Terminei de ler, na noite passada, o livro Deuses Americanos, de Neil Gaiman. O romance traz a história de Shadow, um marginal que descobre a morte da esposa na semana em que sai da prisão. Ao perceber que sua liberdade perdeu o sentido, o ex-presidiário se vê às voltas com uma inusitada proposta de Wednesday, um homem misterioso que pretende engendrar uma insólita viagem pelo verdadeiro interior dos Estados Unidos: uma terra pululada por seres fantásticos e deuses milenares que, por um lugar ao sol, estão prestes e entrar em guerra.
Gaiman, escritor inglês de renome e criador de HQs adultas cultuadas como Sandman e Livros da Magia, está em seu terreno ao narrar uma história de cunho fantástico, sem descuidar da descrição precisa da realidade. Costumes interioranos, expressões e inúmeras referências da cultura popular americana e mundial convergem com o clima surreal e personagens que, embora deuses, manifestam-se como meros mortais: fazem torradas, trabalham, prostituem-se, matam e morrem obedecendo às leis da física. Tudo isso em uma terra que o livro insistentemente diz que “não é boa para deuses”. Um lugar onde deuses antigos (e outrora poderosos) definham e caem no esquecimento, e onde deuses novos nascem todos os dias.
Interessantes também são as referências religiosas e mitológicas usadas por Gaiman para ilustrar a história. Podemos encontrar de lendas escandinavas a influências fortes da cultura africana. De mitos judaicos a referências astecas. De divindades indianas a supostos deuses das cavernas. Uma miscigenação que espelha a cacofonia do próprio povo americano, que embora colonizado por ingleses, teve suas origens em toda gama de povos que, ou viram no Novo Mundo uma chance de recomeço, ou foram levados à força nos navios negreiros, ou simplesmente já estavam lá antes do homem branco chegar. E com todos eles, vieram suas esperanças, suas crenças, seus deuses.
Embora as HQs sejam seu chão, o autor não deixa a peteca cair. Foi feliz ao traçar uma narrativa espirituosa e de fácil digestão – direcionada a qualquer público, mas sem subestimar os mais exigentes. Com toques de humor negro aliados à iminência de um grande acontecimento, que incute ao texto o tom sério e lírico necessários, o mesmo tom presente nas demais obras de Gaiman. E como praticamente tudo que ele escreve, é uma leitura inventiva e poderosa, calçada na imaginação infinita do autor.
***
Dica de Livro:
Deuses Americanos
Autor: Neil Gaiman
Pág: 448
Editora: Conrad do Brasil
Ano: 2001
Prêmios: Hugo e Nebula.
Os Agradecimentos no final do livro é um capítulo a parte. Com aquela famosa irreverência inglesa, Gaiman atribui, a cada nome, os motivos pelos quais está agradecendo. Da mulher que emprestou sua casa na condição de que ele espantasse alguns urubus, ao também cultuado escritor de HQs Alan Moore, que lhe emprestou alguns livros para pesquisa.
Gaiman, escritor inglês de renome e criador de HQs adultas cultuadas como Sandman e Livros da Magia, está em seu terreno ao narrar uma história de cunho fantástico, sem descuidar da descrição precisa da realidade. Costumes interioranos, expressões e inúmeras referências da cultura popular americana e mundial convergem com o clima surreal e personagens que, embora deuses, manifestam-se como meros mortais: fazem torradas, trabalham, prostituem-se, matam e morrem obedecendo às leis da física. Tudo isso em uma terra que o livro insistentemente diz que “não é boa para deuses”. Um lugar onde deuses antigos (e outrora poderosos) definham e caem no esquecimento, e onde deuses novos nascem todos os dias.
Interessantes também são as referências religiosas e mitológicas usadas por Gaiman para ilustrar a história. Podemos encontrar de lendas escandinavas a influências fortes da cultura africana. De mitos judaicos a referências astecas. De divindades indianas a supostos deuses das cavernas. Uma miscigenação que espelha a cacofonia do próprio povo americano, que embora colonizado por ingleses, teve suas origens em toda gama de povos que, ou viram no Novo Mundo uma chance de recomeço, ou foram levados à força nos navios negreiros, ou simplesmente já estavam lá antes do homem branco chegar. E com todos eles, vieram suas esperanças, suas crenças, seus deuses.
Embora as HQs sejam seu chão, o autor não deixa a peteca cair. Foi feliz ao traçar uma narrativa espirituosa e de fácil digestão – direcionada a qualquer público, mas sem subestimar os mais exigentes. Com toques de humor negro aliados à iminência de um grande acontecimento, que incute ao texto o tom sério e lírico necessários, o mesmo tom presente nas demais obras de Gaiman. E como praticamente tudo que ele escreve, é uma leitura inventiva e poderosa, calçada na imaginação infinita do autor.
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Dica de Livro:
Deuses Americanos
Autor: Neil Gaiman
Pág: 448
Editora: Conrad do Brasil
Ano: 2001
Prêmios: Hugo e Nebula.
Os Agradecimentos no final do livro é um capítulo a parte. Com aquela famosa irreverência inglesa, Gaiman atribui, a cada nome, os motivos pelos quais está agradecendo. Da mulher que emprestou sua casa na condição de que ele espantasse alguns urubus, ao também cultuado escritor de HQs Alan Moore, que lhe emprestou alguns livros para pesquisa.
Um comentário:
Boa dica, Édnei. Fiquei curiosa para ler.
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