on the pain
The only thing that's real
The needle tears a hole
The old familiar sting
Try to kill it all away
But I remember everything

What have I become
My sweetest friend
Everyone I know goes away
In the end
And you could have it all
My empire of dirt
I will let you down
I will make you hurt

I wear this crown of thorns
Upon my liar's chair
Full of broken thoughts
I cannot repair
Beneath the stains of time
The feelings disappear
You are someone else
I am still right here

What have I become
My sweetest friend
Everyone I know goes away
In the end
And you could have it all
My empire of dirt
I will let you down
I will make you hurt

If I could start again
A million miles away
I would keep myself
I would find a way

A madrugada (horário em que reanimei essa música na minha vida) nos convida a sermos melancólicos, mas é assustador pacaralho quando uma música tão poderosa e desoladora te descasca como uma laranja. Como se Reznor a tivesse escrito sob medida. Uma Centúria. Uma premonição do que viria ser uma descrição exata do que andou se passando por aqui. Mas que inferno. Eu sempre gostei de Johnny Cash, mas por que ele resolveu cantar nos meus ouvidos justo no meio de uma prova de Matemática?

É claro que eu sei, e é claro que a parte que diz “try to kill it all away, but I remember everything” se encaixa como uma luva (como todo o resto da música), mas faz um tempo que decidi que faço o que for preciso pra fazer as coisas acontecerem, não importando os meios ou se vou me foder depois, desde que a missão seja concluída, tal qual Jack Bauer. Pra não ser um mau caráter total com esse estilo de vida, basta tentar ser sábio e escolher direito as missões. Olhei pra última questão, que eu sabia que era pra ser resolvida por série de pagamentos, e matei ela com fórmulas de outra matéria. Dane-se. Meu objetivo era descobrir o valor de um parcelamento e eu descobri.

Saí da PUC corrido. Eu precisava de uma cerveja. Liguei pro amigo dos vídeos, que estava com outro faixa nosso, e fomos pro Bell’s, um barzinho super conhecido da Cidade Baixa e também o maior agrupamento de figurantes de curtas de Porto Alegre. O Bell’s é um lugar encantado onde tu encontra de tudo: ogros, lolitas, dublês de Lenny Kravitz, carecas baixinhos que pensam ser Elvis, entre outras esquisitices. Embora a ceva seja gelada e baratinha, não parece ser o tipo de lugar onde tu seria puxado por uma gata para dentro do banheiro das mulheres para conversar com ela mais de perto, parece? Bem, se essa moça tão gracinha ler isso, fique sabendo que meu All Star cano longo é mais clássico e que minha camiseta é lilás, e não rosa. Ah, e também adorei te conhecer.=)

No mais, meus amigos e eu findamos a noite com muita bebida e uma premissa: um deles está saindo do apê onde morava e quer dar uma festa neste sábado para destruir com a estrutura do lugar e a paz dos ex-vizinhos. Segundo informes, metade de Poa vai estar lá. A outra metade vai só tentar entrar.

Eu sou da metade que vai estar lá, e tu?

***

Dica de lugar:

Bell’s Bar: Rua José do Patrocínio, 290 – Porto Alegre

Quer ficar de pé, quase no meio da rua, com um monte de gente que está na mesma situação e dar risada disso enquanto enche a cara com pouca grana? Este é o Bell’s. Um buraco negro inexplicável onde todo mundo se acha (as vezes tu tens de cruzar com criaturas desagradáveis, mas isso é obra da democracia e não do lugar, fazer o quê…). A iguaria culinária do treco é o Bell’s Burguer, que eu cometi o sacrilégio de ainda não ter provado. Dizem que é o lanche de dois reais mais responsa da Cidade de Deus.

De segunda a sábado, o Bell’s é uma ótima alternativa para fim de noite…ou início de dia.

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

8 e 80!

Chega o terceiro dia de filmagem do curta Os Batedores. Desta vez, com algumas peculiaridades que vale a pena enumerar: devido ao espaço apertado do set, apenas um representante de cada núcleo foi requisitado. Tínhamos também um prazo para término de gravação, pois um dos atores tinha compromisso para as 19h (ou seja, não poderíamos permitir qualquer atraso no cronograma). O risco de chuva era iminente e ameaçava comprometer o áudio. E a pior de todas: o set era no apê onde eu moro, e este apê não é meu.

Eu poderia prosseguir com o texto colocando o punhado de problemas que tivemos de enfrentar logo de cara e dramatizar a coisa (tal qual a cadeira de rodas que não fechava e tivemos de transportar dentro do Corsa do Filipe Ferreira – comigo embaixo dela – ou o atropelamento do nosso figurinista, cuja notícia eu recebi no início da tarde e tive de guardá-la para não “contaminar” o set), mas a verdade é que esta foi uma diária muito diferente da de domingo passado.

Se domingo passado foi o “80”, estressante, fatídico, alucinado e demolidor, este sábado foi o “8”: sossegado, simples, rápido e mortal. Embora tenhamos iniciado com uma hora de atraso no cronograma (pra não perder o hábito), terminamos tudo com uma hora de folga. Muito disso deveu-se ao feeling dos atores Artur José Pinto e Marco Soriano Jr. Seus diálogos soavam como uma música, ritmado, de tempo perfeito, como se os dois atuassem juntos há anos. Era bate-e-volta, lindo de se ver. Em algumas conversas que tive depois das filmagens, fiz a seguinte analogia: enquanto o França é um ator que abre um leque de um zilhão de possibilidades para o Diretor, o tipo de soldado que usa uma metranca giratória que acaba com uma floresta inteira, o Artur é o legítimo sniper: vai, mira, mata e sai de cena. Com texto na ponta da língua e uma habilidade de fazer o Odilon melhor do que eu imaginava, o Artur legitimou o papel de tal forma que era complicado de eu segurar o riso toda vez que ele acionava o gravador em cena enquanto via um programa de TV. Para alguém que estava segurando o boom (o König não havia dado o ar de sua graça nesta diária, então, sobrou pra mim e pro Álvaro revezarmos), isso era complicado.

Coloquemos aí também a presença sempre carismática do Eduardo Ribeiro, que rouba a cena na pele de Tosco, e teremos a diária mais sossegada e produtiva da qual se teve notícias. Não que as anteriores não tenham sido produtivas: todas elas renderam imagens maravilhosas. Mas a relação produção/stress, nessa filmagem de sábado, chegou num nível de paz inacreditável, tanto é que no nosso happy-hour no Cavanhas (que cedeu R$ 150,00 de alimentação para a produção do curta), eu só fazia sinal de “não” com a cabeça e dizia para mim mesmo: “não acredito que foi tão fácil”. O desfalque na equipe não comprometeu. Terminamos tudo com tempo de sobra. A chuva não atrapalhou o áudio, e o dono do apê onde moro foi dos mais cortês e prestativo.

Bem que as próximas filmagens poderiam ser assim.

