Estava pensando se iria escrever algo sobre o seriado Prison Break aqui no blog. Era uma série que eu achava bacana, mas que vinha se mostrando irregular, principalmente, depois da famosa greve dos roteiristas, entre 2007 e 2008. Tudo levava a crer que o cancelamento estava a caminho, até que a confirmação veio quando a Fox anunciou, no final do ano passado, que esta 4ª temporada seria também a última. Então estava eu convicto de que iria escrever algo sobre a série se o Season Finale fosse bombástico, ou muito inovador...até que baixei, nesta segunda-feira passada, os dois últimos episódios. Assisti, pensei, e acabei ficando na obrigação de registrar a minha impressão sobre o programa.
Como muitos seriados (mas não todos) que acompanho atualmente, comecei a assistir a saga de Michael Scofield no ano passado - este, por intermédio de uma indicação da minha prima seriadomaníaca (certamente, mais do que eu). Foi uma boa indicação, juro. Para tentar provar isso, vou fazer um apanhado sobre a história de Michael e sua lida para libertar seu único irmão da Penitenciária Fox River através da mais ousada fuga já registrada.
Prison Break tinha uma história simples. A premissa, basicamente, era a da pena de morte de Lincoln Burrows por um crime que não cometeu, e o plano de seu irmão (o já mencionado Michael), para tirá-lo da cadeia antes da data de execução. Mas, como também já comentado, não se tratava de uma fuga qualquer: Scofield era um brilhante e bem sucedido engenheiro, dotado de alto QI, especialista em estruturas e, por pura coincidência, a empresa onde trabalhava foi a construtora de Fox River.
Dotado das plantas do lugar (escondidas em uma gigantesca tatuagem que cobria boa parte do seu corpo), Michael resolve que tirará seu irmão condenado da prisão, mas pelo lado DE DENTRO. O cabra assalta um banco à mão armada, se rende e, claro, pega 5 anos de prisão...em Fox River. É o início do que seria uma temporada impecável.
Prison Break virou sucesso de público e crítica. O mirabolante plano de Scofield não só trouxe altas doses de adrenalina nos espectadores, como cativou, episódio por episódio, uma grande fatia do público. Era óbvio que o plano de Michael não sairia como planejado, afinal, ele contava com o auxílio de outros presos; e pessoas, todos sabem, são imprevisíveis. Do lado de fora da penitenciária, uma advogada (amiga dos irmãos) investiga os fatos que levaram à prisão de Lincoln, até que se descobre que uma poderosa “Companhia” foi a responsável pela armação, e não descansará enquanto Burrows não seja tostado na cadeira elétrica.
Como todo bom drama penitenciário, há o carcereiro filho da puta, o psicopata, o velho prisioneiro sábio, o mafioso, o consegue-tudo, o trombadinha, o troglodita (que, neste caso, é o próprio Burrows) e Michael Scofield: um bom moço no meio de tudo isso, colocando sua massa cinzenta para funcionar enquanto a panela esquenta absurdamente. A receita é velha, mas funcionou com Prison Break de um jeito que conquistou fãs no mundo todo, através de episódios com situações críticas e personagens envolventes. Admito que até eu roía as unhas durante a 1ª temporada, que terminou, é claro, com a famigerada fuga dos Oito de Fox River.
Mas quem eram esses cabras, afinal?
MICHAEL SCOFIELD (Wentworth Miller) – Personagem principal da série. Meticuloso e brilhante, Michael aliou seu ousado plano a sua cara de bom moço (combinando com seu aspecto de guri burguês) que enganava muita gente da penitenciária (como o Diretor Pope, e a Dra. Sara, por exemplo). Com engenhosidade e muita sorte, conseguiu tirar o irmão de Fox River, mas acabou levando anexos.
LINCOLN BURROWS (Dominic Purcell) – O motivo da bagaça. Grande e “burro” (Hã? Entenderam o trocadilho? Hein?), Lincoln conseguiu ser incriminado por assassinatos que não cometeu umas 3 vezes durante a série. Seu ponto fraco (fora a atuação duvidosa de Purcell) era L.J., seu filho, também conhecido como “o garoto-refém”.
