sábado, 29 de dezembro de 2007

"Os Batedores" na ZH.

Hoje saiu a primeira divulgação impressa do curta Os Batedores, na contracapa do Segundo Caderno do jornal Zero Hora. Clique aqui para ler a matéria, ou corra para a banca mais próxima.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Magia.

...e atravessava a rua com passos pesados. Em volta, a paisagem desolada convidava o pensamento para o relembrar. Uma parada de ônibus. Sabia que ali havia tido discussões, feito promessas, se despedido. Uma, duas, várias vezes. Três pessoas esperavam o ônibus na manhã. Nenhuma das três era. Manhã pós-natal. Cedo. Uma época tétrica para os solitários. E ele era um. Observava o bar que pegou como seu, acostumado com o movimento noturno do lugar. Mas não era mais noite. O bar estava fechado.

Poucas pessoas saindo de suas casas. Ainda cedo. Na esquina, o sorvete barato que agora não tem preço. Também fechado. Pedia o de iogurte, com sabor de nada. Pedia por pedir. Gostavam disso. Além das grades, dois vagabundos dormiam na calçada da frente. “É o que resta”, pensou ele. Na transversal, os lugares com nomes estranhos que serviam de refúgio em algumas noites. Fechados. O natal faz isso com os lugares, não interessa os nomes que eles tenham. Lembrava que o tempo passava devagar quando chegavam nesses locais. Ofuscantes. Interessantes. Irresistíveis. Magia. Os ponteiros corriam rápidos logo depois. Tempo nenhum parecia suficiente. E não era. Cremes e taças de vinho eram bons no inverno. Fim de ano não é inverno.

Na esquina mais movimentada da Cidade Baixa havia uma alma penada. Ele olhava para um lado e via um cinema com filmes-cabeça. Olhos arregalados na tela. Risadas nervosas. Outra parada de ônibus naquela direção. Olhava para o outro lado e pedia o de sempre para o garçom de sempre: um para dois. A mesa era a de sempre também? Disso ele não lembrava. Ou lembrava e queria deslembrar. O sol já batia no seu rosto. Sol de cedo. Magia. Tinha que atravessar para a sombra e atravessou.

A nova calçada era velha conhecida. Via as mesas e cadeiras de costume espalhadas por tudo. O barulho das pessoas conversando e bebendo. Passavam costurando entre as mesas com sorrisos. Ele sempre na retaguarda. Mão direita grudada na mão direita. Mas cedo assim, não havia cadeiras, nem mesas, nem gente bebendo. Havia sim uma sopa de capelletti no pão que nunca aconteceu. Outra promessa. Quem vê, parece que só pensavam em comida, mas olhando melhor no fim daquela rua, ele se viu deitado num colo de banco de praça. Lendo alto um livro que não era seu. Bisbilhotando nos briques de domingo à procura de uma felicidade que cabia em seus bolsos. Magia.

Já tinha mais pessoas na rua quando ele ganhou a avenida. Era cedo, mas não era mais tão cedo. Por mais que caminhasse, parecia que seu travelling out insistia em lhe cutucar os sentidos. Sua manhã pós-natal era feita de insights e esquinas. Nem insights e nem esquinas são boas companhias no fim de ano. Na última por onde passou, viu alguém vestida de preto, ao lado de uma banca de revistas. No corredor de ônibus da avenida, alguns veículos cujo itinerário conhecia de cor já se projetavam. Via-os parando. Primeiro de perfil, depois de frente, esperando alguém descer. Esperava por algo/alguém? Chegou a parar por uns momentos. Gente feia descia dos ônibus. Dois, quatro, cinco desafortunados (as) que não conseguiram engrenar um recesso de fim de ano e tiveram que acordar cedo de seus sonhos. Nenhum dos cinco era. Ele não esperava que fosse.

Até ele dobrar na rua que queria, a avenida mantinha-se longa. Lembrava de ter parado algumas vezes em certo ponto de táxi, mas nunca pegou um táxi ali. Tarde da noite, sempre. Outro lugar de despedidas. Descobriu-se acostumado com isso: abanar e deixar seguir viagem. Desta vez, não teve abano. Só seguiu viagem. E como sempre e sempre esperado, voltaria sozinho para onde quer que fosse. O caminho continuaria longo, e não era mais tão cedo. Queria sorrir de desdém, mas atravessava a avenida com passos. Novamente pesados. A saudade muda não deixava que ele mostrasse os dentes. Saudade do que não.

Magia?

Como dizia o livro que não era dele:

“Achava que sim.”

“Que sim.”

“Sim.”

