
Provavelmente, grande parte dos leitores desta coluna – os que são fãs do chamado western spaghetti, principalmente – já deve saber com qual filme fecharei esta trindade do bang-bang, iniciada há dois textos atrás.

Os nomes que trabalharam para esse feito são alguns dos motivos que fizeram desse longa um espécime único, imortal. A começar pelo próprio Leone, cujo nome já era grande conhecido na caracterização do Oeste Selvagem com a famosa "trilogia dos dólares" (Por um Punhado de Dólares, Por uns Dólares a Mais e Três Homens em Conflito, todos protagonizados por Clint Eastwood). O diretor era muito conhecido também por conciliar tomadas longas, close-ups desconcertantes e impressionante fotografia (assinada nesse filme por Tonino Delli Colli), aliado à habilidade de direção de atores que poucos possuem. Tudo com maestria indiscutível.




Entre as tomadas longas já citadas (explorando a fotografia árida) e as cenas de tiroteio impressionantes, os diálogos disparam chispas para todo lado, fazendo uma menção clara ao pessimismo que aflige a sociedade, inclusive nos dias atuais, o que faz desse filme um espécime atemporal (em certa cena, Cheyenne menciona a Harmônica que existem “fariseus” em qualquer época). Essa característica negativa era uma marca forte de Leone, que fazia questão de bradar aos quatro ventos que o projeto era como uma dança da morte, onde todas as personagens, com exceção de Jill, têm plena consciência de que não chegarão vivos até o final da película.
Spoiler? De jeito nenhum. O que importa é como isso é orquestrado ao longo dos 166 minutos; é como a narrativa parte de um trio de mal-encarados esperando um trem (numa das entradas de filme mais longas e clássicas de todos os tempos, quase 14 minutos) e como ela chega a um desfecho magistral, onde dois homens, de olhos sombrios como a morte e gatilhos rápidos como um raio, se enfrentam no duelo mais espetacular já filmado, ao som da trilha arrepiante do mestre Ennio Morricone (colaborador-mor de Leone e responsável por outras trilhas cruciais, como a de Os Intocáveis, por exemplo). Uma ode à vingança.
Em uma dessas curiosidades insanas, esse filme não levou sequer uma indicação ao Oscar, o que nos leva a constatar, mais uma vez, que a Academia não entende muito de obras de arte. Mesmo que Henry Fonda esteja sublime no único papel de vilão de sua vida (bem como todo o elenco), ou que a direção, a montagem e a fotografia tenham sido perfeccionistas e vicerais, ou mesmo que a trilha sonora seja um achado.
É uma pena que grande parte das pessoas que fizeram de Era Uma Vez o Oeste uma obra-prima não esteja mais entre nós. Gente talentosa, que nos mostrou como o cinema vai além de meras imagens e meia dúzia de frases feitas e como se faz um filme de verdade, baseado em talento e dedicação. Um brinde a Sergio Leone.
Aqui fecho a Santíssima Trindade do Western, com a sensação de dever cumprido ao apresentar esses espécimes raros, principalmente, a esta nova geração de amantes do cinema, que devem descobrir que filmes bons, assim como fariseus, existem em qualquer gênero, em qualquer época.
***
Dica de filme:
Elenco: Jill (Claudia Cardinale), Frank (Henry Fonda), Cheyenne (Jason Robards), Harmônica (Charles Bronson), Morton (Gabriele Ferzetti)
Duração: 166 minutos
Gênero: Western
Ano: 1969




Aqui fecho a Santíssima Trindade do Western, com a sensação de dever cumprido ao apresentar esses espécimes raros, principalmente, a esta nova geração de amantes do cinema, que devem descobrir que filmes bons, assim como fariseus, existem em qualquer gênero, em qualquer época.
***
Dica de filme:
Era Uma Vez no Oeste (C'era una Volta il West)
Diretor: Sergio LeoneElenco: Jill (Claudia Cardinale), Frank (Henry Fonda), Cheyenne (Jason Robards), Harmônica (Charles Bronson), Morton (Gabriele Ferzetti)
Duração: 166 minutos
Gênero: Western
Ano: 1969

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