THEODORE “T-BAG” BAGWELL (Robert Knepper) – Com uma singela história de família (fruto do estupro da irmã com Sindrome de Down pelo próprio pai alcoólatra), T-Bag era o pior elemento de Fox River. Estuprador, assassino e líder da Gangue Ariana da penitenciária, não podia ver um buraco andando que já tinha pensamentos libidinosos. Este aspecto de constante perigo fez de Bagwell um ótimo personagem, até perder a mão esquerda no final da 1ª temporada (e, junto com ela, o mojo).
JOHN ABRUZZI (Peter Stormare) – Um dos Capos da Máfia de Chicago, Abruzzi era o instável responsável pela IP (Indústria da Prisão). Em um excelente momento da trama, arrancou três dedos do pé de Michael com uma tesoura de jardinagem (ah, bons tempos de 1ª temporada...). Também foi o primeiro dos Oito a cair.
FERNANDO SUCRE (Amaury Nolasco) – Colega de cela de Michael e clone chicano de Sérgio Mallandro, Sucre tinha seus motivos românticos para fugir de Fox River (a famigerada Marisol, que depois de trocentos episódios – juro – já dava vontade de matá-la). Infelizmente (para nós), o personagem era fraco e seu drama pessoal estava longe de convencer. Fernando só não era mais bucha que...
BENJAMIN “C-NOTE” FRANKLIN (Rockmond Dunbar) – Ex-militar e pai de família, ele era o cara que conseguia qualquer coisa para os internos de Fox River (costume que, na verdade, o colocou lá). Pode parecer implicância, mas toda vez que C-Note aparecia, dava vontade de desligar a tela. Ele era MUITO irritante, quebrava o “status quo” da cooperação mútua que a fuga exigia (em outras palavras, pensava apenas nele – como todos ali – mas era o único que transparecia isso) e não agregava absolutamente nada à trama.
DAVID "TWEENER" APOLSKIS (Lane Garrison) – O mais novo dos Oito. Tweener era um batedor habilidoso que entrou em Fox River na segunda metade da 1ª temporada. Embora não fosse tão importante na trama, Apolskis serviu para mostrar as verdadeiras intenções do agente do FBI encarregado da captura dos condenados, na 2ª temporada.
CHARLES "HAYWIRE" PATOSHIK (Silas Weir Mitchell) – Embora quase todos os novos camaradas de Michael fossem sociopatas, Haywire era o único que tinha laudo médico para comprovar isso. Charles habitava a ala psiquiátrica de Fox River, até ser realocado para a cela de Michael por uns tempos, e acabar virando uma das peças-chave para a fuga. Ele dava medo, mas era divertido.
Devido a aceitação estrondosa da série, a Fox se viu na obrigação de emendar uma nova temporada, desta vez, abordando a caçada humana desses fugitivos. Embora a idéia também fosse velha, e mesmo assim empolgante, a 2ª temporada pode ser considerada o começo do fim para a qualidade de Prison Break. Não que seja uma temporada ruim: a adesão de William Fichtner como o corrupto agente do FBI Alexander Mahone, trouxe um adversário respeitável para a engenhosidade de Scofield e seus asseclas, que escorregam das garras da polícia e do agora ex-carcereiro Bred Bellick (Wade Willians, ótimo), que resolve virar caçador de recompensas e tem motivos de sobra para erradicar os 8FR. Foi realmente uma ótima temporada (principalmente quando os integrantes dos Oito começaram a bater as botas), mas começou a ter problemas em larga escala quando o assunto era a maldita Companhia.
A entidade que criou todo esse furdunço, ao meu entender, foi a grande responsável pelos rombos de roteiro e pela desgraça que assolou Prison Break, fazendo a série perder o brilho da totalmente excelente 1ª temporada, numa linha decrescente de qualidade. Com verdadeiros ataques de esquizofrenia, os roteiristas não decidiam quais eram os planos da Companhia e de seu principal agente: Paul Kellerman infernizou a vida dos nossos heróis por toda a história e, no final da 2ª temporada, acabou não só confessando todos os seus crimes, como entregando a Companhia e inocentando Lincoln e Sara Tancredi (a mesma Dra. Sara de Fox River, que era par romântico de Michael e uma das principais responsáveis pela fuga dos 8FR). C-Note, o mais água com açucar dos fugitivos, conseguiu um acordo com o FBI para entregar a cabeça de Mahone, que andava serelepando e matando os recapturados. Sucre saiu da trama para cuidar da filha recém nascida e de Marisol, ao passo que a Companhia (num plano mirabolantemente ruim) conseguiu prender o resto dos fugitivos (inclusive Mahone e Bellick, cuja única desculpa de terem sido presos junto com os outros era o fato de serem excelentes personagens) em uma prisão panamenha chamada Sona.