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

1º Teaser Trailer de "Os Batedores".

Agora é pra valer: vazou o primeiro teaser trailer do curta-metragem "Os Batedores", o mais novo projeto da Arquivo Morto em parceria com a Lumiere, onde contamos a história de Raul (Marco Soriano Jr.), um batedor de carteiras que vai ter de suar a camisa pra conseguir uma bolada até o fim do dia e pagar uma dívida pra um chefão do crime.

Para assistir, clique aqui.


Correria, situações bizarras, muita briga e pilantragem de primeira linha pintam a tela de "Os Batedores", que está em fase de captação de imagens e tem previsão de finalização para fevereiro de 2008. O filme é dirigido por Filipe Ferreira e roteirizado por este que vos escreve.

Tu encontras mais detalhes sobre o projeto nos textos anteriores deste blog (marcador "Os Batedores"), em textos que estão por vir, claro, bem como no blog Sobrevivendo ao Jogo e no blog da Arquivo Morto (links na coluna ao lado).

Fique de olho...

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Aos melhores amigos que alguém pode ter...

Este ano de 2007, diferente para alguns, bom para meia dúzia e terrível para outros (sou desta leva), está demorando para findar. Nesta reta final, alguns de vocês, meus melhores amigos, têm encontrado adversidades que fariam o Papa desacreditar em Deus.

É desestimulante quando noto que meus problemas, se comparados com os de vocês, é um simples pedaço de bolo. Desestimulante porque, se eu pudesse, abraçava-os todos para mim. Abriria a camisa e pintaria um alvo no peito com um letreiro dizendo “Acerta aqui, porra!”, unicamente para poder privar vocês, pessoas que amo e admiro, dessas mazelas que a vida tem lhes pregado.

Embora essas desventuras me façam pequeno, quero lhes dizer que estou aqui. Não importa se estão certos ou errados, doidos ou caretas, com enormes crises de melancolia ou não menores fases de alegria. Não importa. Estarei, hoje e para sempre, para sempre mesmo, do lado de vocês. E se não de maneira efetiva para sanar a situação, pelo menos fazendo o meu melhor, mesmo que, às vezes, o meu melhor não seja nada bonito de se ver.

Tenham força. Tenham fé. Este ano de tormento está acabando, e vamos superar ele e iniciar um novo juntos, com novas premissas, objetivos, e com a certeza de dias melhores.

Pois como diria Gandalf, “E a estrada em frente vai seguindo...”

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Prestação de Contas.

Este post serve para solucionar algumas coisas que ficaram pendentes nos textos anteriores. Antes tarde do que nunca, certo?

Alguém continua com a cabeça desprotegida no Parque da Redenção. Dia desses notei que o Diretor de Os Batedores ainda possui em sua pasta o “ofício” onde a Arquivo Morto se comprometeu a doar um capacete para o parque em troca da autorização de filmarmos a 1ª diária no local. Provavelmente ele deve estar guardando o treco para o dia em que faltar papel higiênico no set...

Faz uma semana que não vou à academia. Alie isso ao fato de que ainda não consegui emplacar a dieta que a nutricionista me passou e terás a visão do Édnei voltando à velha forma: preciso de grana, minha gente.

Falando em comida, finalmente consegui apreciar um dos manjares mais famosos da Cidade Baixa (vide foto). O Bell’s Burguer realmente é o lanche de melhor relação custo/benefício da noite, só não descobri ainda do que é feito aquele hambúrguer. Carne humana talvez?

A prova de matemática onde Johnny Cash me assombrou foi um sucesso. Como eu previa, o único problema que errei foi o que não fiz. A professora deve estar se perguntando até agora como diabos consegui encaixar fórmula SAP naquela questão de série de pagamentos e acertar. Não importa. Como diria Maquiavel: “Os fins justificam os meios, desde que os fins sejam justos”.

Matemática já matei, e aquela cadeira chata de Sistemática de Comércio Internacional abandonei no momento em que minha professora nos confidenciou o seguinte:

- Meu maior tesão é conseguir trazer mercadoria do exterior por um preço baixo.

Caralho. Como prosseguiria num curso de Administração com ênfase em Comercio Internacional com essa premissa? E sexo? Nem pensar? No dia seguinte pedi desligamento da matéria, e no dia posterior, reopção de curso para Administração Plena. Na sexta-feira passada, recebi a confirmação de que meu pedido foi aceito. Resta agora ver se consegui passar na G2 de Introdução à Economia (EAD) ou se perdi minha bolsa integral na PUCRS por ser ratão e dar atenção a quem não merecia um tostão no decorrer do curso...