No próximo findi, teremos recesso para o pessoal da equipe viver um pouco, resolver algumas pendências de produção e ajeitarmos algumas coisinhas no roteiro.

P.S: O Duca, figurinista, já se recuperou e passa bem.

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Pot Pourri.

Depois deste domingo de combate, a semana tem me rendido toda sorte de momentos. Como um caleidoscópio, os acontecimentos me rodeiam e misturam sentimentos hilários e de frustração, de triunfo e de consternação, de expectativa e de irritação.

Comecemos com uma visita, na terça-feira, a um amigo meu que trabalha em uma videolocadora no Bom Fim. O conheci há cinco anos, lá mesmo, quando fui procurar emprego achando que a vida era bela para um cinéfilo como eu, se conseguisse trampar numa locadora. Lembro que a primeira coisa que este amigo me disse quando eu estava na fila foi:

- Só toma cuidado com as piadas de judeus.

Na hora não me dei conta, até que fui aprovado e comecei a ver como as coisas funcionavam no lugar: pagamento por hora (a soma no fim do mês era pouco menos que uma mixaria), reuniões semanais expositivas e uma política de “não-interação” entre os colegas de trabalho que faria qualquer psicólogo babar em ir fazer um trabalho de antropologia por lá. Durei dois meses no emprego, tempo suficiente pra me divertir no vestuário do lugar com uma das funcionárias e casar com ela. Este amigo está lá até hoje. Haja fibra.

Enquanto falava com ele no balcão, minha ex-chefe abriu a porta e me intimou:

- Foi tu que andou falando mal de mim no Orkut?

- Bah, Fulana. Falei mal de tanta gente no Orkut que eu nem me lembro. Mas pode ser.

Então ela começou um bonito discurso sobre o sentimento das pessoas e o quanto elas poderiam se magoar com certas coisas que elas lêem por aí. Retruquei falando algo sobre a relatividade da mágoa, formas de machucar pessoas realmente efetivas e terminei dando um conselho de amigo pra vaca:

- Releva, Fulana. Se tu levar a sério tudo que falam mal de ti no Orkut, tu enlouquece.

Durante o embate, meu amigo se encolhia atrás do balcão. Depois deste domingo, aquilo pra mim foi uma terapia.

Falando em Orkut e em coisas que podem magoar pessoas, é impressionante como certos cadáveres não se animam em ficar na cova. Tentam desesperadamente colocar a cabeça para fora do buraco só pra ver se levam um tiro nela. Mas é uma pena, pois meu rifle está apontado em outra direção e eu não atiro em deficientes (ou incapazes, ou deficientes incapazes). Disso eu só posso dar risada.

Nesta semana também, tive meu primeiro contato com uma nutricionista (pelo menos profissionalmente falando). Acabei descobrindo que estou pesando menos (quando, na verdade, estou tentando ganhar peso) e que minha altura é menor do que eu pensava. Descobri também que a profissão de nutricionista é bem menos obsoleta do que eu supunha. Ou isso, ou peguei uma das boas. Planilhas, planos de dietas direcionados, substituições e complementos alimentares. Uma análise detalhada e uma rotina alimentar pra seguir. A consulta durou quase duas horas. Saí de lá com seis folhas A4 só de recomendações.

Momento impagável 1: ela quebrando a cabeça para tentar driblar o meu “supermetabolismo”.
Momento impagável 2: ela me perguntando quais eram meus horários de alimentação e eu dando uma sonora gargalhada.

Curioso também foi o sumiço da nossa cenógrafa, que saiu de uma festa no domingo e não foi mais vista. É claro que mil e uma atrocidades passaram pelas nossas cabeças. O primeiro procedimento é ligar para os contatos. Depois se liga para os hospitais, polícia e necrotérios. O negócio se espalhou como um rastilho de pólvora, e ainda hoje me perguntaram se já tinham encontrado a moça. Sim, encontraram. Ninguém pensou em procurá-la na facul, enfiada dentro de um livro enquanto fazia um trabalho de fim de semestre. Tsc. Tsc. Impressionante como um desaparecimento em um curto espaço de tempo alardeia tanta gente hoje em dia.

No mais, alguns papos amigáveis com o Diretor do curta Os Batedores, que me passou suas considerações e alguns momentos memoráveis deste domingo, na visão dele: coisas que, na hora, nos apavorou, mas depois a gente sempre ri de tudo isso. A cara da maquiadora quando ela viu a luminária de gesso caindo. O grito estilo “Tom e Jerry” do figurinista quando prendeu os dedos na cadeira. A expressão no rosto do ator, câmera em close-up, quando se deu conta de que nocauteou de verdade seu antagonista em cena (e a voz do Diretor atrás, no automático, dando instruções pra começar tudo de novo).

Como diria Forrest Gump: merdas acontecem. Quando não são trágicas, temos mais é que rir de tudo isso.

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Um Minuto de Silêncio.

Ontem recebi uma notícia que me estragou: o pai de um grande amigo meu faleceu. Numa dessas coisas que só acontecem em filmes, um outro amigo meu ligou enganado para a noiva deste amigo, descobrindo o fato por acaso e acionando os outros amigos mais chegados. Quando eu soube, voei para o Crematório Municipal e fui dar uma força para ele. Curioso que, chegando lá, dou de cara com meus ex-chefes (este amigo cujo pai faleceu trabalhava comigo no meu emprego anterior). Vi nos olhos deles que eles não ficaram muito felizes em me ver, mas cumprimentei cada um como manda o roteiro. Da minha parte, senti uma leve pontada de satisfação em ver que este amigo, que estava passando por uma hora tão difícil, tem todo esse apreço dos diretores da empresa. O momento era de tristeza, mas isso foi algo bom. Outros amigos nossos chegaram para apoiá-lo também e acabamos em roda, relembrando, como sempre, os velhos tempos. Quando se vê um amigo num momento assim, a gente quer acolher, abraçar, proteger. Mas admito que nós, os amigos, estávamos nos sentindo impotentes, pois sabíamos que ele ia passar por dias difíceis.

Sobre o pai deste amigo eu posso dizer que era uma pessoa das mais únicas: dono de uma determinação impossível e de um bom humor impagável. Sempre me tratou super bem e já foi, inclusive, protagonista de algumas histórias do extinto G6. Para atestar o carisma dele, basta dizer que sua morte arrastou uma penca de gente, de Rosário do Sul até Floripa. Todos eles com olhos marejados.

Deixo aqui registrado todo o meu apoio, a este grande amigo e a família, neste momento difícil.

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Turbulência!

Agora entendo um pouquinho do que Jack Bauer passa quando algum roteirista amalucado resolve que seria engraçado colocar um agente da CTU no seu pior dia. Não me entendam mal. Não foi um dia ruim. Mas foi um dia de provações, insólito, cansativo, enfim, um dia muito, muito difícil. Malditos roteiristas.

Segue a Segunda Diária de filmagens do curta Os Batedores, neste domingo passado...

