quarta-feira, 29 de abril de 2009

A Crise: para leigos.

Como todos sabem, há dois assuntos que estão perambulando pela cabeça de todo mundo. Um que a maioria não entende como aconteceu, outro que apareceu do nada nesta semana e está sendo combatido (que comentarei num outro texto). Como este blog não é só mais um rostinho bonito (MODO MEGALOMANÍACO ON – mas também um templo de idéias e sabedoria – MODO MEGALOMANÍACO OFF), analisemos os fatos que estão consumindo jornais e revistas, sites e programas, sonhos e pesadelos.

Começemos com a famigerada CRISE, que encabeça a parada como o assunto mais falado do ano. Mas afinal, como diabos começou a crise? Como também não tenho a mínima pretensão de tornar esse texto chato e pedante além do necessário (mas sim de fazer você entender a crise), abordarei o assunto na linguagem de leigos como eu (quem quiser uma explicação mais pomposa e científica, basta acessar o Google).

Sendo rápido e rasteiro, essa coisa toda começou no mercado imobiliário americano, que vinha instigando o pessoal a ter sua casa própria ao American Way (ou seja, de qualquer jeito) e empreendia facilidades de pagamento à longo prazo e sem nenhuma garantia (reza a lenda que o fulano não precisava sequer comprovar renda para adquirir um imóvel). Para pegar logo a grana das vendas (sem ter de esperar os compradores pagarem as parcelas), as financeiras que avalizavam estes negócios abriram títulos no mercado, baseados na promessa de pagamento das parcelas da casa própria. Graças as altas taxas de juros (que indicavam ser este um negócio bem rentável), estes títulos foram comprados por corretoras de investimentos, que repassavam esses mesmos títulos para investidores no mundo todo, na forma de propostas de investimento (entenda, estamos falando de negociações muito altas aqui, um mercado de centenas de bilhões de dólares).

Esta prática dos negócios na base de títulos estava (suposta e ilusoriamente) indo muito bem até que o Governo Americano, num retorno de crescimento econômico, resolveu elevar ainda mais as taxas de juros, fazendo o primeiro americano médio (algum mecânico de automóveis qualquer do Alabama que tinha adquirido sua casinha de dois pisos) parar de pagar suas parcelas. Quatro, doze, centenas, milhares e, finalmente, milhões de pessoas pararam de pagar as exorbitantes parcelas da casa própria americana. Se lembrarem do que foi dito até aqui, toda a movimentação e investimentos financeiros eram embasados em títulos, e esses títulos eram embasados no quê mesmo? Nos pagamentos das parcelas. Esta bola de neve quebrou financeiras, depois corretoras, depois investidores, e toda essa patota resolveu pedir ajuda aos bancos, que afundaram junto (e os bancos, não se enganem, é uma das últimas linhas de defesa da economia capitalista, afinal, se eles não têm grana, quem terá então?).

Mas por que algo que começou nos Estados Unidos nos atinge? Porque, com a globalização (e a interdependência das economias, onde um país vale o que compra/vende do/para o outro), a economia se quebra num efeito dominó e atinge todo mundo, alguns países mais (como o Japão, por exemplo), outros menos (como o Brasil), mas todos levam nas costas.

Como isso pode nos prejudicar? De todas as formas imaginadas (com exceção da sexual, a não ser que seu estímulo venha de negociações na bolsa). Basta dizer que a maior parte dessas empresas que fizeram os investimentos dos tais títulos são as mesmas que nos fornecem energia, alimentação, combustível, lazer, saúde, e todas as outras coisas que nosso dinheiro compra (direta, ou indiretamente). Quando não é dessa forma, é na forma da bolsa de valores e do mercado de câmbio, que determina o valor de nossas moedas e, consequentemente, os preços de tudo que consumimos. Como as empresas onde trabalhamos também compram coisas cujos valores são determinados da mesma forma, quando a crise se instala, elas cortam gastos da pior forma possível: cortando pessoal.

Curiosamente, os bancos, financeiras e todas essas entidades prejudicadas estão pedindo auxílio dos Governos para resolver a crise (e, por tabela, suas próprias traquinagens), invocando um dos principais conceitos da economia socialista: a intervenção estatal. Tenho certeza absoluta que muita gente da antiga esquerda achou que não viveria para ver o capitalismo fazendo isso.

Resumindo, a analogia que todo mundo está fazendo com aquele jogo dos anos 50 é real: estamos na crise porque os Estados Unidos estavam brincando de Banco Imobiliário, com títulos no lugar do dinheiro de mentirinha, mas com estragos bem reais.

2 comentários:

Graziela disse...

Digamos que monotonia não é exatemente a palavra para definir esses nossos tempos.
Vidinha agitada essa do sec. XXI...
Adorei o texto.

B.M.

Édnei Pedroso disse...

Que bom que gostou. Espero ter me feito entender.

B.M.