terça-feira, 13 de novembro de 2007

Começa o Espetáculo.

E chegou o domingo. Após uma noite inteira de chuva, bebidas e preces, amanhece na capital gaúcha com um inacreditável céu aberto. As pessoas me ligavam às 06:40h da manhã para perguntarem se estavam sonhando ou se o tempo realmente tinha melhorado. E tinha. Há de se fazer um parênteses aqui: embora seja regra de ouro deste blog não citar nomes, sou inclinado, neste tópico e talvez em alguns próximos, a burlar essa regra para enumerar os acontecimentos fantásticos que aconteceram e, principalmente, os que estão por vir. Desculpem, mas às vezes eu sou volúvel.

1º dia de filmagens de Os Batedores. A brisa outonal nos chicoteava enquanto abancávamos o equipamento de filmagem na kombi, às 7 da matina. Eu estava especialmente pregado, pois tinha passado a noite toda no aniversário do Cabaret do Beco (lugar que já citei em outro post) e saído de lá às 05:40h. Mas quando o assunto é cinema, algo toma conta de mim e eu viro o coelho da Duracell.

Redenção. Oito e trinta. Quase toda a equipe já estava lá, inclusive meu pai, que veio de Guaíba só pra dar um toque especial e abrir com chave de ouro o nosso curta, na primeira cena. A correria começou lá pelas 9 e tantas, pouco depois da Cláudia, produtora, negociar uma autorização com a administração do parque em troca de um capacete de R$200,00 (?), que a Arquivo Morto, em tese, teria de pagar alguns dias depois. Com certeza algum afegão vai esperar um bocado pra proteger a cuca por lá.

Platô montado, sol batendo na testa, e o grito de “Valendo!” do Filipe Ferreira. No banco de praça, a cena era Raul, o batedor de carteiras mais safo da parada, afastando um leitor enxerido (meu pai) com um olhar torto. Um crossover dos mais improváveis estava acontecendo ali: Marco Soriano Jr., o ator-ícone da Arquivo Morto, e Euclides Rodrigues, o lendário Kid, pai deste que vos escreve, trocando felpas num banco de praça. Obviamente que isso era um sinal de que a coisa ia ser pra lá de especial. Não tenham a menor dúvida, foi. A equipe se puxava fazendo contenção (o Henrique era tão educado na contenção, que fazia os transeuntes agradecerem por terem de desviar de seu caminho), enquanto éramos protegidos por um brigadiano de bicicleta chamado “Bono”. Não demorou muito para que o pessoal da Parada Gay (sim, era dia de Parada Gay) começasse a fazer zoeira do outro lado do parque e comprometer o áudio com caixas de som potentes e Village People. Guerreiro, König se virava como podia para puxar um bom som no seu boom, enquanto meu pai já saía de cena e cedia seu espaço em tela para Cláudio Benevenga, envergando elegantemente um terno risca de giz na pele de Arauto, o capanga robótico do vilão do curta. Enquanto isso tudo acontecia, Julia fazia os registros com sua máquina frenética (saldo de quase 400 stills).

Enquanto Raul passava apuros sendo extorquido, nossas produtoras se puxavam para sanar pequenos problemas e um problemão: a alimentação da turma. Numa solução ousada e dispendiosa, mas inteligente, a Bruna começou a assar pizzas no platô e programar um almoço por turnos para os guerreiros, que vinham paleteando coisas, arrumando figurino, objetos, contendo pessoas indesejáveis e trabalhando duro desde cedinho. No set, o bicho pegava afu e o sol castigava a pino. Eu, que estava no rebatedor, ouvia a pele dos atores fritando enquanto minha testa estava tão quente que poderia fazer um omelete nela. A Lisi retocava o Make-Up e Cíntia e Marcelo, os assistentes de direção, elocubravam soluções para algumas tomadas junto ao Diretor, que pacientemente me emprestava o celular para sanar algum pepino novo.

Próxima parada: Centro da cidade.

Com atraso de uma hora e meia no cronograma, chegamos na Travessa Leonardo Truda para a cena de perseguição. Eduardo Ribeiro (que eu ainda não conhecia) trocava risadas com Ricardo Ghiorzi enquanto nos aguardava. O primeiro para o papel de Tosco, o pior pesadelo de qualquer um; o outro, o responsável por nossos FX, que se deslocou de Canoas só para fabricar uma cicatriz na cara do grandalhão.

