

Eram os tempos do Capitão James T. Kirk, comandante da nave que, ao lado do Dr. Leonard McCoy e do Sr. Spock, formava a tríade de protagonistas da série, cujas histórias, embora calçadas em um universo futurista e tecnológico, eram visivelmente baseadas nos problemas da realidade dos anos 60: a Guerra Fria, os conflitos raciais, os desvios da juventude, a proliferação de tribos e novos estilos de vida (como a onda hippie, por exemplo), entre muitas outras coisas, eram abordados de uma forma alegórica, mas muito contundente, não somente conferindo certa responsabilidade social à série, mas inovando em narrativas muito mais cerebrais do que se estava acostumado a ver nos programas de entretenimento.


“He’s dead, Jim!”
O Dr. McCoy (muito bem retratado pelo ator DeForest Kelley) é um médico turrão, sem papas na língua para dar palpites e totalmente emocional. Sua personalidade quase provinciana demorou alguns episódios para engrenar, mas encontrou o seu alicerce no contraponto com Spock. As discussões entre o médico e seu colega de sangue verde renderam verdadeiras pérolas em forma de diálogos, e o nome de Kelley, merecidamente, foi marcado nos créditos iniciais dos episódios a partir da 2ª temporada, ao lado dos já creditados William Shatner e Leonard Nimoy (Kirk e Spock respectivamente). Como médico-chefe e psicólogo da nave, McCoy também serve de âncora para o Capitão, que vê no médico um apoio psicológico em momentos de crise (ou seja, em todos os episódios) e um escudo para argumentar com seu Oficial de Ciências.
“Fascinating.”
“Fascinating.”
Como Oficial de Ciências e Sub-Comandante da nave, o Sr. Spock e suas orelhas pontudas dispensam apresentações. Calmo, lógico e virtualmente infalível como qualquer vulcano, Spock e suas análises já salvaram a Enterprise mais vezes do que há para se contar. Sua frieza em momentos críticos e a aparente falta de emoções são os alvos principais do Dr. McCoy, o qual normalmente é replicado com frases como “Doutor, fico profundamente agraciado com o fato de não possuir a mesma fisiologia que você”.
Embora seja um ser pragmático, Spock também possui um viés emocional ocultado por sua batalha pela conquista da lógica. Como híbrido de um vulcano com uma terráquea, Spock reprime seu lado humano em prol de sua busca por uma identidade inteiramente vulcana. Esta iniciativa possibilita que o oficial execute seu trabalho com extrema eficiência e alto-controle, porém, condena o Sub-Comandante a nadar em um mar de conflitos internos. No episódio Bread and Circuses, McCoy sintetiza o drama de Spock na comovente constatação de que o vulcano não tem medo de morrer, mas sim de viver, pois cada dia é um dia a mais onde Spock pode falhar.
A verve vulcana de Spock só não é maior que sua fidelidade inabalável à seu melhor amigo e comandante, o qual, mesmo em situações ilógicas, aprendeu a respeitar e admirar. Estes extremos de abandono da humanidade e a lealdade incondicional por um humano, raça considerada “inferior” pelos vulcanos, tornam o Sr. Spock um dos personagens mais emblemáticos de todos os tempos.
“...to bolbly go where no man as gone before.”
A verve vulcana de Spock só não é maior que sua fidelidade inabalável à seu melhor amigo e comandante, o qual, mesmo em situações ilógicas, aprendeu a respeitar e admirar. Estes extremos de abandono da humanidade e a lealdade incondicional por um humano, raça considerada “inferior” pelos vulcanos, tornam o Sr. Spock um dos personagens mais emblemáticos de todos os tempos.
“...to bolbly go where no man as gone before.”
James Tiberius Kirk é o intrépido capitão da USS Enterprise. Sua pose de galã e atração pelas mulheres lhe renderam algumas críticas e olhos tortos do público logo no início (certamente uma artimanha dos produtores para atrair um público-alvo também feminino), mas essa característica fútil se perde ao se reparar um pouco melhor no personagem extremamente complexo que é Jim Kirk.
Com um grande senso de justiça, altruísmo e bondade, o Capitão Kirk tem a firmeza de um almirante no comando da nave. Embora gentil, não é raro que use de sua autoridade para justificar suas ordens (muitas baseadas em sua vasta experiência, outras em seu feeling) no maior estilo “Isto é uma ordem, Sr. Sulu. Obedeça!”. Esta prerrogativa lhe confere, às vezes, ares de arrogante perante o público mais leigo (aquele que assistiu somente uns dois ou três episódios), mas a grande verdade é que Kirk sempre sabe o que está fazendo, e consegue ser condescendente quando está errado (o que é muito difícil de acontecer). Suas soluções são imbuídas de uma bagagem que mistura (a já citada) experiência, malandragem, estratégia, sorte (um bocado dela), bem como uma porção maquiavélica latente. Ele é bondoso, mas nem sempre é um bom sujeito (isso é literalmente mostrado no episódio The Enemy Within, onde dois Kirks, um bonzinho e um malvado, perambulam pela Enterprise, e chega-se a conclusão de que nenhum dos dois é capaz de, sozinho, comandar a nave).