Começamos pelo trivial: Filipe Ferreira, Soriano e eu indo de manhã até Canoas para buscar nada menos que algumas genitálias decepadas na casa do Ghiorzi. Como um passeio no parque, o nosso mestre do FX virava pra trás e dizia “Filha, fica aí que agora o papai tá trabalhando” enquanto nos mostrava os pênis que havia tecido em latex.

- Peguei o modelo num site pornô.

Infelizmente, o Ghiorzi tinha compromisso de tarde e não pôde nos acompanhar nas filmagens de logo mais.

Primeira baixa.

Chegando na Lumiere, constatamos que o Padilha, eletricista e pau-pra-toda-obra, iria nos acompanhar na empreitada do dia: a cena em que nosso herói Raul (Marco Soriano Jr.) vai pedir dinheiro emprestado ao Marcião (João França). A equipe técnica voltaria a ter Márcio e König, que guardavam os equipamentos na Kombi. Fernandinho, assistente de câmera que estava confirmado, ligou para o Ferreira desmarcando, pois tinha que socorrer o pai que havia pifado o carro na rodovia.

Segunda baixa.

Enquanto embarcávamos na kombi e seguíamos para a locação, meu celular parecia ter Síndrome de Tourette. Tocava. Tocava. Tocava sem parar.

“Que horas na estética?” Dizia a Gabi.
“Já estamos aqui na locação.” Dizia a Bruna.
“Tem que buscar a mesa.” Dizia a Cris.
“Vão sem mim.Vou de bus.” Dizia o Jé.
“Que horas vai ser a cena com os figurantes?” Dizia o Jack.
“Que horas vocês passam aqui?” Dizia a Juliana.
“Nós vamos parar pra comer alguma coisa?” Dizia o König, mas este não era por celular.

Neste meio tempo, eu ligava e ligava e ligava para sanar o meu pior problema naquele momento: o desaparecimento do instrutor de academia que faria uma ponta como o segurança do Marcião para nós. Nada do indivíduo. Celular desligado.

A kombi chega no Beco...

Sim, o tão comentado Cabaret do Beco seria o lar do Marcião. Carlos, um dos donos do lugar, nos cedeu gentilmente seu domingo de descanso e o ponto para que executássemos esta cena com o clima opressivo que precisávamos. De uma hospitalidade bacana demais, o anfitrião nos mostrava os locais onde poderíamos fazer platôs, colocar luzes e modificar (ou não) para montar a jogada. O restante da equipe começou a chegar e logo a Cíntia já estava no comando provisório. O Ferreira corria para pegar o França e levá-lo na estética, a Bruna seguia na missão ingrata de tentar achar o segurança na casa dele e trazê-lo a força (se alguém poderia fazer isso, esse alguém é ela), e eu corria com o Cristian e o Padilha para pegar os objetos e móveis de cena. Pouco antes de a Bruna ir à cata do grandalhão, o Marco veio correndo e pediu encarecidamente para sair junto. Com olhos cheios de água e engolindo em seco, o matador de 5-15 estava, como diria o Capitão Nascimento, com medinho de ficar dentro do set, pois o lugar, segundo ele, era muito pesado. Sim, ele é um bixcoito.

Problemas de sexualidade à parte. Durante a busca pelos objetos, angariamos Cris e Cainã (não, não é uma dupla sertaneja) e os Irmãos Zandoná (também não é dupla sertaneja, mas passam perto). No trajeto, Padilha me confidenciou que só poderia ficar conosco até às 16h, pois teria de ir buscar a filha depois.

Terceira baixa.

Após desovar esse pessoal no set, constato que a Bruna não conseguiu encontrar o maldito segurança em casa.

Quarta baixa.

- Édnei, posso chamar outro cara pra fazer o segurança. Dizia o Cristian.

- Quem?

- Ele é grande, mas tem um problema.

- Que problema?

- Ele é meigo.

- Hã?

Tratava-se do Carlos Thomaz. Cinéfilo do gore e amigo de longa data do Cristian. Sim, o cara era grande e tinha um talento dramático diferenciado (como ele mesmo gosta de enumerar), mas servia, afinal, um cara do tamanho que esta cena exigia não seria fácil de encontrar.

Depois de Bruna, Duca e Pomba (ou seria o Cristian?) arrastarem o Thomaz para o meio do vendaval, Bruna e eu seguimos para a estética, onde o João França estava sendo parafernalhado para a cena. Aqui saliento a disposição e talento das meninas da Flach, Ivete e Verinha, que conseguiram deixar o França bonito para o papel de Marcião, o emblemático agiota que vai dar dor de cabeça ao Raul. Momento kodak: durante uma fita de Making Of, gravado pela Gabi, o França me abraça e diz “O criador e a criatura”, com aquela espirituosodade toda inerente a ele.

Tudo pronto e um irreconhecível França depois, fomos para o set, que já estava praticamente montado. Chego lá e descubro que um acidente de percurso adulterou a decoração do local e os ânimos da galera. E lá vai o Édnei falar com o Carlos para solucionar o problema. Ouço alguém no canto dizer algo parecido com “o cara é o Super-Homem”. Não sei se era pra mim, mas com certeza falar com o dono da locação e garantir a integridade da mesma era mais um leão que eu tive de matar. Com aquele atraso típico de quase uma hora no cronograma, começamos os últimos ensaios. Atores já figurinados e maquiados. Julia batendo fotos afu. Luzes prontas. Cenografia pronta. Numa sala escura com ursos de pelúcia pendurados no teto, Filipe fazia sua última reunião com o Marcelo e a Cíntia, antes do batente.

Luz, câmera, AÇÃO!

Ligeiro (Jéferson Rachewsky) encarava o segurança (Carlos Thomaz) de Marcião enquanto Raul tentava extorquir algum do agiota. De novo. De novo. De novo. Agora outro plano. As tábuas rangiam. O calor era descontado nos copos de água (cedidos para o curta pela Águas Mineral Sarandi). Minha cabeça explodia enquanto eu tentava tirar uma soneca escorado na parede, num dos poucos momentos em que tive descanso neste dia. Acordei. Voltamos ao problema da alimentação. Logo chegamos à conclusão de que o lance era pizza novamente. Desta vez tive de negociar com uma pizzaria para me darem uma pizza a mais pelas cinco pizzas gigantes que estávamos comprando. Consegui uma pizza doce só jogando charme em cima da Karine, a moça da tele. Ela devia estar numa maré ruim.

Numa daquelas casualidades decorrentes de cronogramas atrasados, nossos figurantes começaram a chegar para a cena de Flashback junto com as pizzas. Como dizer pra essa turma, que veio participar na parceria e no amor, pra esperarem um pouquinho que a equipe tinha que comer um rango que já estava contado? Situação chata, claro. E lá vai o Édnei conversar com eles. Entenderam tudo de boa, alguns foram dar uma banda, outros ficaram e conversaram com o Jack, que estava fazendo a sala, outros ainda compraram cervejas...enfim, deu tudo certo. Faltava apenas o Devedor chegar.

