terça-feira, 27 de maio de 2008

Sobre a Paz.

Há quem diga que ela existe. Que pode ser alcançada. Fala-se em paz no Oriente Médio. Paz nos relacionamentos. Paz aos homens de boa vontade. Boa vontade. Essa sim existe. Há quem tente exercer esta prerrogativa. Acreditando no retorno. Confiando no carma. Sim, ele acreditou e confiou, então fala com ganho de causa. Ganho? De jeito nenhum. Ou de todo jeito. Em uma escala maior fora de seu entendimento, provavelmente há um ganho. No fim de tudo o que existe. Lá bem lá no fundo. No fiel da balança, há um ganho. Mas quem lhe disse mesmo que a boa vontade pode trazer a paz? Seja quem for, deve estar escondido em um canto covarde. Descobrindo que ninguém estará vivo no fim de tudo o que existe para usufruir desta paz final. Que o que conta é o agora. O momento. Paz de momento. Ou paz no momento. Quanta diferença faz uma preposição, não?

É fato que buscamos a paz no momento obstinadamente. Há quem fique surpreso ao descobrir a inexistência disso. Se conquista a paz. Se adota uma política de “apaziguamento”. Mas é uma paz inexistente. Placebo. Descobre-se que alguma coisa, bem lá no fundo, não está certa. E logo se perde uma paz que nunca se conquistou. A paz plena que não existe. Se fulano acha que conseguiu alcançar isso, ou é omisso ou é tolo. Nas duas hipóteses o fulano perde.

Ele assumiu essa postura da boa vontade. Faz um tempo. Esperava que a vida não lhe aplicasse a famosa reação daquela lei porca. E a vida, cínica, lhe provou como estava errado. O termo “redondamente” pareceu-lhe uma luva. Um fim de semana. Uma xícara de café. Um sofá cheio de pêlos de gato e a verdade. Inevitável. Um erro de nomenclatura lhe tirou toda a paz. Mostrando que ela é inexistente desde sempre. Tolo. João Bobo. Aquele que leva porrada e volta sorrindo para levar mais. Tudo porque é capaz de fazer qualquer coisa por um objetivo justo. Inclusive ser espancado e voltar inerte. Se preciso for, e ele jurava que era preciso. Acreditava nisso. Abrir mão de si mesmo parece um motivo justo? Não. Sim. A paz da não reação caiu por terra. Chegou a uma brilhante conclusão. Cobrança com juros, sob certos aspectos, também resulta em vingança. Vingança e paz. Inversamente proporcionais. Só que apenas uma delas existe. Adivinha qual?

A sorte dele é que a felicidade. Esta que quase ninguém acha que existe - e existe - não é proporcional à paz. Pelo contrário. Descobriu que há felicidade sem paz. E que há o placebo sem felicidade. Ele não está em paz. Sente sangue em sua boca. Sente que quer mais. Sangue fresco. E principalmente sangue gelado. Já que descobriu a inexistência da paz, ele será a própria reação. Não há paz. Ele assumiu que este é o seu mundo.

Agora ele está feliz.

Um comentário:

Anônimo disse...

Um tanto sombrio, mais a sua cara. Aquela velha conhecida minha. Ainda somos farinha do mesmo saco. Até.