Com um grande senso de justiça, altruísmo e bondade, o Capitão Kirk tem a firmeza de um almirante no comando da nave. Embora gentil, não é raro que use de sua autoridade para justificar suas ordens (muitas baseadas em sua vasta experiência, outras em seu feeling) no maior estilo “Isto é uma ordem, Sr. Sulu. Obedeça!”. Esta prerrogativa lhe confere, às vezes, ares de arrogante perante o público mais leigo (aquele que assistiu somente uns dois ou três episódios), mas a grande verdade é que Kirk sempre sabe o que está fazendo, e consegue ser condescendente quando está errado (o que é muito difícil de acontecer). Suas soluções são imbuídas de uma bagagem que mistura (a já citada) experiência, malandragem, estratégia, sorte (um bocado dela), bem como uma porção maquiavélica latente. Ele é bondoso, mas nem sempre é um bom sujeito (isso é literalmente mostrado no episódio The Enemy Within, onde dois Kirks, um bonzinho e um malvado, perambulam pela Enterprise, e chega-se a conclusão de que nenhum dos dois é capaz de, sozinho, comandar a nave).
Além desta característica matreira, o Capitão Kirk também possui um elo quase doentio com seu posto de comando. São poucos os episódios que mostram sua ligação quase matrimonial com a Enterprise, mas os mesmos são tão contundentes que é impossível de ignorar esta faceta de sua personalidade. Para ilustrar o quão obsessiva é a necessidade de Kirk de comandar ESPECIFICAMENTE a Enterprise, basta relembrar o episódio This Side of Paradise, onde toda a tripulação estava sob o efeito de um pólen alienígena e todos haviam sido “intimados” a abandonar a nave e povoar uma colônia. Graças ao trauma de deixar a Enterprise, Kirk se desvencilha do poder do pólen (ao passo que o trauma de Spock era o de ser considerado uma aberração por sua condição de híbrido, o que corrobora seus dramas já citados).
“These are the voyages of StarShip Enterprise...”
“These are the voyages of StarShip Enterprise...”
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Com problemas de toda ordem encontrados pela Enterprise (que variavam de seres onipotentes à doenças desconhecidas, de ameças de guerras intergalácticas à dramas pessoais acionados por algum fator externo, entre outros), a série tinha também o ônus da parca disponibilidade de recursos da produção. Não havia grana para bancar maquetes de várias naves, e os tripulantes tinham que interagir com algo no espaço (ou visitar planetas). As soluções para estas interpéries foram mais do que bem-vindas: para o pouso nos planetas, usou-se o artifício do teletransporte, que rendeu não apenas uma forma eficiente e econômica de mostrar uma abordagem sem precisar de nave, mas protagonizou plots de diversos episódios e constituiu-se numa ferramenta para solução de diversos problemas apresentados aos nossos heróis. As batalhas espaciais então, nem se fala: quando a nave entrava em alerta vermelho, os diretores mostravam apenas a ponte e os tripulantes em seus postos de batalha (sem mostrar qualquer interação externa). Quando a Enterprise era atingida, os atores se limitavam a se jogar para todos os lados num “efeito terremoto”, e quando a nave inimiga era destruída, mostravam apenas uma explosão (meio tosca, é verdade, afinal, era 1966). O fato da Enterprise encontrar somente planetas “Classe M” (nas mesmas condições de atmosfera da Terra) nas suas jornadas também eram excelentes saídas para a verba curta, evitando o gasto com roupas espaciais.
Quando Roddenberry produziu seu episódio-piloto, os estúdios simplesmente cancelaram o programa antes mesmo de exibí-lo, devido ao “roteiro intrincado e inteligente demais para os padrões televisivos”. Após muita choradeira e uma concessão que era inédita até aquele momento, os estúdios exigiram a produção de outro episódio-piloto, com orçamento ainda mais apertado e trocando toda a tripulação original. Reza a lenda que Gene bateu o pé, fez bico e abriu mão de muita coisa para, pelo menos, manter o Sr. Spock. E assim se fez: saía de cena o Capitão Christopher Pike e entrava o Capitão Kirk e cia...e começava uma história fantástica com ramificações e franquias em TV, cinema, livros, games, roupas e, até mesmo, pratos de porcelana.


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