...completo minha vida com insigts e coisinhas bizarras que sempre me rondam, enquanto a Arquivo Morto não retoma suas atividades.
Começando com o convite de um conhecido para uma boca livre num conceituado colégio particular do Centro de Poa.
- Paguei um galeto a mais, mas a patroa não vai poder ir. Tais afim?
- Pergunta se macaco quer banana, meu filho.
Fui de madrasta, mas o rango prometia e era free, então tava valendo. Antes do jantar, tivemos de agüentar a criançada da primeira série numa apresentação de dança de diversas regiões do Brasil. O auge foi uma cópia mirim de Callipso, onde uma menininha de 6 anos requebrava o pequeno quadril e um guri tocava empolgado uma guitarrinha de mentira. Na platéia, os pais embasbacados filmavam tudo e assobiavam, enquanto um gordinho fazia a dança do robô no meio dos pseudonordestinos. Chega a hora do rango e o pessoal, gente chique que paga um precinho de facul por mês para manterem seus filhos ali, dirigiu-se para a quadra de futsal, onde haviam montado as mesas. Na mesa grande, nada de rango. Tinha algo errado. Começaram então a distribuir senhas para um sorteio de brindes. Era um estratagema para tentar fazer hora até os assadores conseguirem dar conta da demanda, pois os galetos ainda estavam vivos. Um Papai Noel magro e com barba falsa chegou e formou-se uma fila gigante para pegar algum presente. As crianças frustravam-se ao constatarem que no saco do bom velhinho só tinha balas de R$ 1,99. Havia gente pequena chorando, traumatizada, enquanto começava o tal sorteio de brindes. Todos na minha mesa foram sorteados. Na verdade, haviam 250 senhas e 249 brindes. Que dúvida: meu 21 foi o único a ver navios. Dane-se, a fome apertava e eu só queria saber de forrar a pança. E não era só eu. Quando desceram as travessas de galeto, aquelas pessoas chiques das quais falei acima, levantaram-se e correram, tal qual os orcs de Senhor dos Anéis nas cenas de batalha, em direção à mesa com seus pratos na mão. Era a luta pela sobrevivência. Cotoveladas, olhares psicóticos, ameaças, empurrões, valia de tudo para angariar uma asinha ou um pedaço de peito. Meu conhecido mandou o filho ir com um prato e furar a fila, como um teleguiado. O piá voltou com duas folhas de alface e um olho roxo. Alguns ignoravam e pegavam 6 pedaços, estimulando a violência e a boca suja. Um sujeito de uns dois metros me ameaçou. Olhei feio pra ele. No meu lado, duas tias gordas trocavam gentilezas na disputa por uma coxinha. Compostura zero. Saí de lá perto das 10 da noite, com um pedaço de salsichão dentro de um pão, comendo pelas ruas escuras do Centro. Punk.
Na noite seguinte, rolou a festa no ex-apê da Diretora de Arte de Os Batedores e seu ex-colega de apê. Chamaram uma trupe e várias caixas de isopor para frisar a ceva. Demorou um pouco pra engrenar, mas valeu a pena, pois o papo foi descontraído e constatamos mais uma vez o quanto Porto Alegre é um ovo. De quebra, me indicaram onde achar um dos comerciais da BMW que todo mundo me dizia existir e eu nunca tinha visto, numa campanha publicitária milionária na qual a empresa contratou alguns dos diretores mais fodões de Hollywood da época para fazerem curtas onde os BMs fossem as estrelas. Para assistir ao curta do Guy Ritchie no YT, clique aqui.
Travesseiro até às 13h de domingo e lá fui eu pra Redenção, curtir uma brisa. Curioso como o parque estava vazio, a não ser pelos emos que passavam enquanto jogavam suas franjas de um lado para o outro e suavam dentro de suas roupas pretas. É certo que a burguesia usou o findi para ir pra praia, aproveitar o calor. Estendi minha toalha de poker na grama, peguei um livro de teoria e prática do roteiro (um roteirista, assim como qualquer outro profissional, tem que se reciclar sempre) e, depois de três páginas transcritas, peguei no sono. Acordei duas horas depois com uma repórter do Correio do Povo me cutucando, querendo me entrevistar. Atrás dela, um fotógrafo com o polegar pra cima sinalizava que já tinha uma foto minha...dormindo. Sensacional.
Fecho a noite de domingo com uma bebedeira insólita com meu produtor de elenco, minha ex-figurinista (que trabalhou comigo em três curtas) e um amigo nosso, que faz elétrica e assistência de câmera. No caminho para outro boteco, colhemos outra lenda viva (conhecido da figurinista) para nos acompanhar. O moço da elétrica apertava a mão do sujeito emocionado. Mal sabia ele que estávamos angariando um problema. O cara podia ser lenda, mas era uma lenda que falava alto pacaralho e que cuspia quando pronunciava os “efes”, os “erres”, os “pês”...na verdade ele cuspia o tempo todo, e no chivito do moço da elétrica, que já não estava mais tão emocionado com o encontro. Um copo de ceva derrubado e uma ótima história de mendigo depois, e conseguimos, a muito custo, direcionar a figura pra casa. Que maravilha.
A semana agora promete: releases pra mandar pra imprensa, locações pra conseguir, cronograma pra ajeitar à vontade de todos os envolvidos e um Making Of , no próximo sábado, de algo que não sei se é um documentário ou se é um debate sobre cinema.
Calma, Édnei. A semana recém começou...
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Um comentário:
Já vi esse vídeo há muito tempo...da BMW. Fim de semana tranqüilo, hein? Até.
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