Está certo: admito que o final da 2ª temporada prometia uma 3ª interessante, afinal, Sona era retratada como um verdadeiro inferno. Vi em um documentário que o criador da série se inspirou em Carandiru para criar a penitenciária: “uma prisão no Brasil onde os presos é quem ditam as regras”, segundo Paul Scheuring (mal sabe ele que todas as prisões aqui são assim, mas tudo bem). O fato é que a truculência de Sona, os novos e fracos personagens e a missão de Michael (sair de lá com James Whistler, um preso que continha informações valiosas para a Companhia) caíram como uma bomba na série. T-Bag, o mais ardiloso e odiado dos 8FR, mudou de personalidade e virou um humilde servo do líder negro Lechero (os roteiristas esqueceram completamente do fato de Bagwell ser uma bicha racista). Bellick estava abaixo do cu do cachorro, na rabeira de um sistema de castas da penitenciária que não foi sequer explicado. Burrows não servia para absolutamente nada. Sara morreu, mas só mostraram uma cabeça decepada (certamente os produtores tiveram problemas em usar a atriz Sarah Wayne Callies). E Michael só tinha a improvável ajuda de Mahone, o outrora responsável pela caçada que culminou com a morte do pai dos irmãos fugitivos.
Com a greve dos roteiristas no auge e a qualidade ruindo, a 3ª temporada encerrou seus trabalhos de modo abrupto e tosco, no seu 16º episódio (normalmente eram vinte e poucos episódios). Com um plano marca-diabo, Michael, Mahone e o tal Whistler conseguiram fugir de Sona. Bellick e T-Bag continuaram presos. Sucre, que voltou pra série só pra ser encanado, também foi para Sona. Dessa forma desengonçada, os produtores encerram a 3ª temporada, que deveria ser a última MESMO...
MAS...eis que resolvem arriscar a quarta e última temporada, numa desculpa esfarrapada de que a história havia sido planejada para quatro seasons desde o começo (ahã, me engana que eu gosto). Logo no primeiro episódio, Burrows (que compete ferrenhamente com C-Note para ser o personagens mais bucha de Prison Break) é preso. E lá vai Michael se entregar DE NOVO para livrar a cara do irmão DE NOVO. Desta vez, o dono da bola é Don Self, (o gorducho Michael Rapaport) um agente da Segurança Nacional que precisa das informações que Michael pode ter conseguido com Whistler (seu parceiro de fuga), a respeito de Scylla: um dispositivo ultra-super-plus-advanced que contém tudo o que de fato é importante para a Companhia (personificada na figura do Coronel Krantz, que já havia aparecido como o “bam-bam-bam” da Companhia na 2ª temporada). A obstinação do Coronel em proteger Scylla é o primeiro grande empecilho para Self, que monta um grupo para roubar o dispositivo. Entra em campo o Scylla Team: Michael, Lincoln, Mahone, Sara (que voltou dos mortos, afinal, não dava pra ver muito bem “de quem” era a tal cabeça decepada), Roland Glenn (um hacker asiático que não dura muito), Sucre e Bellick (que saíram de Sona pela porta da frente, logo após T-Bag meter fogo na penitenciária e Michael ter ficado puto da cara de não ter pensado nisso antes) são recrutados por Self, que promete conseguir perdão total para os membros do grupo, em troca de Scylla.
Numa megalomania que só ficaria convincente no seriado 24, o tal dispositivo não somente tem todos os arquivos pessoais da Companhia, como possui projetos tecnológicos que poderiam, literalmente, mudar o mundo. Neste ponto, o que já estava ruim, ficou ainda pior. A missão de Michael agora não era mais fugir de algum lugar, e sim roubar Scylla de uma instalação de máxima segurança: antes, para entregar o treco à Don Self e finalmente sair livre; depois (quando Don revela ser um novo vilão), para não deixar Scylla nas mãos do General e salvar o mundo (curiosamente, este dispositivo sempre esteve nas mãos do General, e ele nunca o tinha usado antes para tal finalidade). O que era simples questão de sobrevivência (bons tempos em que a coisa toda era só resgatar um retardado condenado à morte), virou um jogo de guerra dos brabos, onde todo mundo quer botar as mãos no dispositivo.
