terça-feira, 3 de junho de 2008

Sobre o Tempo.

Houve um tempo em que as flores eram radiantes. As crianças sorridentes. Os chocolates mais gostosos e os vinhos mais encorpados. Um tempo onde inocência era sinônimo de ingenuidade. Onde ignorância era apenas não saber o porquê. Um tempo ao tempo.

Mas há o tempo e há o tempo. O tempo das coisas. Tempo de fazer as coisas. Tempo de esperar pelas coisas (não gosto muito dessa modalidade). Tempos e tempos. E todos esses tipos de tempos possuem ligação direta com as coisas. Que coisas? Não faça pergunta difícil. Todas. O tempo está em tudo o que temos. Tudo o que fazemos. Tudo é uma questão de tempo. E o tempo é uma questão do quê?

De fazer acontecer, talvez. Ele pensa assim para alguns casos. No geral, acredita que o tempo é como o frio. Não existe. Existe a falta de calor. Existe a falta de tempo. Começou a sentir isso aos 24 anos, quando abaixou-se para amarrar os cadarços e deu um mal jeito nas costas. Como um ancião. Não se levantava pois era como um formão arrebentando sua coluna. Andou curvado por meia manhã. Até que, lentamente, sua postura voltou ao normal. Mais que o tempo perdido tentando encontrar uma forma milagrosa para andar direito, lamentou que estava ficando velho. Com a velhice dos 24, descobriu a efemeridade da vida. A falta de tempo. O tempo é como linha em uma folha de caderno: passa e não há como reaproveitar. Voltar atrás. Escrever onde já está escrito. Ele bem que tentou algumas vezes. Sucesso zero.

Ele sente a perda de tempo e fica apreensivo. Se ocupa. Se mexe. Preenche espaço no tempo. Sabe que não recupera mais o tempo perdido e que tempo a perder é tudo que resta. Talvez seja por isso que a perda de tempo lhe aplique tantos fios de cabelos brancos. Coisas e pessoas que encarnam a perda de tempo lhe irritam. Mas ele mantém o sorriso. Sabe que nem todos têm essa visão regressiva ou essa urgência em viver a vida em sua plenitude. Ignorância talvez. Mas essa não seria a de “não saber o porquê”.

Com o tempo – na verdade, a falta dele – aprendeu que além de ser implacável, o tempo também é o tal remédio do qual tanto falam. O tempo, assim como a natureza, sempre dá um jeito. Nem sempre é o jeito mais agradável, mas com certeza um jeito é um jeito em qualquer lugar. O complicado é arranjar tempo. Para as coisas.

Tempo...
Coisas...

Elos de uma corrente que sempre arrastamos. Para sempre.

Um comentário:

Anônimo disse...

Sabe que lendo esse post lembrei muito de mim? Do eu hoje e do eu ontem. Temos algo em comum: nossa urgência em fazer acontecer. Dificilmente deixei que as coisas se ajeitassem por elas mesmas. De uma forma ou de outra sempre forcei a barra para que tudo acabasse como eu queria. Claro que muitas vezes não deu certo. Mas nunca desisti de agir. Agora, mais do que nunca, tempo é algo precioso para mim. Agora, é tempo de conhecer, e este é o tempo que mais me agradece, me encanta e me faz sentir mais eu.
Beijos