Hã? Como assim? Isso mesmo. Graças a outro contratempo, Paulo Carvalho, colaborador-mor da Arquivo Morto que faria o papel de Devedor, só poderia chegar um pouco mais tarde. E lá vai mais algum atraso no cronograma. Quando essa figura chegou, foi aquela correria. Figurino, lustre na careca, e vamos nós de novo filmar. Desta vez, era a cena do Flashback, que mostrava o que acontece quando alguém deve pro Marcião e não paga. Lá atrás, os figurantes dançavam empolgados enquanto o Álvaro mexia um canhão de luz. Com um travelling, uma incorporação completa do França, e alguma paciência, conseguimos capturar a aura ameaçadora e mortal do agiota, que olhava com ódio enquanto o Devedor mostrava a foto da família para tentar explicar que estava com problemas financeiros. Novamente tivemos outro contratempo, enumerando mais uma baixa (perdi as contas de quantas pessoas foram se desligando da equipe neste dia). Embora já tivéssemos a cena, esse contratempo em especial me deixou no chão.

Eram 11 e picos da noite quando, finalmente, encerramos os trabalhos. Liberamos as pessoas de volta à suas vidas e fomos até a Lumiere descarregar as coisas. Nossos pontos altos foram as caras de satisfação do pessoal do back vendo o resultado dos nossos esforços no pequeno monitor: o Jé olhava pra mim e dizia “Do caralho!”. O Cristian olhava pra mim e dizia “Do caralho!”. As meninas da Flack sorriam orgulhosas com o bom trabalho. Era visível a satisfação geral. Alguma palhinha do treco vocês podem conferir na foto.

Este domingo de filmagem foi o meu domingo mais turbulento de set. Eu só queria que o dia acabasse. Deitei por volta das 01:30 da manhã e estava tremendo. Não consegui dormir. Foi um suplício pra levantar da cama na manhã de segunda-feira. Embora todo mundo tenha se esforçado e dado o máximo para fazer da filmagem de domingo um sucesso, espero, sinceramente, que os outros colegas de equipe tenham curtido mais do que eu... ou se estressado menos.

São as peculiaridades de se fazer cinema de guerrilha. O que importa é que “temos”.

Sábado que vem tem mais.

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Promo 11/11 - OS BATEDORES


Segue o Promo das filmagens de Os Batedores, neste domingo passado. Na apresentação dos personagens, Marco Soriano Jr (Raul), Cláudio Benevenga (Arauto) e Eduardo Ribeiro (Tosco) mostram suas latas na mais nova produção da Arquivo Morto.

Muita correria, apuros e uma bolsa cheia de dinheiro ainda estão por vir. Fiquem ligados.

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Começa o Espetáculo.

E chegou o domingo. Após uma noite inteira de chuva, bebidas e preces, amanhece na capital gaúcha com um inacreditável céu aberto. As pessoas me ligavam às 06:40h da manhã para perguntarem se estavam sonhando ou se o tempo realmente tinha melhorado. E tinha. Há de se fazer um parênteses aqui: embora seja regra de ouro deste blog não citar nomes, sou inclinado, neste tópico e talvez em alguns próximos, a burlar essa regra para enumerar os acontecimentos fantásticos que aconteceram e, principalmente, os que estão por vir. Desculpem, mas às vezes eu sou volúvel.

1º dia de filmagens de Os Batedores. A brisa outonal nos chicoteava enquanto abancávamos o equipamento de filmagem na kombi, às 7 da matina. Eu estava especialmente pregado, pois tinha passado a noite toda no aniversário do Cabaret do Beco (lugar que já citei em outro post) e saído de lá às 05:40h. Mas quando o assunto é cinema, algo toma conta de mim e eu viro o coelho da Duracell.

Redenção. Oito e trinta. Quase toda a equipe já estava lá, inclusive meu pai, que veio de Guaíba só pra dar um toque especial e abrir com chave de ouro o nosso curta, na primeira cena. A correria começou lá pelas 9 e tantas, pouco depois da Cláudia, produtora, negociar uma autorização com a administração do parque em troca de um capacete de R$200,00 (?), que a Arquivo Morto, em tese, teria de pagar alguns dias depois. Com certeza algum afegão vai esperar um bocado pra proteger a cuca por lá.

Platô montado, sol batendo na testa, e o grito de “Valendo!” do Filipe Ferreira. No banco de praça, a cena era Raul, o batedor de carteiras mais safo da parada, afastando um leitor enxerido (meu pai) com um olhar torto. Um crossover dos mais improváveis estava acontecendo ali: Marco Soriano Jr., o ator-ícone da Arquivo Morto, e Euclides Rodrigues, o lendário Kid, pai deste que vos escreve, trocando felpas num banco de praça. Obviamente que isso era um sinal de que a coisa ia ser pra lá de especial. Não tenham a menor dúvida, foi. A equipe se puxava fazendo contenção (o Henrique era tão educado na contenção, que fazia os transeuntes agradecerem por terem de desviar de seu caminho), enquanto éramos protegidos por um brigadiano de bicicleta chamado “Bono”. Não demorou muito para que o pessoal da Parada Gay (sim, era dia de Parada Gay) começasse a fazer zoeira do outro lado do parque e comprometer o áudio com caixas de som potentes e Village People. Guerreiro, König se virava como podia para puxar um bom som no seu boom, enquanto meu pai já saía de cena e cedia seu espaço em tela para Cláudio Benevenga, envergando elegantemente um terno risca de giz na pele de Arauto, o capanga robótico do vilão do curta. Enquanto isso tudo acontecia, Julia fazia os registros com sua máquina frenética (saldo de quase 400 stills).

Enquanto Raul passava apuros sendo extorquido, nossas produtoras se puxavam para sanar pequenos problemas e um problemão: a alimentação da turma. Numa solução ousada e dispendiosa, mas inteligente, a Bruna começou a assar pizzas no platô e programar um almoço por turnos para os guerreiros, que vinham paleteando coisas, arrumando figurino, objetos, contendo pessoas indesejáveis e trabalhando duro desde cedinho. No set, o bicho pegava afu e o sol castigava a pino. Eu, que estava no rebatedor, ouvia a pele dos atores fritando enquanto minha testa estava tão quente que poderia fazer um omelete nela. A Lisi retocava o Make-Up e Cíntia e Marcelo, os assistentes de direção, elocubravam soluções para algumas tomadas junto ao Diretor, que pacientemente me emprestava o celular para sanar algum pepino novo.

Próxima parada: Centro da cidade.

Com atraso de uma hora e meia no cronograma, chegamos na Travessa Leonardo Truda para a cena de perseguição. Eduardo Ribeiro (que eu ainda não conhecia) trocava risadas com Ricardo Ghiorzi enquanto nos aguardava. O primeiro para o papel de Tosco, o pior pesadelo de qualquer um; o outro, o responsável por nossos FX, que se deslocou de Canoas só para fabricar uma cicatriz na cara do grandalhão.