Com trejeitos de Esquadrão Classe A e Missão Impossível, a série seguiu nas incoerências dos roteiristas (provavelmente estagiários). A saída para Mahone e os irmãos trabalharem lado a lado numa boa foi das mais desleais: a Companhia mata o filho do ex-agente e todo mundo fica feliz. Michael descobre que tem uma doença que pode ser terminal se a Companhia não usar de seus especialistas para curá-lo. T-Bag tenta se tornar um cidadão de bem com uma identidade falsa (logo o T-Bag????). Bellick, que sempre foi uma puta pedra no sapato da galera, morre como herói. Sucre abandona o time (como se ainda não tivesse o rabo preso) e volta para sua família. A mãe dos irmãos também volta dos mortos (ressurreição é uma mania decorrente na série, como veremos uma vez mais).
Depois de uma longa pausa nas exibições (de dezembro de 2008, até o mês passado), a já gelada Prison Break prosseguiu no que seria o derradeiro circo de horrores da reta final. Além da correria acerca de Scylla e da destruição dos personagens que muita gente aprendeu a gostar (repito, principalmente pela incrível 1ª temporada), nossos heróis roteiristas resolveram despejar alguns elementos de novela das oito no seriado: Christina (Scofield's Mom) torna-se a principal vilã, Michael descobre que Lincoln não é seu irmão de sangue e, faltando 3 episódios para o encerramento da série, Sara faz um teste de gravidez...
Para não dizer que sou espírito de porco, aguardei os últimos dois episódios com certa esperança de que alguma coisa dessa loucura toda se solucionasse de modo eficaz, ou mesmo meramente convincente. Baixei o treco e, como disse antes, me obriguei a dizer algo a respeito (daqui para frente, usarei o artifício dos pontos de interrogação para tentar ilustrar minha impressão a respeito desta Series Finale).
Lincoln passa os dois episódios inteiros sangrando...e não morre (?). Michael, um homem que não é de ação, escala um prédio (??) para salvar Sara de T-Bag. Mahone resgata Lincoln, mesmo que isso signifique uma bala na cabeça de sua esposa (???). Como trunfo na manga, o General ameaça matar Sofia (namoradinha que Burrows descolou no final da 3ª temporada e que não aparecia na trama desde lá), em vez de ameaçar L.J., que está em seu poder (????). C-Note volta do limbo com uma saída milagrosa para tudo (?????). Recruta Sucre (??????). E a solução milagrosa é...Kellerman (???????), que tinha aparentemente morrido no final de 2ª temporada e que, agora, trabalha para a ONU (????????).
Fica ainda melhor: usando EXATAMENTE a mesma estratégia “Homem-Aranha” que Michael usou para invadir o QG do General, C-Note e Sucre entram no apê e salvam o dia (que diabo de General é esse que cai duas vezes no mesmo truque?). Michael leva um tiro no ombro e Sara (que é médica) manda ele ir entregar Scylla para a ONU, sem cuidar do ferimento (?????????).
Para fechar com chave de ouro, tudo termina com Michael, Lincoln, Sara, Sucre, Mahone e C-Note reunidos numa mesa, onde assinam a papelada do perdão.
- Mas e Pam? – Pergunta Mahone, sobre sua esposa, que estava sendo ameaçada pelo General.
- Ela está salva. – Responde Kellerman.
- E L.J.? – Pergunta Lincoln.
- Ele também está salvo. – Responde Kellerman, como se fosse um pastor de igreja.
Tudo simples assim. Sem explicar porra nenhuma. As coisas simplesmente iam acontecendo e o público (no caso, EU) ia engolindo. Pouco antes da cena final (que foi a única coisa que salvou o episódio), o absurdo máximo se fez presente quando mostram o destino de cada um dos personagens depois de quatro anos, e descobrimos que Kellerman, o mesmo cara que assumiu dezenas de assassinatos publicamente na 2ª temporada, virou SENADOR (???????????????????????????????????????).
Com um final de episódio bucólico e triste, Prison Break partiu com aquele gosto desagradável de algo que poderia ser lembrado somente pelo excelente entretenimento proporcionado em sua arrancada. É o que eu chamo de Síndrome de Arquivo-X, onde os executivos forçam a barra de um programa bacana (porque ele se mostra rentável e fideliza o público) e o sugam até o mesmo ser lembrado apenas por seu péssimo desfecho.
