domingo, 15 de fevereiro de 2009

A Perfeita Máquina de Matar.

Texto publicado originalmente em 30 de janeiro de 2006, na coluna Passado a Limpo, do site www.sobrecarga.com.br.

O ano de 1975 foi marcado por inúmeros acontecimentos: era lançado o primeiro computador doméstico (Altair 8800), Niki Lauda conquistava seu primeiro título mundial na Fórmula 1, a Indonésia invadia o Timor Leste e Angelina Jolie nascia em Los Angeles. É verdade, porém, que apenas um acontecimento marcou para sempre esse ano, deixando todos os outros já citados na sombra.

Naquele tórrido verão de 75, os farofeiros trocariam as praias pelo cinema com a chegada de Tubarão às telas. Adaptação do best-seller de Peter Benchley, o filme dirigido pelo novato e desconhecido Steven Spielberg contava a história de Amity, uma cidadezinha litorânea americana às voltas com um imenso tubarão branco que resolve se instalar por lá e devorar os banhistas.

Já era!

O chefe de polícia Martin Brody (Roy Scheider, de Operação França), responsável pela segurança do lugar, tenta interditar a praia sem sucesso, restando-lhe uma última alternativa: caçar o bicho ao lado do ictiologista Matt Hooper (Richard Dreyfuss, ótimo) e do pescador casca grossa Quint (Robert Shaw).

"Acho que precisaremos de um barco maior..."

Com essa simples fórmula, Tubarão chegou com tudo naquele verão. Uma multidão jamais vista nos moldes cinematográficos acotovelava-se para assistir ao que os jornais chamavam de “o filme mais assustador de todos os tempos”, e não era para menos. Após as exibições, os balneários simplesmente ficaram vazios naquele ano. O medo provocado pelo filme de Spielberg criou uma fobia aquática mundial tão intensa, que muitas pessoas têm pavor de mar até hoje.

Que dentes grandes você tem...

Verdade seja dita: se existisse uma lista de entes marinhos que pudessem ser aproveitados para um filme de suspense, o tubarão branco estaria no topo. Trata-se de uma perfeita máquina de matar, com um impulso de ataque que pode chegar a 25 km/h (um nadador olímpico não chega a 12km/h). Sua boca, em posição ventral, tem uma grande abertura, graças à inexistência de contato do maxilar com o crânio, o que faz o tubarão jogar sua dentadura para fora da boca a fim de abocanhar algo mais distante se assim quiser (similar ao Alien, só que menos feio de se ver). Os dentes, afiadíssimos, são trocados de 15 em 15 dias e estão dispostos em duas ou três fileiras.

Embora seja míope, o tubarão possui um olfato absurdamente apurado, podendo sentir o cheiro de uma gota de sangue a 300 metros, no meio do oceano. Também possuem linhas laterais capazes de captar vibrações de baixa freqüência, mudanças na temperatura e na pressão da água, assim como localizar alimentos e obstáculos em águas turvas. Além de também fazerem tudo isso, as “ampolas de Lorenzini” (poros localizados ao redor do focinho) podem detectar campos elétricos muito sutis, gerados por outro animal, bem como guiar o tubarão no mar aberto, através, pasmem, do campo eletromagnético terrestre. Um caçador por natureza.

Ops, tubarão errado...

Mas há de se desmistificar o tubarão como um animal homicida. Embora esses bichos sejam predadores perfeitos (tanto que eles não possuem grandes modificações em sua morfologia há 150 milhões de anos), o homem não é um prato que o tubarão goste de degustar. Salvo raras exceções, os ataques de tubarão a uma pessoa são frutos de erro de identificação. Surfistas com roupa de borracha são confundidos com focas e pessoas deitadas em pranchas com tartarugas (duas presas habituais).

O próprio gosto de carne humana faz o tubarão largar a vítima tão rápido quanto mordeu (segundo especialistas, não somos muito saborosos para eles). Meu professor de biologia costumava dizer que, estatisticamente, há mais pessoas morrendo de queda de coco na cabeça do que de ataques de tubarão, logo, como ter medo de um bicho que mata menos do que coco, certo?

Bruce (alcunha dada por Spielberg ao tubarão, graças ao nome do advogado de sua ex-esposa) era um espécime único: ao contrário dos outros tubarões brancos (que medem no máximo 6 metros), Bruce tinha quase 8 metros de comprimento. Além disso, parecia ser mais inteligente, genioso e vingativo que seus parentes: quando atacava alguém, só deixava pequenos pedaços. Embora seja indiscutivelmente o grande astro do filme, Bruce só mostra suas fuças depois de 88 minutos de projeção. Graças ao grande problema em produzir um tubarão assassino sem o uso de computação gráfica (que era coisa de ficção na época), Spielberg teve de suar a camisa para conseguir filmar os ataques e dar curso à trama sem mostrar o tubarão, que estaria sendo “construído” para protagonizar a cena final, quando os três aventureiros teriam de ficar cara a cara com Bruce. Sim, a fera que aparece no final e dá aquele trabalho todo é um robô de 7 metros.

Bruce fazendo uma boquinha.

Além do tubarão, a trilha sonora composta por John Willians também é de arrepiar. Aliada sempre ao prenuncio de um ataque de Bruce, a música acabou dando o primeiro Oscar para Willians, que depois disso, viria a ser premiado mais 4 vezes. Até hoje a composição é usada em diversos outros projetos para sinalizar perigo.

Spielberg (que tinha 26 anos de idade na época das filmagens) já havia dirigido Encurralado e Louca Escapada, porém, é indiscutível que seu primeiro grande marco foi Tubarão. Graças a sua destreza, versatilidade e senso de improviso, o diretor pôde trazer ao público sua primeira grande obra. Uma das dez maiores bilheterias da história do cinema.

***


Dica de filme:


Tubarão (Jaws)
Diretor: Steven Spielberg
Elenco: Roy Scheider (Martin Brody), Robert Shaw (Quint), Richard Dreyfuss (Matt Hooper), Lorraine Gary (Ellen Brody), Murray Hamilton (Larry Vaugh)
Duração: 123 minutos
Gênero: Terror

Ano: 1975

2 comentários:

Graziela disse...

Adorei o texto.
E sim, a trilha de Tubarão é das mais inesquecíveis da história do cinema.
Quando criança, morria de medo do filme, mas sempre assistia quando passava na sessão da tarde :)

B.M.

Édnei Pedroso disse...

Obrigado. Obrigado. Obrigado.=)

B.M.