Nem preciso dizer que, se isso acontecer, meto uma bala na cuca, né...

Quarta passada, no aniver de um amigo no Bell’s, fiquei sabendo que aquela matéria sobre a Redenção saiu mesmo no Correio do Povo, na segunda-feira. “Édnei Pedroso, roteirista de cinema, procura a tranqüilidade do parque para ficar longe do barulho do trânsito.” Estampando a matéria, uma foto minha sonolento, segurando um livro. Um dos meus amigos enumerou que faltou apenas uma página para figurar nas páginas policiais.

- Um dia tu chega lá, dizia o cara.

Neste sábado rolou a filmagem do curso Cinema e Música, ministrado no Santander Cultural. Minha produtora havia me pedido uma mão para registrar o evento e eu fui de bom grado, afinal, ela tem sido de grande valia no nosso projeto. O curso era ministrado através de duas palestras, onde o Goida e o André (não me perguntem os sobrenomes) falavam sobre a incursão da música no cinema e sobre a música no cinema contemporâneo. Bem interessante o assunto, permeado por alguns trechos de filmes que eram exibidos numa tela grande. A sala estava cheia e, curiosamente, a grande massa era composta por pessoas idosas, sendo que o único jovem que estava por lá (além de mim e da produtora) era o indivíduo que meu cumpadre e eu apelidamos de MacMannis (idéia do meu cumpadre, não me pergunte porquê, só sei que é engraçado). Engraçado também que cumprimentei o MacMannis e ele apertou minha mão tri a contragosto, como se eu tivesse lhe sedado e lhe arrancado um rim em alguma outra vida...

Como diria o Chapeleiro Louco, “Que mina mais rancorosa, caralho.”

O recesso está prestes a terminar. Se Deus quiser, voltamos a filmar Os Batedores neste findi. Estamos dependendo de algumas coisas, como as tratativas que ando tendo com alguns hospitais para nos cederem um quarto para o Flashback do Homem saindo do coma. Ainda há esperança de que consigamos em tempo esta autorização. Está andando também a manufatura dos releases, que nossa Assistente de Direção (e jornalista) está findando para atacarmos na mídia.

Poutaquepareeeeeeeeeeeeeeeeeu...

Acabo de ter uma notícia que promete abalar todas as estruturas. Algo que me deixou emocionado e contente. Uma nova perspectiva se abre para uma certa pessoa que amo.

Esta semana promete.

Caralho, este ano novo promete.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Boa noite, boa sorte.

Insólita, alcoólica, histórica. São algumas palavras que podem descrever minha noite de ontem, que começou logo com um convite de um amigo para uma festa e coquetel da revista Noize, no Cabaret do Beco.

Eu, como todo bom alienado, desconhecia a existência da revista. Ontem pude folhear e descobrir do que se trata: uma revista voltada para a música, com matérias, dicas, reportagens interessantes sobre costumes, artes e atualidades. Tudo super bem escrito e com excelente acabamento. O mais interessante é que o treco possui tiragem de 10 mil exemplares e é de grátis, distribuído em alguns picos famosos e universidades daqui. Este amigo, além de colunista, faz cobertura de shows e resenhas de CD’s para a revista.

Bem, estávamos ele, eu e outro amigo no Beco, já empinando alguma coisa cedida pelo coquetel (uma mistura de algum energético estranho com vodca, que ganhava uma coloração verde). Uma espécie de licor negro também estava sendo doado aos mais sortudos (não é o meu caso). O lance começou a bombar. A música e a descontração pegando. Então recebo um torpedo. Um torpedo da garota do Bell’s (aquela do outro post), perguntando quanto estava pra entrar no Beco e dizendo que talvez fosse, talvez não fosse pra lá. Já tinha perdido o colunista de vista e meu outro amigo já andava com o orçamento estourado e olhando o relógio:

- Tenho que trabalhar cedo amanhã. Dizia o fruta.

Quando fazemos uma última ronda e estamos subindo para ir embora, eis que este meu amigo esbarra com uma garota. Ela cochicha algo no ouvido dele. Ele amarra a cara e aponta pra mim: era a garota do Bell’s. Havia se separado do grupo de amigos, que preferiram ir para outro lugar da noite, e estava ali, sozinha.

Estava.

Me despedi dos meus amigos e ficamos, ela e eu, dançando despreocupados. Os sorrisos iluminados pela luz negra. Olhares. Beijos. Dança. Mais olhares. Mais beijos. Súbito, uma pergunta dela para uma das funcionárias do Beco:

- Ele pode tirar a camisa aqui?