Uma pena mesmo. Prison Break, para mim, só teve duas temporadas.
AVISO, EM LETRAS GARRAFAIS, QUE O TEXTO CONTÉM SPOILERS A PARTIR DAQUI.
Como muitos seriados (mas não todos) que acompanho atualmente, comecei a assistir a saga de Michael Scofield no ano passado - este, por intermédio de uma indicação da minha prima seriadomaníaca (certamente, mais do que eu). Foi uma boa indicação, juro. Para tentar provar isso, vou fazer um apanhado sobre a história de Michael e sua lida para libertar seu único irmão da Penitenciária Fox River através da mais ousada fuga já registrada.
Prison Break tinha uma história simples. A premissa, basicamente, era a da pena de morte de Lincoln Burrows por um crime que não cometeu, e o plano de seu irmão (o já mencionado Michael), para tirá-lo da cadeia antes da data de execução. Mas, como também já comentado, não se tratava de uma fuga qualquer: Scofield era um brilhante e bem sucedido engenheiro, dotado de alto QI, especialista em estruturas e, por pura coincidência, a empresa onde trabalhava foi a construtora de Fox River.
Dotado das plantas do lugar (escondidas em uma gigantesca tatuagem que cobria boa parte do seu corpo), Michael resolve que tirará seu irmão condenado da prisão, mas pelo lado DE DENTRO. O cabra assalta um banco à mão armada, se rende e, claro, pega 5 anos de prisão...em Fox River. É o início do que seria uma temporada impecável.
Prison Break virou sucesso de público e crítica. O mirabolante plano de Scofield não só trouxe altas doses de adrenalina nos espectadores, como cativou, episódio por episódio, uma grande fatia do público. Era óbvio que o plano de Michael não sairia como planejado, afinal, ele contava com o auxílio de outros presos; e pessoas, todos sabem, são imprevisíveis. Do lado de fora da penitenciária, uma advogada (amiga dos irmãos) investiga os fatos que levaram à prisão de Lincoln, até que se descobre que uma poderosa “Companhia” foi a responsável pela armação, e não descansará enquanto Burrows não seja tostado na cadeira elétrica.
Como todo bom drama penitenciário, há o carcereiro filho da puta, o psicopata, o velho prisioneiro sábio, o mafioso, o consegue-tudo, o trombadinha, o troglodita (que, neste caso, é o próprio Burrows) e Michael Scofield: um bom moço no meio de tudo isso, colocando sua massa cinzenta para funcionar enquanto a panela esquenta absurdamente. A receita é velha, mas funcionou com Prison Break de um jeito que conquistou fãs no mundo todo, através de episódios com situações críticas e personagens envolventes. Admito que até eu roía as unhas durante a 1ª temporada, que terminou, é claro, com a famigerada fuga dos Oito de Fox River.
Mas quem eram esses cabras, afinal?
MICHAEL SCOFIELD (Wentworth Miller) – Personagem principal da série. Meticuloso e brilhante, Michael aliou seu ousado plano a sua cara de bom moço (combinando com seu aspecto de guri burguês) que enganava muita gente da penitenciária (como o Diretor Pope, e a Dra. Sara, por exemplo). Com engenhosidade e muita sorte, conseguiu tirar o irmão de Fox River, mas acabou levando anexos.
LINCOLN BURROWS (Dominic Purcell) – O motivo da bagaça. Grande e “burro” (Hã? Entenderam o trocadilho? Hein?), Lincoln conseguiu ser incriminado por assassinatos que não cometeu umas 3 vezes durante a série. Seu ponto fraco (fora a atuação duvidosa de Purcell) era L.J., seu filho, também conhecido como “o garoto-refém”.
THEODORE “T-BAG” BAGWELL (Robert Knepper) – Com uma singela história de família (fruto do estupro da irmã com Sindrome de Down pelo próprio pai alcoólatra), T-Bag era o pior elemento de Fox River. Estuprador, assassino e líder da Gangue Ariana da penitenciária, não podia ver um buraco andando que já tinha pensamentos libidinosos. Este aspecto de constante perigo fez de Bagwell um ótimo personagem, até perder a mão esquerda no final da 1ª temporada (e, junto com ela, o mojo).
