Há um tempo atrás, o S666P também fez uma listinha de apostas que acertou 6 das 8 principais premiações (você pode conferir a lista do S666P clicando aqui). Curiosamente, e para deleite dos cinéfilos que torciam pelo dia em que a Academia amadureceria e abriria seus horizontes para a qualidade das produções não-estadunidenses, o Oscar seguiu algumas tendências bem interessantes nas premiações deste ano (a lista completa dos vencedores, você pode conferir aqui).
A começar pelo grande filme da noite. Com um elenco totalmente desconhecido e um diretor brilhante, mas longe dos padrões do prêmio, Quem Quer Ser um Milionário? impressionou pelo fato de ser uma produção britânica-indiana independente e, mesmo assim, se confirmar como o melhor filme da disputa (o que o sabichão aqui já dizia aqui), arrebatando 8 das 10 categorias em que concorria, ao passo que o comercialmente favorito O Curioso Caso de Benjamim Button levou apenas 3 das 13 (treze indicações...é, 13 não é um bom número mesmo).
"Why So Serious, Motherfucker?"
As premiações para atuações seguiram caminhos mais do que justos: Penelope Cruz é uma das poucas variáveis que vingam em Vicky Cristina Barcelona e o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante (o primeiro de uma atriz espanhola) combina muito bem com sua exuberante beleza. Kate Winslet confirmou seu favoritismo para Melhor Atriz com sua bela atuação em O Leitor, ao passo que Sean Penn, um dos três atores mais talentosos da atualidade, deu uma tremenda rasteira no lutador de Mickey Rourke e levou o Oscar de Melhor Ator por seu trabalho em Milk, estabelecendo a tendência da Academia em premiar papéis biográficos (vide Capote de Seymour Hoffman, ou o ditador Idi Amin de Forest Whitaker, entre muitos outros). O Oscar de Melhor Ator Coadjuvante, claro, foi a entrega mais esperada da noite, uma vez que o Coringa de Heath Ledger estava prestes a ser imortalizado com a estatueta dourada. E não deu outra: em um momento emocionante, com aplausos de pé e tudo o mais, os pais do falecido ator foram receber a merecida e única premiação da festa que era mais do que certa. Dizem que Robert Downey Jr. chorou como uma mulherzinha (não sei se emocionado, ou de raiva), mas eu queria mesmo era ver a cara do Jack Nicholson neste momento histórico.Outros prêmios menores também causaram surpresa, principalmente para o crítico de cinema Rubens Edwald Filho, que quase teve um orgasmo ao vivo quando o filme japonês Departures levou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro para casa, contrariando o favoritismo da animação israelense Valsa Para Bashir, que havia ganhado o Globo de Ouro e eu ainda não assisti, mas já me disseram que é bom pra c@#$lho. Wall-E ganhou, merecidamente, o Oscar de Melhor Animação, e Presto, curta de animação também da Pixar, foi passado para trás por La Maison em Petits Cubes, outro espécime japonês, na categoria Melhor Curta de Animação.
Mas nem só de prêmios vive a noite do Oscar. A festa (que eu ainda não assisti), contou com uma bela apresentação do ator Hugh Jackman, que cantou, sapateou, atuou e imprimiu uma ótima impressão para quem viu e me falou. Outros momentos ótimos pagaram a noite, como Ben Stiller imitando Joaquim Phoenix na famosa entrevista que deu para David Letterman, ou Jack Black dizendo que ganha mais grana com animações do que com filmes tradicionais. O motivo? Ele aposta tudo na Pixar (Em Tempo: ele foi dublador de Pô, o herói do filme Kung Fu Panda, que é da concorrente Dreamworks). O foda é perder tudo isso para ver o carnavalesco Cebola sendo atropelado por um carro alegórico na Globo. Misericórdia.
No fim das contas, fico feliz de ver que, merecidamente, Quem Quer Ser um Milionário? foi o grande vencedor da noite. Trata-se de um filme versátil, impactante, otimista e inventivo, que além de ser muito bem feito, quebra paradígmas ao sobrepujar um filme especialmente feito para o Oscar, como O Curioso Caso de Benjamim Button, feito com muito mais recursos, com um elenco estelar, equipe de primeiríssima linha e um diretor talentoso e respeitável como David Fincher, mas que construiu, com a história do homem que nasce velho e morre jovem, um filme que todos já viram antes, mais de uma vez.
Produzir um filme indiano aclamado por público e crítica: U$S 15 milhões.
Levar o Oscar pra casa, passando por cima de um arrasa-quarteirão hollywoodiano: não tem preço.
Minha única ressalva nas premiações principais fica por conta do Oscar de Melhor Diretor, dado para Danny Boyle (que, na verdade, merecia ter concorrido e vencido pelo irretocável Trainspotting) em detrimento do trabalho impecável do diretor Stephen Daldry em O Leitor. Daldry foi perfeccionista ao imprimir a aura de uma relação mal resolvida neste belo filme sobre amor, culpa e reparação, e fez um trabalho muito mais sólido em seu filme do que Boyle o fez no filme indiano. Porém, é visível que a Academia usou este ano para dar uma guinada na premiação, passar a mensagem de que está pronta para novos pontos de vista, anunciar que está se reciclando. Uma pena que Stephen Draldry tenha sido uma vítima deste progresso, mas haverão outros filmes, e novas oportunidades, afinal, Oscar é como o maldito Desfile das Escolas de Samba do Rio de Janeiro: tem todo ano.Levar o Oscar pra casa, passando por cima de um arrasa-quarteirão hollywoodiano: não tem preço.
P.S: Por que diabos nós, aqui do sul do Brasil, temos de ver desfile de escolas de samba da capital carioca a noite inteira???? Não seria mais lógico, já que não podemos nos livrar desse evento, exibir os desfiles de cada capital para a sua própria região?
Um comentário:
Ao menos tu pode dizer que pulou carnaval. Nem que tenham sido saltos de raiva.
Ontem eu vi o Quem quer ser um milionário e a mocinha na minha frente ao final disse pra mãe: ah, o Benjamin Button é muito mais legal.
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