sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Boa noite, boa sorte.

Insólita, alcoólica, histórica. São algumas palavras que podem descrever minha noite de ontem, que começou logo com um convite de um amigo para uma festa e coquetel da revista Noize, no Cabaret do Beco.

Eu, como todo bom alienado, desconhecia a existência da revista. Ontem pude folhear e descobrir do que se trata: uma revista voltada para a música, com matérias, dicas, reportagens interessantes sobre costumes, artes e atualidades. Tudo super bem escrito e com excelente acabamento. O mais interessante é que o treco possui tiragem de 10 mil exemplares e é de grátis, distribuído em alguns picos famosos e universidades daqui. Este amigo, além de colunista, faz cobertura de shows e resenhas de CD’s para a revista.

Bem, estávamos ele, eu e outro amigo no Beco, já empinando alguma coisa cedida pelo coquetel (uma mistura de algum energético estranho com vodca, que ganhava uma coloração verde). Uma espécie de licor negro também estava sendo doado aos mais sortudos (não é o meu caso). O lance começou a bombar. A música e a descontração pegando. Então recebo um torpedo. Um torpedo da garota do Bell’s (aquela do outro post), perguntando quanto estava pra entrar no Beco e dizendo que talvez fosse, talvez não fosse pra lá. Já tinha perdido o colunista de vista e meu outro amigo já andava com o orçamento estourado e olhando o relógio:

- Tenho que trabalhar cedo amanhã. Dizia o fruta.

Quando fazemos uma última ronda e estamos subindo para ir embora, eis que este meu amigo esbarra com uma garota. Ela cochicha algo no ouvido dele. Ele amarra a cara e aponta pra mim: era a garota do Bell’s. Havia se separado do grupo de amigos, que preferiram ir para outro lugar da noite, e estava ali, sozinha.

Estava.

Me despedi dos meus amigos e ficamos, ela e eu, dançando despreocupados. Os sorrisos iluminados pela luz negra. Olhares. Beijos. Dança. Mais olhares. Mais beijos. Súbito, uma pergunta dela para uma das funcionárias do Beco:

- Ele pode tirar a camisa aqui?

O mais engraçado é que a funcionária respondeu:

- Só um pouquinho que vou verificar.

E ela FOI se informar. Claro que não deixaram, mas foi muito divertido. Quando as músicas começaram a ficar ruins (o DJ devia estar cansado), decidimos ir encontrar os amigos dela num estranho bar da Osvaldo Aranha. Um dos caras nos pegou de carro na frente do Beco e já constatei o estado do moço quando ele arrancou o carro com a porta aberta antes de eu entrar. Com um sotaque pra lá de carioca, o motora saiu cantando pneu e quase entrou embaixo de uma Kombi, que passeava inocente pela Av. Independência.

- Foi mal, bicho.

Chegamos no tal bar da Osvaldo (o qual não lembro do nome com clareza). Sinistro. Muito sinistro. Não havia letreiro, nem placa. A porta, feita de metal e vidro quebrado, mostrava apenas uma escada na penumbra lá dentro. Do lado de fora, um rastro de sangue fresco. Muito sangue. Muito fresco. Alguém tinha se fodido muito ali, e o pessoal lá em cima, bebendo e conversando alto enquanto riam. Logo o falatório cessou e as luzes se apagaram. Nós ficamos a ver navios, apenas esperando o pessoal sair do lugar. Não entramos. Não fomos convidados.

Jogamos sete pessoas dentro do carro e fomos todos para o fim de noite mais famoso da cidade: o Van Gogh. Para os que não conhecem o lugar, basta dizer que é o reduto da finaleira. Se o Bell’s é uma ótima opção para o fim de noite, o Van Gogh seria o fim de noite institucionalizado. Toda sorte de vagais, barangas, veteranos, mafiosos, boêmios, drogados e afins, enfeitam as mesas do lugar. Claro que há também os festeiros e os beberrões, classes as quais nosso grupo pertencia.

Momento Salvador Dali: quando fui ao banheiro tirar água do joelho e aproveitei pra tentar me arrumar no espelho. Um senhor, velha-guarda total, de camisa vermelha sangue e sapatos caramelos, pára de urinar, vira pra mim e diz:

- Tu não me leva a mal meu jovem, mas tu tá bonito pacaralho.

- Só tentando sobreviver, amigo.

Na mesa, o papo corria solto e os assuntos variavam de bombas caseiras (e fáceis de fazer) ao preço do pacote de maconha. Quando um dos garçons voltou para nos atender, eis que a garota do Bell’s lhe fez a pergunta que não queria calar:

- Ele pode tirar a camisa aqui?

O garçom disse algo sobre ser parceiro se o pedido fosse para uma mulher e se retirou...

O dia clareou e a fome bateu. Vale lembrar que o Van Gogh só serve algo da cozinha até as 6 da manhã e já era 7. A garota deu a idéia de irmos para a Lancheria do Parque. Fomos somente os dois. Pedimos cachorros-quentes e começamos a conversar sobre as coisas da vida, do universo e tudo o mais. Curioso como ela (uma mulher tão mais jovem) e eu temos inúmeras coisas em comum: alguns pontos de vista, definições, gostos...enfim...foi tudo muito estranho e bom, até bater 8 da manhã e eu ter de me mandar para o estágio, sem ter dormido.

Hoje o dia foi de cochilos e torpedos.

***

Dica de lugar:

Van Gogh: Rua da República, 14 – Porto Alegre

O fim de noite mais famoso de Porto Alegre. Lá ninguém paga mico. Ninguém vai te olhar feio por não gostar da tua roupa e a sopa de capelletti é a mais confirmada para curar ressaca. É o lugar onde tu sempre entra de noite e sai de dia. Incondicional.

From Dusk Till Down!

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