JOHN ABRUZZI (Peter Stormare) – Um dos Capos da Máfia de Chicago, Abruzzi era o instável responsável pela IP (Indústria da Prisão). Em um excelente momento da trama, arrancou três dedos do pé de Michael com uma tesoura de jardinagem (ah, bons tempos de 1ª temporada...). Também foi o primeiro dos Oito a cair.
FERNANDO SUCRE (Amaury Nolasco) – Colega de cela de Michael e clone chicano de Sérgio Mallandro, Sucre tinha seus motivos românticos para fugir de Fox River (a famigerada Marisol, que depois de trocentos episódios – juro – já dava vontade de matá-la). Infelizmente (para nós), o personagem era fraco e seu drama pessoal estava longe de convencer. Fernando só não era mais bucha que...
BENJAMIN “C-NOTE” FRANKLIN (Rockmond Dunbar) – Ex-militar e pai de família, ele era o cara que conseguia qualquer coisa para os internos de Fox River (costume que, na verdade, o colocou lá). Pode parecer implicância, mas toda vez que C-Note aparecia, dava vontade de desligar a tela. Ele era MUITO irritante, quebrava o “status quo” da cooperação mútua que a fuga exigia (em outras palavras, pensava apenas nele – como todos ali – mas era o único que transparecia isso) e não agregava absolutamente nada à trama.
DAVID "TWEENER" APOLSKIS (Lane Garrison) – O mais novo dos Oito. Tweener era um batedor habilidoso que entrou em Fox River na segunda metade da 1ª temporada. Embora não fosse tão importante na trama, Apolskis serviu para mostrar as verdadeiras intenções do agente do FBI encarregado da captura dos condenados, na 2ª temporada.
CHARLES "HAYWIRE" PATOSHIK (Silas Weir Mitchell) – Embora quase todos os novos camaradas de Michael fossem sociopatas, Haywire era o único que tinha laudo médico para comprovar isso. Charles habitava a ala psiquiátrica de Fox River, até ser realocado para a cela de Michael por uns tempos, e acabar virando uma das peças-chave para a fuga. Ele dava medo, mas era divertido.
Devido a aceitação estrondosa da série, a Fox se viu na obrigação de emendar uma nova temporada, desta vez, abordando a caçada humana desses fugitivos. Embora a idéia também fosse velha, e mesmo assim empolgante, a 2ª temporada pode ser considerada o começo do fim para a qualidade de Prison Break. Não que seja uma temporada ruim: a adesão de William Fichtner como o corrupto agente do FBI Alexander Mahone, trouxe um adversário respeitável para a engenhosidade de Scofield e seus asseclas, que escorregam das garras da polícia e do agora ex-carcereiro Bred Bellick (Wade Willians, ótimo), que resolve virar caçador de recompensas e tem motivos de sobra para erradicar os 8FR. Foi realmente uma ótima temporada (principalmente quando os integrantes dos Oito começaram a bater as botas), mas começou a ter problemas em larga escala quando o assunto era a maldita Companhia.
A entidade que criou todo esse furdunço, ao meu entender, foi a grande responsável pelos rombos de roteiro e pela desgraça que assolou Prison Break, fazendo a série perder o brilho da totalmente excelente 1ª temporada, numa linha decrescente de qualidade. Com verdadeiros ataques de esquizofrenia, os roteiristas não decidiam quais eram os planos da Companhia e de seu principal agente: Paul Kellerman infernizou a vida dos nossos heróis por toda a história e, no final da 2ª temporada, acabou não só confessando todos os seus crimes, como entregando a Companhia e inocentando Lincoln e Sara Tancredi (a mesma Dra. Sara de Fox River, que era par romântico de Michael e uma das principais responsáveis pela fuga dos 8FR). C-Note, o mais água com açucar dos fugitivos, conseguiu um acordo com o FBI para entregar a cabeça de Mahone, que andava serelepando e matando os recapturados. Sucre saiu da trama para cuidar da filha recém nascida e de Marisol, ao passo que a Companhia (num plano mirabolantemente ruim) conseguiu prender o resto dos fugitivos (inclusive Mahone e Bellick, cuja única desculpa de terem sido presos junto com os outros era o fato de serem excelentes personagens) em uma prisão panamenha chamada Sona.
