segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Ano vai. Ano vem.

Primeiro texto do ano. A sensação de que eu devia fazer um balanço me preenche. Mas não é forte o suficiente para que eu o faça. Balanço sobre o ano que passou só traria frustração. Desgraça. Atrairia o mau kami para este novo ano. Ninguém quer isso, quer? Nada de bom aconteceu no ano-que-não-devemos-dizer-o-nome. Minto. Foi um ano sórdido, mas duas coisas devem ser enumeradas.

Cinema. Cinema de guerrilha. Arquivo Morto. A produtora independente mais cool de Porto Alegre reuniu várias cabeças em um sítio de Mariana Pimentel. Fim de semana isolado. Bucólico. Zumbificado. O BBZ criou vida e saiu da nossa imaginação fértil para ser o curta mais difundido da AM. Selecionado em dois festivais de cinema fantástico. Nada mais justo.

Cinema. Cinema de guerrilha. Arquivo Morto. O projeto mais audacioso da produtora até hoje atende pelo nome de Os Batedores. A idéia partiu de um banco de praça. Lia meu livro. Ao meu lado, um batedor de carteiras conferia a pilhagem do dia. Corri pra casa. Comecei a escrever. Roteiristas são pessoas engraçadas. Olham para alguém atravessando a rua e criam. Olham para um menino pedindo algodão-doce para o pai e criam. Sou roteirista. Não sou diferente. Equipe nova, pessoas novas. Outrora desconhecidas. Hoje são praticamente irmãos. Pegam junto e não largam até que o último take seja aprovado e a turma volte exausta pra casa ou pra Cidade Baixa. O que vier primeiro. E que cenas. Equipe esforçada. Elenco de primeiríssima linha. Estamos criando. Uma obra. Prima. Nada mais justo.

Sou suspeito. Dane-se. Verdade deve ser dita. Ano de merda este que passou. Comecei o ano numa situação e terminei com ela mil vezes pior. Conheci pessoas que teria o maior prazer em desconhecer. Mas também conheci pessoas maravilhosas. Comecei trabalhos épicos. Meus filhos cresceram lindos. E continuam crescendo lindos. Ela indo pra terceira série. Ainda tão longe de mim. Ainda tão carinhosa. Ele, um gênio. Perto, mas também tão longe. Também carinhoso.

Dizem que essas coisas são o que conta para o tal balanço que eu não queria fazer. Os que não me conhecem, se eu contasse passo a passo meu trajeto neste ano que passou, provavelmente chorariam comigo num cantinho sujo. Papel higiênico para enxugar as lágrimas. Verdade. Não sou deprê. Sou complicado. Dizem que é diferente. Mas dizem tanta bobagem por aí...

Enfim, cansei. Este novo ano, este 2008 novo, redondo, dizem que promete. Viramos a virada e nada mudou. A orla do Guaíba continuou fétida. A champanhe continuou barata. Minhas contas continuaram a assolar a mente. Mas as pessoas que conheci e que quero que fiquem comigo para sempre continuam por perto. Os Batedores continua sendo rodado. Meus filhos continuam lindos. As poucas coisas boas que consegui angariar neste ano que passou ainda estão aí. Todas elas. Algumas coisas ruins ainda persistem. Mas outras vieram e foram. Caíram. Pensando bem, isso é algo de bom, não?

A vida não mudou na virada. Mas é certo que as coisas vão melhorar e mudar neste novo ano. Neste 2008 que nos reserva surpresas. E o que não mudar pra melhor por si, será mudado na marra. Sem muito alarde. Meu destino quem controla sou eu.

Invariavelmente, este ano que chega será melhor. Bem melhor.

Um comentário:

Maria Morena Maia disse...

Ai Édnei, Édnei...se tu soubesses quanto do que disses converge em outro tanto que passei...O ano que passou, passou. Mas avalio que cresci e aprendi bem mais com as árduas penas que com as coisas boas e leves que me ocorreram. E nele, algo de bom persistiu: nossa amizade. Distante, é verdade, mas presente. Que 2008 seja o ano da virada. Nem que seja na marra, como tu disse. E que ele venha quente...pois eu estou fervendo! Até.