segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Entre golpes e sutilezas.

Texto publicado originalmente em 31 de março de 2005, no site www.sobrecarga.com.br

Após três anos de espera, finalmente consegui colocar os olhos em
Herói, filme dirigido por Zhang Yimou (O Caminho Para Casa) e protagonizado pelo sempre caris
mático e igualmente veloz Jet Li (O Confronto).

O longa teve sua estréia no oriente em 2002 (chegou a concorrer ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro na época) e, não fossem por Quentin Tarantino (o diretor de Pulp Fiction que fez a cabeça dos chefões da distribuidora Miramax para lançar Herói no ocidente), continuaria por lá mesmo (o trato foi simples: Tarantino emprestaria seu bom nome para fazer a chamada do filme). Demorou exatos dois anos para que Herói chegasse aos Estados Unidos, e mais um para que aportasse por aqui.

Toda esta espera acabou valendo a pena, tanto para a Miramax, quanto para os afortunados (como eu), que puderam conferir o épico chinês que conta como o guerreiro Sem Nome (Jet Li) derrotou sozinho os três espadachins mais poderosos de seu tempo, para garantir a integridade física do soberano Qin (Daoming Chen), senhor da província do norte, no tempo em que a China era dividida em sete territórios.

Simples como andar de bicicleta, esta introdução é apenas o rufar de tambores para o grande espetáculo, narrado através da direção serena de Yimou, da fotografia espetacular de Christopher Doyle (O Americano Tranqüilo) e, claro, das cenas de lutas (de deixar “Tigres” e “Dragões” roxos de vergonha) que tomam o status de coadjuvantes de luxo, dando a bola da vez para o roteiro de poucas palavras e sutilezas quase subliminares, que nos mostra que nem tudo é o que parece ser e toda história tem mais de uma perspectiva.

Para enfatizar este recurso da história (comparado ao filme Rashomon do diretor Akira Kurosawa, onde há várias versões para um assassinato, até a do morto), as cores de cenário e figurino mudam conforme os flashbacks, sublinhando as facetas da narrativa com significados obscuros e óbvios ao mesmo tempo: azul para amor e esperança, verde para juventude, branco para verdade e preto caracterizando a morte, sempre. Até o vermelho, usado inicialmente, denota claramente paixão e traição, como se o próprio semblante dos protagonistas fosse dotado de lascívia nesta parte da narrativa. Não só o imperador Qin, como o mais arguto dos espectadores notarão que há algo que não cheira bem ali.

Como se não bastasse, há que se tirar o chapéu para o elenco afiado. O ator Tony Leung, que fazia parceria com o diretor Jonh Woo quando este ainda tinha suas origens nos filmes de máfia chinesa, mostra a que veio, emprestando uma atuação sublime ao guerreiro Espada Quebrada e sua parceira de cena (Maggie Cheung, como a explosiva Neve Que Voa) também não deixa por menos. Uma pena que a bela Zhang Ziyi apenas tenha reprisado seu papel de aprendiz temperamental (idêntico ao feito anteriormente no filme O Tigre e o Dragão do diretor Ang Lee), mas isso deve mudar com o vindouro O Clã das Adagas Voadoras, onde a moça entra na pele de uma guerreira cega e tinhosa. E, por último, mas não menos importante, tem Jet Li, que sempre paga o filme.

Se todos estes predicados não forem suficientes para que você saia voando para o cinema mais próximo, então resta dizer que o filme de Yimou tem todas as chances de figurar na prateleira de obras primas num futuro próximo, e que suas cenas imbatíveis provavelmente perderão metade da graça em uma tela que seja menor que 3 metros.

***

Dica de filme:

Herói (Ying Xiong)
Diretor: Zhang Yimou
Elenco: Jet Li (Sem Nome), Tony Leung (Espada Quebrada), Maggie Cheung (Neve Que Voa), Daoming Chen (Qin), Zhang Ziyi (Lua)
Duração: 96 minutos
Gênero: Ação
Ano: 2002

O reassisti na sexta passada. É impressionante como este filme não envelhece: continua belíssimo como imagem, e como história.

2 comentários:

Anônimo disse...

rapaz...essa cena da mocinha no bosque florido é incrivel,hehe...eu voltei a cena das flores umas 10 vezes até enjoar...e as lutas com as gotas de a´gua são fódas!!
pena que é pra um grupo de fãs mesmo...
mas é melhor assim!!! a qualidade não se perde em favor das massas!!!
ah...e as cenas das flechadas eu sempre passo na locadora quando me lembro!!! sempre locam o filme, hehe!!

bom post!!bom filme!!

abraços!!

Édnei Pedroso disse...

É, acho que tu tá certo, Sapão: quando um filme fica "pop" demais, muito da aura dele acaba se perdendo...se bem que Pulp Fiction está aí, heheehe.

Abração.