Está certo: admito que o final da 2ª temporada prometia uma 3ª interessante, afinal, Sona era retratada como um verdadeiro inferno. Vi em um documentário que o criador da série se inspirou em Carandiru para criar a penitenciária: “uma prisão no Brasil onde os presos é quem ditam as regras”, segundo Paul Scheuring (mal sabe ele que todas as prisões aqui são assim, mas tudo bem). O fato é que a truculência de Sona, os novos e fracos personagens e a missão de Michael (sair de lá com James Whistler, um preso que continha informações valiosas para a Companhia) caíram como uma bomba na série. T-Bag, o mais ardiloso e odiado dos 8FR, mudou de personalidade e virou um humilde servo do líder negro Lechero (os roteiristas esqueceram completamente do fato de Bagwell ser uma bicha racista). Bellick estava abaixo do cu do cachorro, na rabeira de um sistema de castas da penitenciária que não foi sequer explicado. Burrows não servia para absolutamente nada. Sara morreu, mas só mostraram uma cabeça decepada (certamente os produtores tiveram problemas em usar a atriz Sarah Wayne Callies). E Michael só tinha a improvável ajuda de Mahone, o outrora responsável pela caçada que culminou com a morte do pai dos irmãos fugitivos.
Com a greve dos roteiristas no auge e a qualidade ruindo, a 3ª temporada encerrou seus trabalhos de modo abrupto e tosco, no seu 16º episódio (normalmente eram vinte e poucos episódios). Com um plano marca-diabo, Michael, Mahone e o tal Whistler conseguiram fugir de Sona. Bellick e T-Bag continuaram presos. Sucre, que voltou pra série só pra ser encanado, também foi para Sona. Dessa forma desengonçada, os produtores encerram a 3ª temporada, que deveria ser a última MESMO...
MAS...eis que resolvem arriscar a quarta e última temporada, numa desculpa esfarrapada de que a história havia sido planejada para quatro seasons desde o começo (ahã, me engana que eu gosto). Logo no primeiro episódio, Burrows (que compete ferrenhamente com C-Note para ser o personagens mais bucha de Prison Break) é preso. E lá vai Michael se entregar DE NOVO para livrar a cara do irmão DE NOVO. Desta vez, o dono da bola é Don Self, (o gorducho Michael Rapaport) um agente da Segurança Nacional que precisa das informações que Michael pode ter conseguido com Whistler (seu parceiro de fuga), a respeito de Scylla: um dispositivo ultra-super-plus-advanced que contém tudo o que de fato é importante para a Companhia (personificada na figura do Coronel Krantz, que já havia aparecido como o “bam-bam-bam” da Companhia na 2ª temporada). A obstinação do Coronel em proteger Scylla é o primeiro grande empecilho para Self, que monta um grupo para roubar o dispositivo. Entra em campo o Scylla Team: Michael, Lincoln, Mahone, Sara (que voltou dos mortos, afinal, não dava pra ver muito bem “de quem” era a tal cabeça decepada), Roland Glenn (um hacker asiático que não dura muito), Sucre e Bellick (que saíram de Sona pela porta da frente, logo após T-Bag meter fogo na penitenciária e Michael ter ficado puto da cara de não ter pensado nisso antes) são recrutados por Self, que promete conseguir perdão total para os membros do grupo, em troca de Scylla.
Numa megalomania que só ficaria convincente no seriado 24, o tal dispositivo não somente tem todos os arquivos pessoais da Companhia, como possui projetos tecnológicos que poderiam, literalmente, mudar o mundo. Neste ponto, o que já estava ruim, ficou ainda pior. A missão de Michael agora não era mais fugir de algum lugar, e sim roubar Scylla de uma instalação de máxima segurança: antes, para entregar o treco à Don Self e finalmente sair livre; depois (quando Don revela ser um novo vilão), para não deixar Scylla nas mãos do General e salvar o mundo (curiosamente, este dispositivo sempre esteve nas mãos do General, e ele nunca o tinha usado antes para tal finalidade). O que era simples questão de sobrevivência (bons tempos em que a coisa toda era só resgatar um retardado condenado à morte), virou um jogo de guerra dos brabos, onde todo mundo quer botar as mãos no dispositivo.
Com trejeitos de Esquadrão Classe A e Missão Impossível, a série seguiu nas incoerências dos roteiristas (provavelmente estagiários). A saída para Mahone e os irmãos trabalharem lado a lado numa boa foi das mais desleais: a Companhia mata o filho do ex-agente e todo mundo fica feliz. Michael descobre que tem uma doença que pode ser terminal se a Companhia não usar de seus especialistas para curá-lo. T-Bag tenta se tornar um cidadão de bem com uma identidade falsa (logo o T-Bag????). Bellick, que sempre foi uma puta pedra no sapato da galera, morre como herói. Sucre abandona o time (como se ainda não tivesse o rabo preso) e volta para sua família. A mãe dos irmãos também volta dos mortos (ressurreição é uma mania decorrente na série, como veremos uma vez mais).
