Pois é, faz um tempo que eu não durmo mais de 4 horas por noite, e neste sábado não foi diferente: acordei cedinho para visitar meu filhotão e, de lá, seguir para o centro na primeira hora da tarde para encontrar alguns membros da equipe do nosso mais novo curta.
Ah, é bom abrir um parênteses aqui, até porque algumas pessoas que por ventura lerem este blog podem não me conhecer (e como comecei a ser “blogueiro” na semana passada...): estudo Administração na PUCRS, faço estágio em uma empresa de sistemas de segurança e, nas horas vagas, divido meu tempo entre visitar meu filho (que mora com a mãe dele, minha ex-gata), sair com amigos, estudar e escrever roteiros e produzir para cinema de guerrilha em Porto Alegre.
Eu e meu cumpadre (que é meu melhor amigo, meu filho tem o nome dele) somos os responsáveis pela Arquivo Morto, uma produtora independente sem fins lucrativos que idealiza histórias, convoca pessoal e produz cinema no amor. Depois das pessoas que eu amo, esta é, de longe, minha maior paixão: fazer cinema de guerrilha.
Estamos com esse projeto denominado Os Batedores, um curta-metragem sobre um ladrão de carteiras que é obrigado a pagar uma dívida grande em poucas horas e terá de suar a camisa pra conseguir a grana. Roteiro meu (não sei como consigo convencer pessoas a filmarem de graça as minhas histórias, mas enfim...) e Direção de Produção idem. Fiquem atentos, pois falarei muito sobre ele aqui ainda.
Fechando o parênteses: este é um post sobre cinema de guerrilha...
Como disse acima, depois de deixar meu piá na casa de uma tia, segui pro Centrão para encontrar um pessoal para perambular pelas ruas a fim de achar locações externas interessantes. Depois de encontrar o Diretor, o sonoplasta e o assistente de direção, seguimos caminhando e tirando fotos de possíveis locais. Neste curta, haverá três cenas externas no centro e duas seqüências de montagem, mas sem sombra de dúvidas, nossa principal cena será a de um linchamento, que o Diretor (queriiiiiiiiidoooooooo) inventou de filmar artesanalmente na Esquina Democrática, a esquina mais movimentada da cidade.
Não dá nada, matamos no peito. Pelo menos o ator a ser “linchado” não será eu. Nesta esquina, encontramos uma daquelas estátuas-vivas, e logo nosso Diretor (queriiiiiiiiiiiiidoooooooo) teve a idéia brilhante (ok, admito, é brilhante) de incluir o artista na cena. Fazendo um outro parênteses, é interessante como o mercado de estátuas-vivas anda evoluindo: antigamente o cara que se vestia de anjo e ficava na Andradas era o bam-bam-bam da parada (chegou a figurar num filme do Jorge Furtado). Hoje, eles são obrigados a usar a criatividade, normalmente no figurino, para burlar a concorrência, que é quase em massa (dia desses vi um moleque qualquer tentando tirar algum vestindo uma bermuda e com o corpo todo pintado de cinza). Neste caso, o sujeito em questão vestia uma roupa toda produzida, com máscaras (aquelas de bailes) e babados em várias partes do corpo. Um visual bacana.
- Édnei, temos de pegar os contatos dele. Vai lá.
- Eu????
- Sim, tu é o produtor. Achou que esse trabalho era peidar dormindo, é?
Lá foi o Édnei falar com o sujeito. Comecei a tagarelar e o cara não se mexeu. Saquei que ia ter de pagar para chamar a atenção dele. Pedi pro meu colega jogar uma moeda na urna. Após o tilintar do metal, a estátua se inclinou.
- Boa tarde, estamos fazendo a produção de um curta...
- Sorry, i don’t understanding you.
Que beleza, o puto falava inglês e o meu inglês andava um caco. Chamei o Diretor e pedi pra eles se arranjarem com o cara. Num inglês quase perspicaz, os dois se acertaram, o Diretor pegou os contatos dele e, quando agradecemos com um “Thanks”, o cara responde “De nada” com um sotaque paulista.
Depois de sermos passados pra trás por um cara que ganha a vida fingindo ser uma estátua, seguimos para nossa segunda reunião do dia. Ao chegar no carro, o Diretor recebeu um torpedo da nossa Diretora de Arte dizendo que ela estava saindo do projeto por motivos mil (e um deles seria minha “imaturidade”). Sim, eu tinha uma certa pendência com ela (por questões pessoais cuja época este blog não pegou), mas abandonar um projeto relativamente grande e bonito que é este nos 47 minutos do segundo tempo (previsão de início das filmagens para daqui a duas semanas) não é exatamente uma boa amostra de maturidade, certo?
Bem, azar o dela, problema nosso: usamos então a reunião das 16h para formalizar soluções em relação à arte e tratar de outras coisinhas básicas (como nosso fornecimento de água mineral nas gravações). Não demorou muito para que nosso assistente de direção abraçasse a causa e convocasse, naquela mesma tarde, uma figurinista e produtora de figurino (sim, além de ser Diretora de Arte, a figurinha era também figurinista e produtora de figurino). O assistente olhava para a lista de pendências que passei pra ele e dizia “Deixa comigo, deixa comigo”.
Passamos o restante de sábado tentando resolver isso. Na manhã seguinte, sou acordado pelo celular: era o Diretor me ligando para avisar que seu assistente havia conseguido, naquela manhã, o restante da equipe de arte que o curta precisava. Em suma, para o bem do projeto (e nosso) ou para o mal (de alguém que, por ventura, não teve a menor consideração em nos deixar na mão), ficamos desfalcados por menos de 24 horas.
Hoje estamos com o time técnico completo. O Assistente de Direção é foda. O Diretor é foda. O Roteiro é foda. O Elenco é foda. A Equipe é foda. O Projeto é foda.
E este filme, meus amigos, vai ser muito foda também...Isso é cinema de guerrilha, senhoras e senhores.
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Um comentário:
Na torcida desde sempre. E eu sou pé quente. Até.
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