Novamente montamos platô e preparamos o Eduardo enquanto a elite do curta saiu para filmar a cena do orelhão. Não posso contar muitos detalhes sobre isso, pois não sou da elite (beiço). Mais uma vez, o pessoal do figurino se puxou na confecção do personagem. Não sei onde diabos arrumaram aquela camiseta, mas foi como se o Edu tivesse nascido com ela, de tão boa que ficou. Há de se enumerar aqui sobre a eficiência do Duca (figurinista) na idealização dos costumers, e da Juliana (Produtora de Figurino) na disponibilidade das roupas. Sintonia é o que há ali.

Chega a cena da perseguição, que foi tão complicada quanto divertida. Nela, Raul foge de Tosco pelas ruas do Centro. Eu estava com medo que o Soriano corresse demais e a coisa ficasse meio inverossímil, pois o Edu é grande. Grande do tipo MUITO grande. Ledo engano. Quando tu vê um cara de 2 metros de altura e 140 kg com aquela velocidade, tu começa a suspeitar de que tem algo errado na Matrix. Raul olhava pra trás e via o Tosco bufando no seu cangote, pau a pau. Soriano suava. Eduardo não. Atrás da câmera, Márcio Cardoso fazia mágica enquanto corria e filmava ao mesmo tempo, sempre com um sorriso no rosto, mantendo uma estabilidade sobre-humana (o que lhe rendeu o apelido de “Steady-Man”). Aqui, valeu a paciência da turma em atravessar ruas e, novamente, fazer contenção enquanto o Tosco, escorado em um poste, assustava um pai e seu filho que passavam desavisados pelo set. Os coitados atravessaram a rua, temerosos por suas vidas só de olhar para ele.

Nos poucos minutos de folgas que tínhamos entre um take e outro, o Edu fazia a alegria da galera com suas histórias escabrosas e sua coreografia “Sandy e Júnior”. Embora a Gabi estivesse registrando alguns momentos com uma filmadora, ela não conseguiu pegar essa pérola. Ao seu lado, Fernanda tirava fotos para o continuísmo. Momento ímpar: Eduardo me contando uma história sobre sua descendência canina. Quando tiveres oportunidade, pede pra ele te contar sobre isso...

Um episódio a parte foi o da já famosa pedra. Cris e Cainã produziram uma pedra cenográfica perfeita para a cena, mas ela era de isopor e ventava muito no set. Num determinado momento, vemos o Marcelo correndo feito louco atrás da pedrinha, que fazia sozinha uma curva a lá Fórmula 1 e seguia animada pela Av. Mauá. Destaca-se também a péssima pontaria do Soriano, que tinha a missão simples e divertida de jogar a tal pedra na cabeça do Edu. Uma. Duas. Três tentativas. Nada. Começamos a cogitar em trocar o Soriano por um dublê de arremesso, pois era óbvio que o ator tinha tido uma infância frustrada, na qual ninguém o escolhia para parceiro de taco. Não precisou. A pedra pipocou e a cena ficou nada menos que perfeita.

A função foi até às 7 da noite. Reunimos os remanescentes na Cidade Baixa para bebemorar (vide foto) e comentar sobre as atrocidades que cometemos no decorrer do dia. Nos fodemos afu: acordamos cedo, queimamos no sol, aturamos toda sorte de contratempos técnicos, corremos de um lado para o outro como baratas tontas, viramos quase 11 horas de função...olha...não sei dos outros, claro, mas pra mim foi simplesmente tudo espetacular. O tipo de trip que alucina, motiva, nos enriquece, mesmo que ninguém esteja ganhando um tostão furado. Filmar é a melhor função do mundo, minha gente. E com essa equipe então...


No próximo domingo tem mais...

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

O show não pode parar!

É isso aí. Uma semana se passou e agora minha vida está, finalmente, entrando naquela corrida frenética que sempre foi. Com filmagens para este findi e muito para fazer, minhas vezes de Diretor de Produção do curta Os Batedores ganha status de “Deus”. Minhas costas doem e meus ouvidos zunem com as cobranças da função. Quem pensou que vida de cineasta de guerrilha era ficha, repense. Por isso se chama “guerrilha”, filho. Não é tu ir mamar nas tetas do governo e embolsar uma grana de uma lei de incentivo pra fazer uma coisa que, certamente, ficará uma merda na tela. Aqui se gasta do próprio bolso, se transpira pacaralho e se faz tudo por amor, paixão, tesão e diversão. Como diria o Braga: “Independente os colarinhos, rapá”. Ganhou dinheiro, mano, já é “cinema dependente”.

Além do Braga, tenho que citar o saudoso Freddy Mercury, que berrava aos quatro ventos uma verdade incontestável:


The Show Must Go On (Queen)

Empty spaces - what are living for
Abandoned places - I guess we know the score
On and on,
does anybody know what we are looking for...

Another hero, another mindless crime
Behind the curtain, in the pantomine
Hold the line,
does anybody want to take anymore

The show must go on,
The show must go on
Inside a heart breaking
My make-up may be flacing
But my smile still stays on.

Whatever happens,
I'll leave it all to chance
Another heartache,
another failed romance
On and on,
does anybody know what we are living for?

I guess I'm learning,
I must be warmer now
I'll soon be turning,
round the corner now
Outside the dawn is breaking
But inside in the dark
I'm aching to be free

The show must go on,
The show must go on
Inside my heart is breaking
My make-up may be flaking
But my smile still stays on

My soul is painted like the wings of butterflies
Fairytales of yesterday will grow but never die
I can fly - my friends

The show must go on
The show must go on
I'll face it with a grin
I'm never giving in
On - with the show -
I'll top the bill,
I'll overkill
I have to find the will to carry on

On with the -
On with the show -

The show must go on...


E não parou. Oficialmente, estou entalado até o pescoço de afazeres até o dia 09/12 e além. Pré-produção, produção, pós-produção...daí vem meu lado profissional de merda bater na minha porta, minhas obrigações finansérias me mordendo o pescoço e a facul... Caralhoooooooooo, a bendita facul...

Se eu fosse um bundão, pediria férias. Mas quem eu pentelharia nas férias, certo? Então o negócio é seguir o barco (sem vela mesmo, remamos no braço), abraçar tudo e resolver uma coisa de cada vez.

Sim, estou de volta. E o show não pode parar...

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Requiém.

Hoje é um dia triste. Um homem de idéias, que se importava com os outros e se interessava pelas coisas simples, um irmão, um amigo verdadeiro, alguém que foi como um anjo no meu ombro este ano, simplesmente morreu. Assim. Vítima de uma forte pneumonia, daquelas que todo mundo um dia teve na vida, mas que o abateu de tal forma que seus últimos dias foram somente de dor.

Este homem, este amigo – esta mão que me acolheu e me mostrou tantas coisas – deu infindáveis certezas do quanto a vida podia ser bonita, do quanto o belo podia se manifestar no simples, no básico, no dobrar de uma esquina, numa singela mensagem de bom dia, numa esperança de um acontecimento trivial qualquer, pois ele conseguia ver a beleza onde, para outros, só havia rotina, só havia o vazio.

