quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Requiém.

Hoje é um dia triste. Um homem de idéias, que se importava com os outros e se interessava pelas coisas simples, um irmão, um amigo verdadeiro, alguém que foi como um anjo no meu ombro este ano, simplesmente morreu. Assim. Vítima de uma forte pneumonia, daquelas que todo mundo um dia teve na vida, mas que o abateu de tal forma que seus últimos dias foram somente de dor.

Este homem, este amigo – esta mão que me acolheu e me mostrou tantas coisas – deu infindáveis certezas do quanto a vida podia ser bonita, do quanto o belo podia se manifestar no simples, no básico, no dobrar de uma esquina, numa singela mensagem de bom dia, numa esperança de um acontecimento trivial qualquer, pois ele conseguia ver a beleza onde, para outros, só havia rotina, só havia o vazio.

Hoje é um dia triste. Essa perda me atordoa de tal forma que sei que nunca mais serei o mesmo. Porque sei que um pedaço de mim se foi. Um pedaço importante. Um pedaço humano muito grande. Aprendi com esse cara a ser sincero, honesto, a esperar coisas boas das pessoas, a ver a humanidade com olhos de criança, que sempre espera por uma brincadeira. Aprendi a confiar, a sorrir sem compromisso, a sugar da vida a vitalidade de um campeão, a manifestar os sentimentos mais puros e lindos que alguém pode ter. Ele me mostrou isso de forma íntegra, sem cobranças, sem esperar nada em troca. Esperava de mim apenas a certeza de que eu me esmeraria em ser uma pessoa melhor. Era sua única meta: me fazer crer que, embora eu sempre tenha apanhado, a vida podia ser boa pra mim e eu podia voltar a ser feliz.

É terrível quando alguém tão crucial para a gente se vai. Desaparece. Deixa de existir. Como se fôssemos um barco, no meio do imenso oceano, e essa pessoa tão especial fosse nossa força motriz, nossa vela. Uma música que ilustra muito do que esse amigo significou para mim é a que está abaixo:

O Barco e a Vela (Carlos Lyra)

O seu olhar, quase sempre distante
em algum lugar que nem imagino.
Talvez eu seja louco o bastante
e vá seguir você até o fim do mundo.

Vaguei sozinho por lugares perdidos,
correndo atrás de alguém que não merecia.
Você me fez olhar pro horizonte
e ver um lado meu que eu não conhecia.

Não sei se o seu barco tem vela,
nem sei se o seu lago tem fundo.
Mas quem quer saber de respostas,
se a vida é tão breve e muda a cada segundo.



E de repente, eu fiquei sem vela...

Hoje é um dia triste. Iniciou chuvoso e persistiu até que um temporal se abateu sobre minha cabeça, prenunciando essa pequena e inconfessável tragédia. Como diria Stalin, a morte de um realmente é uma tragédia, e a de muitos, uma estatística. Tenho medo, muito medo, que a morte de hoje tenha me transformado em alguém como esse russo.

Amigo, espero que tu faças tantas outras pessoas felizes como me fez, mesmo que por um punhado de meses. Te conheci por pouco tempo, tentei aproveitar o máximo dos conselhos que me deste, tentei ser uma pessoa melhor. Infelizmente, meu grande amigo, meu novo e velho muito velho amigo, sem ti, eu não conseguirei ser uma boa pessoa. Não conseguirei ver coisas boas como vi, nem sentir o que senti, nem me doar como me doei, pois contigo, como eu disse acima, foi embora o pedaço de mim que mais valia a pena.


Adeus, meu amigo, e obrigado. E se um dia voltares, eu estarei aqui, de braços abertos, para sorrir de novo.

Um comentário:

Maria Morena Maia disse...

Toda perda traz tristeza, melancolia...mas como você bem o disse, já bebemos este corpo e agora é cantar pra ele subir. E pra maré melhorar, já que depois da tempestade...Você já sabe. Até.