Eu poderia prosseguir com o texto colocando o punhado de problemas que tivemos de enfrentar logo de cara e dramatizar a coisa (tal qual a cadeira de rodas que não fechava e tivemos de transportar dentro do Corsa do Filipe Ferreira – comigo embaixo dela – ou o atropelamento do nosso figurinista, cuja notícia eu recebi no início da tarde e tive de guardá-la para não “contaminar” o set), mas a verdade é que esta foi uma diária muito diferente da de domingo passado.
Se domingo passado foi o “80”, estressante, fatídico, alucinado e demolidor, este sábado foi o “8”: sossegado, simples, rápido e mortal. Embora tenhamos iniciado com uma hora de atraso no cronograma (pra não perder o hábito), terminamos tudo com uma hora de folga. Muito disso deveu-se ao feeling dos atores Artur José Pinto e Marco Soriano Jr. Seus diálogos soavam como uma música, ritmado, de tempo perfeito, como se os dois atuassem juntos há anos. Era bate-e-volta, lindo de se ver. Em algumas conversas que tive depois das filmagens, fiz a seguinte analogia: enquanto o França é um ator que abre um leque de um zilhão de possibilidades para o Diretor, o tipo de soldado que usa uma metranca giratória que acaba com uma floresta inteira, o Artur é o legítimo sniper: vai, mira, mata e sai de cena. Com texto na ponta da língua e uma habilidade de fazer o Odilon melhor do que eu imaginava, o Artur legitimou o papel de tal forma que era complicado de eu segurar o riso toda vez que ele acionava o gravador em cena enquanto via um programa de TV. Para alguém que estava segurando o boom (o König não havia dado o ar de sua graça nesta diária, então, sobrou pra mim e pro Álvaro revezarmos), isso era complicado.
Coloquemos aí também a presença sempre carismática do Eduardo Ribeiro, que rouba a cena na pele de Tosco, e teremos a diária mais sossegada e produtiva da qual se teve notícias. Não que as anteriores não tenham sido produtivas: todas elas renderam imagens maravilhosas. Mas a relação produção/stress, nessa filmagem de sábado, chegou num nível de paz inacreditável, tanto é que no nosso happy-hour no Cavanhas (que cedeu R$ 150,00 de alimentação para a produção do curta), eu só fazia sinal de “não” com a cabeça e dizia para mim mesmo: “não acredito que foi tão fácil”. O desfalque na equipe não comprometeu. Terminamos tudo com tempo de sobra. A chuva não atrapalhou o áudio, e o dono do apê onde moro foi dos mais cortês e prestativo.
Bem que as próximas filmagens poderiam ser assim.
No próximo findi, teremos recesso para o pessoal da equipe viver um pouco, resolver algumas pendências de produção e ajeitarmos algumas coisinhas no roteiro.
P.S: O Duca, figurinista, já se recuperou e passa bem.
Um comentário:
É batido. É clichê. É até tosco (e não estamos falando, mesmo, do personagem). Mas...não é que depois da tempestade vem sempre a bonança? Até.
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