segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Kids.

É impressionante como tudo ganha a capacidade de voar nos dias de hoje. As notícias voam. Os hábitos voam. O tempo voa. Tudo é uma corrida desenfreada onde a meta é somente o início de outra, e outra, e outra...

Ultimamente, tenho presenciado muito deste aspecto da velocidade na vida dos meus dois filhos: em como eles aprendem e aplicam seus conhecimentos com espantosa precisão adulta. Como pai coruja, fico abobalhado, acho graça, bate aquele orgulho. Como observador das nuances humanas, fico estupefato, surpreso, e as vezes apavorado.

A Morena mora na parte seca de SC, então ligo seguidamente pra saber notícias e matar um pouco da saudade louca que sinto. No último telefonema, a mãe dela pegou o telefone e resolveu me informar da última: a menina falsificou a assinatura da mãe em cinco bilhetes que a professora havia mandado colado no caderno para ser lido pelos pais e devolvido assinado, no decorrer do ano. Quando ouvi aquilo, a primeira reação foi dar um grande sorriso e tentar imaginar como uma criança de oito anos conseguiu ludibriar uma professora supostamente experiente. Lembrei de quando eu fazia a mesma coisa, só que com quase 15 anos na lata, no Segundo Grau. Como a mãe da Morena parecia furiosa no telefone, resolvi esconder o orgulho de paizão e concordar que aquele comportamento não era aceitável. Então ela passou o fone para a minha filha e perguntei algumas coisas e aconselhei outras. Toda aquela ladainha (verdadeira) de que os estudos devem ser levados a sério, de que devemos ser honestos com o pai e a mãe foi despejada na conversa. Ela me informou que já sabia disso e que, mesmo com os bilhetes que lhe pediam para falar menos durante as aulas, já tinha passado de ano com as notas lá em cima de sempre. O mais engraçado (ou assustador) é que ninguém havia lhe ensinado a traquinagem: nenhuma amiga, nem a irmã mais velha (uma menina de 12 anos, levada de carteirinha), nem a televisão. Ela simplesmente decidiu que não queria incomodar a mãe (e se incomodar, claro) e resolveu colocar seus dotes artísticos pra funcionar. Como ela me prometeu que não fará isso novamente e continua extremamente competente na escola, me despedi enfatizando o quanto estava feliz pela notícia de que ela tinha passado para a 4ª série.

Do lado de cá da fronteira, eis que fui pegar o Piá neste último fim de semana para passearmos. A primeira coisa que ele me perguntou quando me viu foi onde estavam os desenhos para colorir que eu havia prometido pra ele na semana anterior. Pra tentar enganar sua memória de elefante, perguntei o porquê da cabeça dele estar vermelha como um pimentão. Eis a resposta:

- Pintei o cabelo pra ir a uma festa.

Eu NUNCA pintei meu cabelo na vida, e aquele moleque de cinco anos coloriu todo o cabelo com spray vermelho e se divertiu como nunca numa festinha da escola. Disse-lhe “que legal, filho” e resolvi que o assunto dos desenhos para colorir era uma boa. Passamos numa loja de R$ 1,99 e comprei uma caixa de lápis de cor (12 cores). Fiquei aturdido ao me lembrar do quanto as coisas eram caras quando era eu a precisar de lápis: claro que os lápis de hoje não são de qualidade como os de antigamente e blá, blá, blá, mas impressiona o quanto tudo é acessível.

Tanto os lápis quanto os desenhos em si. Fomos até um PC para imprimir alguns desenhos para colorir e eu não tinha muita idéia de como achar material especificamente para isso na Internet. Perguntei pra ele se tinha algum site que ele conhecia e então ele me instruiu:

- Entra no Google, escreve “desenhos do Pica-Pau para colorir”, clica ali embaixo.

Oras bolas! Quem esse guri pensa que é me dando aulas desse tipo?

- Quer saber, já que tu sabe como fazer, quero que tu venhas e faça. – falei.

Ele sentou na cadeira, digitou “desenhos do Pica-Pau para colorir” com a velocidade de um macaco velho, clicou no botão “ENTER” do teclado numérico e escolheu um dos links com o mouse. Bom, nem preciso dizer que ele sabe escolher cores e pintar dentro dos limites...

Acredito que quase todos que têm filhos pequenos compartilham dessa experiência de vôo. Mas acredito que a sensação de que eles aprendem em mach 5 não deve nos incomodar ou ameaçar. Sou adepto da propagação da informação nesses casos, mas com certo monitoramento e com a certeza de que podemos guinar todo este potencial para o crescimento correto deles como pessoas.

Se aquela máxima de que “as crianças são o futuro” for correta, podemos nos preparar para vôos mais altos...

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