Hoje é um dia triste. Essa perda me atordoa de tal forma que sei que nunca mais serei o mesmo. Porque sei que um pedaço de mim se foi. Um pedaço importante. Um pedaço humano muito grande. Aprendi com esse cara a ser sincero, honesto, a esperar coisas boas das pessoas, a ver a humanidade com olhos de criança, que sempre espera por uma brincadeira. Aprendi a confiar, a sorrir sem compromisso, a sugar da vida a vitalidade de um campeão, a manifestar os sentimentos mais puros e lindos que alguém pode ter. Ele me mostrou isso de forma íntegra, sem cobranças, sem esperar nada em troca. Esperava de mim apenas a certeza de que eu me esmeraria em ser uma pessoa melhor. Era sua única meta: me fazer crer que, embora eu sempre tenha apanhado, a vida podia ser boa pra mim e eu podia voltar a ser feliz.

É terrível quando alguém tão crucial para a gente se vai. Desaparece. Deixa de existir. Como se fôssemos um barco, no meio do imenso oceano, e essa pessoa tão especial fosse nossa força motriz, nossa vela. Uma música que ilustra muito do que esse amigo significou para mim é a que está abaixo:

O Barco e a Vela (Carlos Lyra)

O seu olhar, quase sempre distante
em algum lugar que nem imagino.
Talvez eu seja louco o bastante
e vá seguir você até o fim do mundo.

Vaguei sozinho por lugares perdidos,
correndo atrás de alguém que não merecia.
Você me fez olhar pro horizonte
e ver um lado meu que eu não conhecia.

Não sei se o seu barco tem vela,
nem sei se o seu lago tem fundo.
Mas quem quer saber de respostas,
se a vida é tão breve e muda a cada segundo.



E de repente, eu fiquei sem vela...

Hoje é um dia triste. Iniciou chuvoso e persistiu até que um temporal se abateu sobre minha cabeça, prenunciando essa pequena e inconfessável tragédia. Como diria Stalin, a morte de um realmente é uma tragédia, e a de muitos, uma estatística. Tenho medo, muito medo, que a morte de hoje tenha me transformado em alguém como esse russo.

Amigo, espero que tu faças tantas outras pessoas felizes como me fez, mesmo que por um punhado de meses. Te conheci por pouco tempo, tentei aproveitar o máximo dos conselhos que me deste, tentei ser uma pessoa melhor. Infelizmente, meu grande amigo, meu novo e velho muito velho amigo, sem ti, eu não conseguirei ser uma boa pessoa. Não conseguirei ver coisas boas como vi, nem sentir o que senti, nem me doar como me doei, pois contigo, como eu disse acima, foi embora o pedaço de mim que mais valia a pena.


Adeus, meu amigo, e obrigado. E se um dia voltares, eu estarei aqui, de braços abertos, para sorrir de novo.

Sábado Cheio – Segunda Parte – A Nova Equipe

Chega então a esperada reúna com a nova equipe de Os Batedores, lá na Casa de Cultura Mário Quintana (que loca salas bem amplas para ensaios pela bagatela de 10 pilas o turno). Como de praxe, dois ou três caboclos burlaram o encontro (por N motivos), mas a grande massa estava lá.

A sessão de apresentação de cada um foi um dos melhores episódios, com direito a piadas repetidas sobre os A.A., vermelhidão, gagueira e até um breve retrospecto da trajetória da Arquivo Morto para os menos informados. Interessante também foram algumas visões peculiares sobre o roteiro, algumas rinhas sobre “o que funciona e o que não funciona na tela” (ficou 1 x 1 entre o Diretor e eu) e a fotinho quase oficial da turma, batida pela sempre carismática...ops, eu disse que não ia citar nomes, certo? Ah, a menina dos stills...

Quando findamos a reunião e descemos, eis que nosso figurinista chega arfando, levemente atrasado devido ao trabalho. Há de se enumerar o episódio da camiseta que ele pegara emprestado do nosso Produtor de Elenco e, sem pedir licença, meteu um tesourão na gola, tornando a peça mais...fashion.

- O que tu fez com a minha camiseta??? – Produtor incrédulo.

Coisas de figurinista. Se há algo que aprendi sobre esse pessoal das roupas, é que são todos pirados: TODOS. Mas alguns (como esse) são legais...

É claro que os mais enturmados seguiram para a Cidade Baixa, para esticar, bater papo, beber um bocado e, porque não, falar sobre o projeto. Um fato curioso e levemente fútil aconteceu na minha chegada ao local que haviam escolhido para a bóia, mas pulemos essa parte...O clima estava super bacana e o pessoal, novo e antigo, começou a se enturmar e conversar sobre diversas coisas. O engraçado é que estávamos bebendo sentados em um bar, mas a galera estava pedindo pastéis no bar do lado. Isso que é cooperação entre estabelecimentos...

Um pouco mais tarde, fomos prestigiar um dos atores do curta, que é um dos donos do bar que ficava do outro lado da rua. Saímos de um e sentamos em outro, e dá-lhe mais ceva. Fomos recepcionados pelo próprio, que conheceu uma boa parte da equipe e disse que já estava preparado para o papel, pois o Odilon (personagem dele) era ele próprio. Uns dias atrás ele havia me mandado um scrap dizendo que o roteiro estava bacana e que eu tinha filhos lindos. Nosso Produtor de Elenco cismou que os “filhos”, na verdade, eram os personagens que eu havia criado. Segue a conversa:

- O que tu quis dizer com “teus filhos são lindos”, naquele scrap que tu deixaste pro Édnei?

- Quis dizer exatamente isso.

- Tá, mas tu tava falando dos personagens, certo?

- Não. Dos filhos dele mesmo.

- Tá, mas tu viu eles? Viu o álbum do Édnei?

- Sim.

- Mas...é isso mesmo? Não é sobre os personagens?

- Meu amigo, a vida é muito mais simples do que parece.

(Hehehehehe, desculpem-me os praticantes deste diálogo, mas tive de colocar isso no ar.)

Mais algumas conversas paralelas depois e o pessoal começou a se dispersar. Recebi informes de que alguns ainda esticaram. Outros caíram duros na cama.

E outros...

***

Dica de Lugar:

Casa de Cultura Mário Quintana: Rua dos Andradas, 736 – Porto Alegre - http://www.ccmq.rs.gov.br/novo/principal/index.php

Dois prédios com 6 andares cada e diversos ambientes: salas de ensaios, teatros, 3 cinemas, cafés, bibliotecas, uma sala temática só da Elis Regina, um quarto que dizem ser igual ao do Mário Quintana. A CCMQ também costuma ceder espaço (ou alugar, eles são meio mercenários) para alguns picaretas darem oficinas de cinema. Fora isso, é um local bacana de se visitar, onde sempre tem algo de cultural acontecendo.