O mais engraçado é que a funcionária respondeu:

- Só um pouquinho que vou verificar.

E ela FOI se informar. Claro que não deixaram, mas foi muito divertido. Quando as músicas começaram a ficar ruins (o DJ devia estar cansado), decidimos ir encontrar os amigos dela num estranho bar da Osvaldo Aranha. Um dos caras nos pegou de carro na frente do Beco e já constatei o estado do moço quando ele arrancou o carro com a porta aberta antes de eu entrar. Com um sotaque pra lá de carioca, o motora saiu cantando pneu e quase entrou embaixo de uma Kombi, que passeava inocente pela Av. Independência.

- Foi mal, bicho.

Chegamos no tal bar da Osvaldo (o qual não lembro do nome com clareza). Sinistro. Muito sinistro. Não havia letreiro, nem placa. A porta, feita de metal e vidro quebrado, mostrava apenas uma escada na penumbra lá dentro. Do lado de fora, um rastro de sangue fresco. Muito sangue. Muito fresco. Alguém tinha se fodido muito ali, e o pessoal lá em cima, bebendo e conversando alto enquanto riam. Logo o falatório cessou e as luzes se apagaram. Nós ficamos a ver navios, apenas esperando o pessoal sair do lugar. Não entramos. Não fomos convidados.

Jogamos sete pessoas dentro do carro e fomos todos para o fim de noite mais famoso da cidade: o Van Gogh. Para os que não conhecem o lugar, basta dizer que é o reduto da finaleira. Se o Bell’s é uma ótima opção para o fim de noite, o Van Gogh seria o fim de noite institucionalizado. Toda sorte de vagais, barangas, veteranos, mafiosos, boêmios, drogados e afins, enfeitam as mesas do lugar. Claro que há também os festeiros e os beberrões, classes as quais nosso grupo pertencia.

Momento Salvador Dali: quando fui ao banheiro tirar água do joelho e aproveitei pra tentar me arrumar no espelho. Um senhor, velha-guarda total, de camisa vermelha sangue e sapatos caramelos, pára de urinar, vira pra mim e diz:

- Tu não me leva a mal meu jovem, mas tu tá bonito pacaralho.

- Só tentando sobreviver, amigo.

Na mesa, o papo corria solto e os assuntos variavam de bombas caseiras (e fáceis de fazer) ao preço do pacote de maconha. Quando um dos garçons voltou para nos atender, eis que a garota do Bell’s lhe fez a pergunta que não queria calar:

- Ele pode tirar a camisa aqui?

O garçom disse algo sobre ser parceiro se o pedido fosse para uma mulher e se retirou...

O dia clareou e a fome bateu. Vale lembrar que o Van Gogh só serve algo da cozinha até as 6 da manhã e já era 7. A garota deu a idéia de irmos para a Lancheria do Parque. Fomos somente os dois. Pedimos cachorros-quentes e começamos a conversar sobre as coisas da vida, do universo e tudo o mais. Curioso como ela (uma mulher tão mais jovem) e eu temos inúmeras coisas em comum: alguns pontos de vista, definições, gostos...enfim...foi tudo muito estranho e bom, até bater 8 da manhã e eu ter de me mandar para o estágio, sem ter dormido.

Hoje o dia foi de cochilos e torpedos.

***

Dica de lugar:

Van Gogh: Rua da República, 14 – Porto Alegre

O fim de noite mais famoso de Porto Alegre. Lá ninguém paga mico. Ninguém vai te olhar feio por não gostar da tua roupa e a sopa de capelletti é a mais confirmada para curar ressaca. É o lugar onde tu sempre entra de noite e sai de dia. Incondicional.

From Dusk Till Down!

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Nothing to film in this week, then...

...completo minha vida com insigts e coisinhas bizarras que sempre me rondam, enquanto a Arquivo Morto não retoma suas atividades.

Começando com o convite de um conhecido para uma boca livre num conceituado colégio particular do Centro de Poa.

- Paguei um galeto a mais, mas a patroa não vai poder ir. Tais afim?

- Pergunta se macaco quer banana, meu filho.