Depois de uma longa pausa nas exibições (de dezembro de 2008, até o mês passado), a já gelada Prison Break prosseguiu no que seria o derradeiro circo de horrores da reta final. Além da correria acerca de Scylla e da destruição dos personagens que muita gente aprendeu a gostar (repito, principalmente pela incrível 1ª temporada), nossos heróis roteiristas resolveram despejar alguns elementos de novela das oito no seriado: Christina (Scofield's Mom) torna-se a principal vilã, Michael descobre que Lincoln não é seu irmão de sangue e, faltando 3 episódios para o encerramento da série, Sara faz um teste de gravidez...
Para não dizer que sou espírito de porco, aguardei os últimos dois episódios com certa esperança de que alguma coisa dessa loucura toda se solucionasse de modo eficaz, ou mesmo meramente convincente. Baixei o treco e, como disse antes, me obriguei a dizer algo a respeito (daqui para frente, usarei o artifício dos pontos de interrogação para tentar ilustrar minha impressão a respeito desta Series Finale).
Lincoln passa os dois episódios inteiros sangrando...e não morre (?). Michael, um homem que não é de ação, escala um prédio (??) para salvar Sara de T-Bag. Mahone resgata Lincoln, mesmo que isso signifique uma bala na cabeça de sua esposa (???). Como trunfo na manga, o General ameaça matar Sofia (namoradinha que Burrows descolou no final da 3ª temporada e que não aparecia na trama desde lá), em vez de ameaçar L.J., que está em seu poder (????). C-Note volta do limbo com uma saída milagrosa para tudo (?????). Recruta Sucre (??????). E a solução milagrosa é...Kellerman (???????), que tinha aparentemente morrido no final de 2ª temporada e que, agora, trabalha para a ONU (????????).
Fica ainda melhor: usando EXATAMENTE a mesma estratégia “Homem-Aranha” que Michael usou para invadir o QG do General, C-Note e Sucre entram no apê e salvam o dia (que diabo de General é esse que cai duas vezes no mesmo truque?). Michael leva um tiro no ombro e Sara (que é médica) manda ele ir entregar Scylla para a ONU, sem cuidar do ferimento (?????????).
Para fechar com chave de ouro, tudo termina com Michael, Lincoln, Sara, Sucre, Mahone e C-Note reunidos numa mesa, onde assinam a papelada do perdão.
- Mas e Pam? – Pergunta Mahone, sobre sua esposa, que estava sendo ameaçada pelo General.
- Ela está salva. – Responde Kellerman.
- E L.J.? – Pergunta Lincoln.
- Ele também está salvo. – Responde Kellerman, como se fosse um pastor de igreja.
Tudo simples assim. Sem explicar porra nenhuma. As coisas simplesmente iam acontecendo e o público (no caso, EU) ia engolindo. Pouco antes da cena final (que foi a única coisa que salvou o episódio), o absurdo máximo se fez presente quando mostram o destino de cada um dos personagens depois de quatro anos, e descobrimos que Kellerman, o mesmo cara que assumiu dezenas de assassinatos publicamente na 2ª temporada, virou SENADOR (???????????????????????????????????????).
Com um final de episódio bucólico e triste, Prison Break partiu com aquele gosto desagradável de algo que poderia ser lembrado somente pelo excelente entretenimento proporcionado em sua arrancada. É o que eu chamo de Síndrome de Arquivo-X, onde os executivos forçam a barra de um programa bacana (porque ele se mostra rentável e fideliza o público) e o sugam até o mesmo ser lembrado apenas por seu péssimo desfecho.
Uma pena mesmo. Prison Break, para mim, só teve duas temporadas.
P.S: Em julho, a Fox lançará o DVD Prison Break - The Final Break, um filme Made For TV que será uma espécie de abordagem sobre o flash forward de quatro anos que o episódio final sofreu. Estou me sentindo como aqueles jogadores de poker que já perderam fortunas, mas pensam em ficar na mesa pra tentar recuperar qualquer migalha...
Maldita Fox.
Maldita Fox.