Novamente montamos platô e preparamos o Eduardo enquanto a elite do curta saiu para filmar a cena do orelhão. Não posso contar muitos detalhes sobre isso, pois não sou da elite (beiço). Mais uma vez, o pessoal do figurino se puxou na confecção do personagem. Não sei onde diabos arrumaram aquela camiseta, mas foi como se o Edu tivesse nascido com ela, de tão boa que ficou. Há de se enumerar aqui sobre a eficiência do Duca (figurinista) na idealização dos costumers, e da Juliana (Produtora de Figurino) na disponibilidade das roupas. Sintonia é o que há ali.

Chega a cena da perseguição, que foi tão complicada quanto divertida. Nela, Raul foge de Tosco pelas ruas do Centro. Eu estava com medo que o Soriano corresse demais e a coisa ficasse meio inverossímil, pois o Edu é grande. Grande do tipo MUITO grande. Ledo engano. Quando tu vê um cara de 2 metros de altura e 140 kg com aquela velocidade, tu começa a suspeitar de que tem algo errado na Matrix. Raul olhava pra trás e via o Tosco bufando no seu cangote, pau a pau. Soriano suava. Eduardo não. Atrás da câmera, Márcio Cardoso fazia mágica enquanto corria e filmava ao mesmo tempo, sempre com um sorriso no rosto, mantendo uma estabilidade sobre-humana (o que lhe rendeu o apelido de “Steady-Man”). Aqui, valeu a paciência da turma em atravessar ruas e, novamente, fazer contenção enquanto o Tosco, escorado em um poste, assustava um pai e seu filho que passavam desavisados pelo set. Os coitados atravessaram a rua, temerosos por suas vidas só de olhar para ele.

Nos poucos minutos de folgas que tínhamos entre um take e outro, o Edu fazia a alegria da galera com suas histórias escabrosas e sua coreografia “Sandy e Júnior”. Embora a Gabi estivesse registrando alguns momentos com uma filmadora, ela não conseguiu pegar essa pérola. Ao seu lado, Fernanda tirava fotos para o continuísmo. Momento ímpar: Eduardo me contando uma história sobre sua descendência canina. Quando tiveres oportunidade, pede pra ele te contar sobre isso...

Um episódio a parte foi o da já famosa pedra. Cris e Cainã produziram uma pedra cenográfica perfeita para a cena, mas ela era de isopor e ventava muito no set. Num determinado momento, vemos o Marcelo correndo feito louco atrás da pedrinha, que fazia sozinha uma curva a lá Fórmula 1 e seguia animada pela Av. Mauá. Destaca-se também a péssima pontaria do Soriano, que tinha a missão simples e divertida de jogar a tal pedra na cabeça do Edu. Uma. Duas. Três tentativas. Nada. Começamos a cogitar em trocar o Soriano por um dublê de arremesso, pois era óbvio que o ator tinha tido uma infância frustrada, na qual ninguém o escolhia para parceiro de taco. Não precisou. A pedra pipocou e a cena ficou nada menos que perfeita.

A função foi até às 7 da noite. Reunimos os remanescentes na Cidade Baixa para bebemorar (vide foto) e comentar sobre as atrocidades que cometemos no decorrer do dia. Nos fodemos afu: acordamos cedo, queimamos no sol, aturamos toda sorte de contratempos técnicos, corremos de um lado para o outro como baratas tontas, viramos quase 11 horas de função...olha...não sei dos outros, claro, mas pra mim foi simplesmente tudo espetacular. O tipo de trip que alucina, motiva, nos enriquece, mesmo que ninguém esteja ganhando um tostão furado. Filmar é a melhor função do mundo, minha gente. E com essa equipe então...


No próximo domingo tem mais...

Um comentário:

Maria Morena Maia disse...

Agoar entendi porque estão todos bronzeadíssimos no retrato. Inveja me pega às vezes. Fiquei imaginando mentalmente a correria dessa turma toda. Queria fazer parte dela. Inveja me pega mais vezes do que eu realmente gostaria. Até.