Fui de madrasta, mas o rango prometia e era free, então tava valendo. Antes do jantar, tivemos de agüentar a criançada da primeira série numa apresentação de dança de diversas regiões do Brasil. O auge foi uma cópia mirim de Callipso, onde uma menininha de 6 anos requebrava o pequeno quadril e um guri tocava empolgado uma guitarrinha de mentira. Na platéia, os pais embasbacados filmavam tudo e assobiavam, enquanto um gordinho fazia a dança do robô no meio dos pseudonordestinos. Chega a hora do rango e o pessoal, gente chique que paga um precinho de facul por mês para manterem seus filhos ali, dirigiu-se para a quadra de futsal, onde haviam montado as mesas. Na mesa grande, nada de rango. Tinha algo errado. Começaram então a distribuir senhas para um sorteio de brindes. Era um estratagema para tentar fazer hora até os assadores conseguirem dar conta da demanda, pois os galetos ainda estavam vivos. Um Papai Noel magro e com barba falsa chegou e formou-se uma fila gigante para pegar algum presente. As crianças frustravam-se ao constatarem que no saco do bom velhinho só tinha balas de R$ 1,99. Havia gente pequena chorando, traumatizada, enquanto começava o tal sorteio de brindes. Todos na minha mesa foram sorteados. Na verdade, haviam 250 senhas e 249 brindes. Que dúvida: meu 21 foi o único a ver navios. Dane-se, a fome apertava e eu só queria saber de forrar a pança. E não era só eu. Quando desceram as travessas de galeto, aquelas pessoas chiques das quais falei acima, levantaram-se e correram, tal qual os orcs de Senhor dos Anéis nas cenas de batalha, em direção à mesa com seus pratos na mão. Era a luta pela sobrevivência. Cotoveladas, olhares psicóticos, ameaças, empurrões, valia de tudo para angariar uma asinha ou um pedaço de peito. Meu conhecido mandou o filho ir com um prato e furar a fila, como um teleguiado. O piá voltou com duas folhas de alface e um olho roxo. Alguns ignoravam e pegavam 6 pedaços, estimulando a violência e a boca suja. Um sujeito de uns dois metros me ameaçou. Olhei feio pra ele. No meu lado, duas tias gordas trocavam gentilezas na disputa por uma coxinha. Compostura zero. Saí de lá perto das 10 da noite, com um pedaço de salsichão dentro de um pão, comendo pelas ruas escuras do Centro. Punk.

Na noite seguinte, rolou a festa no ex-apê da Diretora de Arte de Os Batedores e seu ex-colega de apê. Chamaram uma trupe e várias caixas de isopor para frisar a ceva. Demorou um pouco pra engrenar, mas valeu a pena, pois o papo foi descontraído e constatamos mais uma vez o quanto Porto Alegre é um ovo. De quebra, me indicaram onde achar um dos comerciais da BMW que todo mundo me dizia existir e eu nunca tinha visto, numa campanha publicitária milionária na qual a empresa contratou alguns dos diretores mais fodões de Hollywood da época para fazerem curtas onde os BMs fossem as estrelas. Para assistir ao curta do Guy Ritchie no YT, clique aqui.

Travesseiro até às 13h de domingo e lá fui eu pra Redenção, curtir uma brisa. Curioso como o parque estava vazio, a não ser pelos emos que passavam enquanto jogavam suas franjas de um lado para o outro e suavam dentro de suas roupas pretas. É certo que a burguesia usou o findi para ir pra praia, aproveitar o calor. Estendi minha toalha de poker na grama, peguei um livro de teoria e prática do roteiro (um roteirista, assim como qualquer outro profissional, tem que se reciclar sempre) e, depois de três páginas transcritas, peguei no sono. Acordei duas horas depois com uma repórter do Correio do Povo me cutucando, querendo me entrevistar. Atrás dela, um fotógrafo com o polegar pra cima sinalizava que já tinha uma foto minha...dormindo. Sensacional.

Fecho a noite de domingo com uma bebedeira insólita com meu produtor de elenco, minha ex-figurinista (que trabalhou comigo em três curtas) e um amigo nosso, que faz elétrica e assistência de câmera. No caminho para outro boteco, colhemos outra lenda viva (conhecido da figurinista) para nos acompanhar. O moço da elétrica apertava a mão do sujeito emocionado. Mal sabia ele que estávamos angariando um problema. O cara podia ser lenda, mas era uma lenda que falava alto pacaralho e que cuspia quando pronunciava os “efes”, os “erres”, os “pês”...na verdade ele cuspia o tempo todo, e no chivito do moço da elétrica, que já não estava mais tão emocionado com o encontro. Um copo de ceva derrubado e uma ótima história de mendigo depois, e conseguimos, a muito custo, direcionar a figura pra casa. Que maravilha.

A semana agora promete: releases pra mandar pra imprensa, locações pra conseguir, cronograma pra ajeitar à vontade de todos os envolvidos e um Making Of , no próximo sábado, de algo que não sei se é um documentário ou se é um debate sobre cinema.

Calma, Édnei. A semana recém começou...