Essas coisas sempre acontecem numa pausa de produção: enquanto enfrentamos um recesso de duas semanas sem filmagem, a vida segue com suas pérolas e algumas promessas. Quando se trata da minha vida então...
Numa dessas madrugadas, minha produtora e eu estávamos num papo descontraído no MSN, colocando algumas coisas em dia sobre o curta Os Batedores e jogando conversa fora. Alguns minutos sem trocar palavras e ela volta com a seguinte frase:
- Fui no banheiro cagar e tive uma idéia.
Uma dama, sem dúvida. A idéia, que poderia ser uma merda, acabou chamando meu cumpadre (que teclava com sua amada, da casa dele, por MSN) pra conversa: fazer uma zine sobre cinema independente em Porto Alegre, com o selo da Arquivo Morto. Opa, como assim? Isso mesmo. Começar com algo pequeno e de tiragem limitada, bem boca de rua mesmo, mas com material interessante sobre esses realizadores de cinema de guerrilha e seus projetos. Seria um meio de reunir esse núcleo cinematográfico (aproveitando que o cinema daqui é um ovo) e de divulgar o nosso selo. O que no começo soou como algo estranho pra mim, logo fez brilhar os olhos do meu cumpadre, que dizia “conta mais” pra moça. No fim, acabei gostando um bocado da idéia e o papo rendeu. Com água na boca, ficamos de verificar isso assim que terminássemos o curta.
Ainda na madruga e sem sono, passei um bom tempo trocando links de vídeos interessantes do You Tube com outro amigo meu. Ele havia me dito certa vez que não assiste mais TV: quando quer se divertir, ele digita “idiota” no search do YT e passa a noite toda rindo. Pelo menos ele dá um tempo na masturbação. Algumas dessas maravilhas que trocamos podem ser conferidas nos links abaixo:
PULP FICTION IN TIPOGRAPHY -> O diálogo mais clássico do cinema nos últimos 20 anos mostrado de um jeito original e irreverente. Assista com o som alto.
ROCKY EM 5 SEGUNDOS -> A saga do boxeador Nº 1 da Filadélfia contada em 5 segundos. “Rushpatoish!”
O PAI DAS PUTA -> Vídeo comentado à exaustão por um certo bixcoito de Sta. Maria. Dublagem de Hermes e Renato para algum filme chinês da década de 70. “Pááára de botar pilha.”
300 UNITED -> Crossover dos filmes “300” e “United 93”, onde os espartanos combatem terroristas num avião. “Madness? This is United!”
Um sono num sofá apertado depois...
Meu pescoço era um “s” e o sol batia forte na minha cara de manhã cedo. Seria mais um dia de correria rotineira e uma prova de Matemática Financeira me esperando no fim da trilha. Que diabos. E eu lá sei algo sobre análise de investimentos? Como de praxe, não tive tempo de estudar e eu precisava tirar 7 pra passar na risca. Minha sorte é que tenho uma relação estranha com essa matéria: eu sempre acerto tudo, errando somente o que eu não fiz. E sempre tem alguma que eu não faço. Nada de ficar quebrando a cuca para achar uma saída. Sou um sujeito prático. Se não sei, rabisco um “x” bem grande na folha e era isso. Quando começou a prova, matei três das cinco questões no ato. Uma eu deixei, afinal, não sei fazer análise de investimentos, e a última tava foda, mas eu tinha a impressão de que poderia resolvê-la. Quando estava quase chegando num entendimento com o problema, eis que a mente se desvencilha dos números e me vejo viajando em uma música da qual eu sempre gostei e cujo clip dela encontrei no YT, pouco depois de dar boa noite ao meu amigo na noite anterior. Segue a letra:
Hurt (Johnny Cash)
I hurt myself today
To see if I still feel
I focus on the pain
The only thing that's real
The needle tears a hole
The old familiar sting
Try to kill it all away
But I remember everything
What have I become
My sweetest friend
Everyone I know goes away
In the end
And you could have it all
My empire of dirt
I will let you down
I will make you hurt
I wear this crown of thorns
Upon my liar's chair
Full of broken thoughts
I cannot repair
Beneath the stains of time
The feelings disappear
You are someone else
I am still right here
What have I become
My sweetest friend
Everyone I know goes away
In the end
And you could have it all
My empire of dirt
I will let you down
I will make you hurt
If I could start again
A million miles away
I would keep myself
I would find a way
A madrugada (horário em que reanimei essa música na minha vida) nos convida a sermos melancólicos, mas é assustador pacaralho quando uma música tão poderosa e desoladora te descasca como uma laranja. Como se Reznor a tivesse escrito sob medida. Uma Centúria. Uma premonição do que viria ser uma descrição exata do que andou se passando por aqui. Mas que inferno. Eu sempre gostei de Johnny Cash, mas por que ele resolveu cantar nos meus ouvidos justo no meio de uma prova de Matemática?
É claro que eu sei, e é claro que a parte que diz “try to kill it all away, but I remember everything” se encaixa como uma luva (como todo o resto da música), mas faz um tempo que decidi que faço o que for preciso pra fazer as coisas acontecerem, não importando os meios ou se vou me foder depois, desde que a missão seja concluída, tal qual Jack Bauer. Pra não ser um mau caráter total com esse estilo de vida, basta tentar ser sábio e escolher direito as missões. Olhei pra última questão, que eu sabia que era pra ser resolvida por série de pagamentos, e matei ela com fórmulas de outra matéria. Dane-se. Meu objetivo era descobrir o valor de um parcelamento e eu descobri.
Saí da PUC corrido. Eu precisava de uma cerveja. Liguei pro amigo dos vídeos, que estava com outro faixa nosso, e fomos pro Bell’s, um barzinho super conhecido da Cidade Baixa e também o maior agrupamento de figurantes de curtas de Porto Alegre. O Bell’s é um lugar encantado onde tu encontra de tudo: ogros, lolitas, dublês de Lenny Kravitz, carecas baixinhos que pensam ser Elvis, entre outras esquisitices. Embora a ceva seja gelada e baratinha, não parece ser o tipo de lugar onde tu seria puxado por uma gata para dentro do banheiro das mulheres para conversar com ela mais de perto, parece? Bem, se essa moça tão gracinha ler isso, fique sabendo que meu All Star cano longo é mais clássico e que minha camiseta é lilás, e não rosa. Ah, e também adorei te conhecer.=)
No mais, meus amigos e eu findamos a noite com muita bebida e uma premissa: um deles está saindo do apê onde morava e quer dar uma festa neste sábado para destruir com a estrutura do lugar e a paz dos ex-vizinhos. Segundo informes, metade de Poa vai estar lá. A outra metade vai só tentar entrar.
Eu sou da metade que vai estar lá, e tu?
***
Dica de lugar:
Bell’s Bar: Rua José do Patrocínio, 290 – Porto Alegre
Quer ficar de pé, quase no meio da rua, com um monte de gente que está na mesma situação e dar risada disso enquanto enche a cara com pouca grana? Este é o Bell’s. Um buraco negro inexplicável onde todo mundo se acha (as vezes tu tens de cruzar com criaturas desagradáveis, mas isso é obra da democracia e não do lugar, fazer o quê…). A iguaria culinária do treco é o Bell’s Burguer, que eu cometi o sacrilégio de ainda não ter provado. Dizem que é o lanche de dois reais mais responsa da Cidade de Deus.
De segunda a sábado, o Bell’s é uma ótima alternativa para fim de noite…ou início de dia.
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Um comentário:
De dica em dica tenho quase um roteiro do que fazer em POA quando estiver por aí. Até.
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