Ah, um dos prédios tem um sétimo andar, onde fica o Café Concerto. Não peça o Irish por lá e evite o local em dias chuvosos. De resto, é até um lugar com bom visual e ideal para encontros e desencontros...

terça-feira, 30 de outubro de 2007

Sábado Cheio - Primeira Parte - O Piá

Levantei da cama como um gato e pulei dentro da roupa já escolhida para o longo dia que seria este sábado que passou. Já é quase uma rotina: ir ver meu filho de manhã, ficar com ele até o meio da tarde e usar o resto do dia para resolver pepinos de produção de Os Batedores.

Como o dia foi longo e cheio de coisas legais, vamos dividir o treco em duas partes...

Esta parte é sobre o meu filhote, a quem chamo sempre de “Piá”.

O Piá, hoje, tem quatro anos de idade. Se eu tivesse que descrevê-lo em uma palavra, acho que seria “Ninja”. O que dizer de um guri que lê e escreve desde que tinha um ano e alguns meses? O que dizer de um moleque que, quando só engatinhava, usava folhas de jornal para evitar o atrito e deslizar pelo chão? Que é capaz de contar até mil e dizer o alfabeto todo (com K, Y e W nos lugares certos) em português e em inglês, inclusive de trás pra frente? Que tem até login e senha no micro de casa?

Um ninjinha loiro, com bochechas convidativas e uma carinha linda (tal qual a foto mostra). Como diz no álbum no meu orkut, “O único homem que eu amo”. Muitas vezes não parece, mas esse guri, juntamente com minha filha, é o meu centro. O que realmente me move. São as únicas coisas que me impedem de explodir de vez ou de cometer atos criminosos quando algum espírito-de-porco se apossa do meu ser.

São os meus amores.

Pois bem, cheguei na casa dele e logo fui recepcionado com beijos e abraços. A voz dele quando me diz que está com saudades e que me ama me aperta o peito, mas é uma daquelas peculiaridades da vida que estão cada vez mais presentes no dia a dia da sociedade atual. Prova disso é o fato de que a maioria das pessoas que conheço, inclusive amigos próximos, são frutos de pais divorciados. Eu mesmo sou desta leva. É uma constante. As pessoas andam preferindo se separar e tentar ser felizes do que manter a instituição familiar em detrimento de suas felicidades. As vezes é um mal. As vezes é um mal necessário. Neste assunto, sou quase um PHd, pois passei por dois casamentos, e agora ando solteiro de novo...

Quando a mãe dele saiu, começamos a brincar: o brinquedo preferido do Piá já foi quebra-cabeças, letras de plástico (ou de espuma) e até o Word (ele faz coisas neste editor de textos que nem eu sei como). Hoje em dia, a fascinação dele está em carros. Carrinhos, na verdade, tipo Hot Wells. Graças ao filme Carros, da Pixar/Disney, ele nomeia os carrinhos que ganha com o nome de cada personagem da animação. Só de Relâmpago MacQueen, ele tem quatro. Basta ser vermelho e levemente esportivo. Disputamos corridas, simulamos acidentes, enfim, jogamos carros de um lado para o outro até cansar e seguir para o Laptop de brinquedo dele. Um aparelhinho barulhento verde-limão, que tem trocentas atividades e é tri educativo. Nele criamos músicas juntos, fazemos continhas de somar e subtrair, entre outras coisas. Quem lida com crianças sabe que elas sempre se cansam rápido do que estão fazendo e gostam de trocar de atividade o tempo todo. Talvez seja por causa dessa hiperatividade que eu não goste de crianças: só das minhas mesmo. Pulamos para o micro, onde tem um jogo do Carros instalado, e lá vamos nós de novo, desvendando personagens e brincando...

Acabamos brincando bastante e, num repente, ele vira pra mim e me diz:

- Papai, eu tô cansado.

Segue para a cama, deita e dorme, quase que instantaneamente. Graças a uma vacina contra rubéola (dizem que anda dando surto disso aqui em Porto Alegre), o Piá acabou tendo febre e isso derruba qualquer um. Coloquei meu guri na cama, dei um beijão na testa dele e o deixei aos cuidados da avó. Saí de lá com o coração na mão. Como sempre saio. Sempre.

Meu consolo é que no findi que vem sempre tem mais.

P.S: Não se preocupem, o Piá já está bem, e pronto pra outra.=P

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Os Invasores no cinema.


Ontem não foi exatamente um dia fácil: entre um stress danado no estágio, problemas de produção e uma premissa não muito animadora para o resto deste ano que foi, no mínimo, insólito pra mim, minha cabeça dava voltas e eu precisava terminar o dia com algo que não fosse uma aula chata pra cacete de Sistemática de Comércio Internacional (com uma professora que até tenta, mas não consegue tornar a aula menos cansativa).

Eu, ontem, estava um caco...

Meu cumpadre, com quem eu falava via MSN (enquanto virava uma mesa de raiva), me convidou para ir ao cinema e tentar desanuviar a mente dos pensamentos desagradáveis que andavam rondando minha cabeça. Não estava na pilha, mas fui. Naquela hora eu já estava vendo vultos marrons (provavelmente frutos de algum problema neurológico que ainda hei de descobrir), então pior eu não podia ficar...

Fomos ao cinema.

O nome do filme era Invasores. Já ouviu falar? Pois é, eu também não, mas como o cinema anda de mal a pior nessa época do ano, resolvemos tentar. O elenco conta com Nicole Kidman (photoshopeada) no papel de uma psiquiatra que procura o filho perdido em meio a uma epidemia alienígena, e seu parceiro de cena, Daniel Craig, com aquela cara de quem veio e não disse nada (acredito que ele ganha mais fazendo o Bond e só). A história, baseada em livro de Jack Finney (e já filmada três vezes antes dessa tentativa), é uma ficção científica contida, onde a tal epidemia começa com um acidente com um ônibus espacial e logo vai tomando proporções mundiais. Mais contida ainda (ou mais ruim ainda, tu escolhe) é a direção do tal Oliver Hirschbiegel (que só hoje fui descobrir que havia dirigido “A Queda – As Últimas Horas de Hitler”), que neste filme deu uma aula de como desperdiçar o maior número possível de chances para se fazer um bom filme (palavras do meu amigo). Closes pavorosos e takes acompanhados de um ponto de interrogação estão presentes o tempo todo, pincelados por (d) efeitos especiais mostrando a atuação do vírus no sangue da galera. Bem que o tal Oliver poderia se confinar na Europa e só dirigir filmes de época... Quanto as atuações, obviamente estão impecáveis, com direito ao Dr. Galeano (Jeffrey Wright) elucidando todo o mistério ao casal sem nenhum resquício de emoção, enquanto comentava que a Europa e o Japão já estavam tomados pela epidemia (provavelmente ele já estava contaminado nesta cena, erro de continuidade, rsrsrsrs).

Misericórdia...

