segunda-feira, 26 de novembro de 2007

8 e 80!

Chega o terceiro dia de filmagem do curta Os Batedores. Desta vez, com algumas peculiaridades que vale a pena enumerar: devido ao espaço apertado do set, apenas um representante de cada núcleo foi requisitado. Tínhamos também um prazo para término de gravação, pois um dos atores tinha compromisso para as 19h (ou seja, não poderíamos permitir qualquer atraso no cronograma). O risco de chuva era iminente e ameaçava comprometer o áudio. E a pior de todas: o set era no apê onde eu moro, e este apê não é meu.

Eu poderia prosseguir com o texto colocando o punhado de problemas que tivemos de enfrentar logo de cara e dramatizar a coisa (tal qual a cadeira de rodas que não fechava e tivemos de transportar dentro do Corsa do Filipe Ferreira – comigo embaixo dela – ou o atropelamento do nosso figurinista, cuja notícia eu recebi no início da tarde e tive de guardá-la para não “contaminar” o set), mas a verdade é que esta foi uma diária muito diferente da de domingo passado.

Se domingo passado foi o “80”, estressante, fatídico, alucinado e demolidor, este sábado foi o “8”: sossegado, simples, rápido e mortal. Embora tenhamos iniciado com uma hora de atraso no cronograma (pra não perder o hábito), terminamos tudo com uma hora de folga. Muito disso deveu-se ao feeling dos atores Artur José Pinto e Marco Soriano Jr. Seus diálogos soavam como uma música, ritmado, de tempo perfeito, como se os dois atuassem juntos há anos. Era bate-e-volta, lindo de se ver. Em algumas conversas que tive depois das filmagens, fiz a seguinte analogia: enquanto o França é um ator que abre um leque de um zilhão de possibilidades para o Diretor, o tipo de soldado que usa uma metranca giratória que acaba com uma floresta inteira, o Artur é o legítimo sniper: vai, mira, mata e sai de cena. Com texto na ponta da língua e uma habilidade de fazer o Odilon melhor do que eu imaginava, o Artur legitimou o papel de tal forma que era complicado de eu segurar o riso toda vez que ele acionava o gravador em cena enquanto via um programa de TV. Para alguém que estava segurando o boom (o König não havia dado o ar de sua graça nesta diária, então, sobrou pra mim e pro Álvaro revezarmos), isso era complicado.

Coloquemos aí também a presença sempre carismática do Eduardo Ribeiro, que rouba a cena na pele de Tosco, e teremos a diária mais sossegada e produtiva da qual se teve notícias. Não que as anteriores não tenham sido produtivas: todas elas renderam imagens maravilhosas. Mas a relação produção/stress, nessa filmagem de sábado, chegou num nível de paz inacreditável, tanto é que no nosso happy-hour no Cavanhas (que cedeu R$ 150,00 de alimentação para a produção do curta), eu só fazia sinal de “não” com a cabeça e dizia para mim mesmo: “não acredito que foi tão fácil”. O desfalque na equipe não comprometeu. Terminamos tudo com tempo de sobra. A chuva não atrapalhou o áudio, e o dono do apê onde moro foi dos mais cortês e prestativo.

Bem que as próximas filmagens poderiam ser assim.

No próximo findi, teremos recesso para o pessoal da equipe viver um pouco, resolver algumas pendências de produção e ajeitarmos algumas coisinhas no roteiro.

P.S: O Duca, figurinista, já se recuperou e passa bem.

Um comentário:

Maria Morena Maia disse...

É batido. É clichê. É até tosco (e não estamos falando, mesmo, do personagem). Mas...não é que depois da tempestade vem sempre a bonança? Até.