Embora um filme 100% meia boca, saí da sessão um pouco mais leve. É claro que ainda ressentido com algumas coisas simples da vida (acho que todo mundo tem direito a um dia de cão, não é mesmo?). Ainda bem que, logo mais, recebi um telefonema que solucionou um problemão que eu tinha, e isso melhorou meu astral.

Bem que todos os nossos problemas poderiam sumir assim, né? Ao som de um toque telefônico...

***

Dica de filme:

Invasores (The Invasion)
Diretor: Oliver Hirschbiegel
Elenco: Nicole Kidman (Carol Bennell), Daniel Craig (Ben Driscoll), Jeremy Northam (Tucker Kaufman), Jeffrey Wright (Dr. Galeano)
Duração: 93 minutos
Gênero: Ficção Científica
Ano: 2007

Não é um filme que eu veria de novo, mas acho que até cabe ver em DVD, ou pirateado (que é mais barato), principalmente se tu fores algum aficionado pelo gênero. Se vale a pena ver no cinema? Nem pensar.

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Um longo dia de trabalho...no sábado.

Pois é, faz um tempo que eu não durmo mais de 4 horas por noite, e neste sábado não foi diferente: acordei cedinho para visitar meu filhotão e, de lá, seguir para o centro na primeira hora da tarde para encontrar alguns membros da equipe do nosso mais novo curta.

Ah, é bom abrir um parênteses aqui, até porque algumas pessoas que por ventura lerem este blog podem não me conhecer (e como comecei a ser “blogueiro” na semana passada...): estudo Administração na PUCRS, faço estágio em uma empresa de sistemas de segurança e, nas horas vagas, divido meu tempo entre visitar meu filho (que mora com a mãe dele, minha ex-gata), sair com amigos, estudar e escrever roteiros e produzir para cinema de guerrilha em Porto Alegre.

Eu e meu cumpadre (que é meu melhor amigo, meu filho tem o nome dele) somos os responsáveis pela Arquivo Morto, uma produtora independente sem fins lucrativos que idealiza histórias, convoca pessoal e produz cinema no amor. Depois das pessoas que eu amo, esta é, de longe, minha maior paixão: fazer cinema de guerrilha.

Estamos com esse projeto denominado Os Batedores, um curta-metragem sobre um ladrão de carteiras que é obrigado a pagar uma dívida grande em poucas horas e terá de suar a camisa pra conseguir a grana. Roteiro meu (não sei como consigo convencer pessoas a filmarem de graça as minhas histórias, mas enfim...) e Direção de Produção idem. Fiquem atentos, pois falarei muito sobre ele aqui ainda.

Fechando o parênteses: este é um post sobre cinema de guerrilha...

Como disse acima, depois de deixar meu piá na casa de uma tia, segui pro Centrão para encontrar um pessoal para perambular pelas ruas a fim de achar locações externas interessantes. Depois de encontrar o Diretor, o sonoplasta e o assistente de direção, seguimos caminhando e tirando fotos de possíveis locais. Neste curta, haverá três cenas externas no centro e duas seqüências de montagem, mas sem sombra de dúvidas, nossa principal cena será a de um linchamento, que o Diretor (queriiiiiiiiidoooooooo) inventou de filmar artesanalmente na Esquina Democrática, a esquina mais movimentada da cidade.

Não dá nada, matamos no peito. Pelo menos o ator a ser “linchado” não será eu. Nesta esquina, encontramos uma daquelas estátuas-vivas, e logo nosso Diretor (queriiiiiiiiiiiiidoooooooo) teve a idéia brilhante (ok, admito, é brilhante) de incluir o artista na cena. Fazendo um outro parênteses, é interessante como o mercado de estátuas-vivas anda evoluindo: antigamente o cara que se vestia de anjo e ficava na Andradas era o bam-bam-bam da parada (chegou a figurar num filme do Jorge Furtado). Hoje, eles são obrigados a usar a criatividade, normalmente no figurino, para burlar a concorrência, que é quase em massa (dia desses vi um moleque qualquer tentando tirar algum vestindo uma bermuda e com o corpo todo pintado de cinza). Neste caso, o sujeito em questão vestia uma roupa toda produzida, com máscaras (aquelas de bailes) e babados em várias partes do corpo. Um visual bacana.

- Édnei, temos de pegar os contatos dele. Vai lá.

- Eu????

- Sim, tu é o produtor. Achou que esse trabalho era peidar dormindo, é?

Lá foi o Édnei falar com o sujeito. Comecei a tagarelar e o cara não se mexeu. Saquei que ia ter de pagar para chamar a atenção dele. Pedi pro meu colega jogar uma moeda na urna. Após o tilintar do metal, a estátua se inclinou.

- Boa tarde, estamos fazendo a produção de um curta...

- Sorry, i don’t understanding you.

Que beleza, o puto falava inglês e o meu inglês andava um caco. Chamei o Diretor e pedi pra eles se arranjarem com o cara. Num inglês quase perspicaz, os dois se acertaram, o Diretor pegou os contatos dele e, quando agradecemos com um “Thanks”, o cara responde “De nada” com um sotaque paulista.

Depois de sermos passados pra trás por um cara que ganha a vida fingindo ser uma estátua, seguimos para nossa segunda reunião do dia. Ao chegar no carro, o Diretor recebeu um torpedo da nossa Diretora de Arte dizendo que ela estava saindo do projeto por motivos mil (e um deles seria minha “imaturidade”). Sim, eu tinha uma certa pendência com ela (por questões pessoais cuja época este blog não pegou), mas abandonar um projeto relativamente grande e bonito que é este nos 47 minutos do segundo tempo (previsão de início das filmagens para daqui a duas semanas) não é exatamente uma boa amostra de maturidade, certo?

Bem, azar o dela, problema nosso: usamos então a reunião das 16h para formalizar soluções em relação à arte e tratar de outras coisinhas básicas (como nosso fornecimento de água mineral nas gravações). Não demorou muito para que nosso assistente de direção abraçasse a causa e convocasse, naquela mesma tarde, uma figurinista e produtora de figurino (sim, além de ser Diretora de Arte, a figurinha era também figurinista e produtora de figurino). O assistente olhava para a lista de pendências que passei pra ele e dizia “Deixa comigo, deixa comigo”.

Passamos o restante de sábado tentando resolver isso. Na manhã seguinte, sou acordado pelo celular: era o Diretor me ligando para avisar que seu assistente havia conseguido, naquela manhã, o restante da equipe de arte que o curta precisava. Em suma, para o bem do projeto (e nosso) ou para o mal (de alguém que, por ventura, não teve a menor consideração em nos deixar na mão), ficamos desfalcados por menos de 24 horas.

Hoje estamos com o time técnico completo. O Assistente de Direção é foda. O Diretor é foda. O Roteiro é foda. O Elenco é foda. A Equipe é foda. O Projeto é foda.

E este filme, meus amigos, vai ser muito foda também...Isso é cinema de guerrilha, senhoras e senhores.