segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Sábado animado...ou nem tanto.

Buenas, faz um bom tempo que não posto nenhuma notícia normal por estas bandas, então segue relato da primeira ida (minha e do Piá) ao Museu de Ciências e Tecnologia da PUCRS.

Já haviam descrito o lugar como "um programa de satisfação garantida" e como eu estava devendo uma banda diferente para o meu filhote (cuja maior alegria ultimamente era ir na biblioteca da Casa de Cultura Mario Quintana: sim, ele me força a levá-lo lá praticamente todos os findis), resolvi que este último sábado era o dia.

Começou com a recepção calorosa de um dinossauro mecânico próximo à bilheteria. Se você tiver um pouquinho de paciência e esperar, ele se mexe e solta algum grunhido robótico. Excelente para crianças. O Piá nem deu bola. Preferiu seguir o desenho de aranhas que, grudadas ao chão, indicavam o caminho para a exposição "Aranhas: Inimigas ou aliadas?", que mostrava alguns espécimes, vídeos, fotos em macro, arquitetura de teias e uma aranha (peluda, mas falsa) solta numa mesa, que andava via controle remoto.

- Olha que legal, filho.

- É uma aranha de brinquedo, pai.

Visitamos diversos experimentos, mas o que mais chamou a atenção do Piá foram os jogos matemáticos e as experiências de física. Mesmo os aquários (com alguns espécimes bem curiosos) e os insetos vistos por câmeras (cujo zoom eram controlados por ele) perdiam espaço para máquinas que envolviam eletricidade, magnetismo e/ou sons. Não foi diferente com os ovos de dinossauros.

No meu caso, poderia ter sido muito mais divertido se muitas das máquinas não exigissem duas pessoas (adultas) para executar as experiências. Fica o convite.

Após uma tarde toda de descobertas, seguimos viagem para a Zona Sul e, no ônibus, aconteceu o segundo fato curioso do dia: nas imediações do chiquei...cof, cof...Beira Rio, eis que um morador de rua tentou pegar carona no bus onde estávamos. O cobrador negou e pediu para ele descer. O andarilho recusou e uma pequena briga teve início. Uns dois socos foram trocados e o vagal acabou descendo do veículo. Lá da rua, nosso intrépido excluído social resolveu descontar sua raiva atirando um enorme tijolo janela adentro do bus lotado. O pedregulho pegou em cheio no rosto de duas senhoras, que foram levadas ao pronto-socorro por um carro da STS. Eu estava com o meu menino a dois bancos de distância da primeira atingida. O meliante fugiu.

Alguém aí vai se perguntar do porquê de eu ter unido esses dois acontecimentos em apenas um texto. Uma tarde tão alegre e um desfecho tão desagradável. Eu explico.

Aquele tijolo poderia ter me acertado. Pior, poderia ter acertado o Piá. O agressor fugiu e isso me assusta. Foda-se o que pode parecer ou o quanto o leitor deste blog pode ser hipócrita e achar que trata-se de um discurso ariano. A grande verdade é que Porto Alegre (e a maioria das grandes cidades) é pululada por este tipo de "gente". Seres humanos que um dia foram pessoas e agora não têm nada a perder (e, por isso, nada a temer). Ele poderia ter matado alguém. A troco de nada. E aceitar isso como algo normal é o que há de pior em nossas atitudes.

Talvez nessas horas algum (a) candidato (a) à Prefeito (a) de Porto Alegre estufe o peito para reclamar da atual administração, ou para dizer que este "senhor" que mora na rua é mais uma vítima da desigualdade social e merece complacência. Vira uma atitude fácil, aceita pela sociedade, quando se passa a mão na cabeça de um marginal e se culpa todo um sistema, quando, na verdade, não foi o sistema que colocou uma pedra na mão do sujeito. O fato é que nenhum planejamento de segurança pública no mundo pode prever quando um animal como este vai resolver se vingar da sociedade e arremessar um tijolo no rosto da sua mãe, irmã, esposa ou filha.

Faço minhas as palavras de Carlos Gomes, o então candidato à prefeito de Porto Alegre pelo PHS, quando perguntado pela ZH sobre o problema dos pedintes em semáforos: "Eles deviam ser tirados à força das ruas, pois é um absurdo uma cidade de 1,4 milhões de habitantes se render a um problema proporcionado por uma centena de pessoas inconvenientes". Esse aí ganharia meu voto se meu título de eleitor não fosse de SC.

Usar a palavra "inconveniente" pode parecer elitista. Não sei vocês, mas estou cansado de ser abordado numa parte escura da rua, às dez da noite, por alguém me pedindo dinheiro. Sinceramente, se eu andasse armado metia um tiro na cara desse infeliz, só pela falta de noção. Estou cansado de ver pessoas que conheço terem seus carros riscados por não aceitarem a extorsão dos pedintes de semáforos ou dos flanelinhas, que acreditam piamente que são donos das ruas e que executam um trabalho honesto "alugando" espaços públicos. Nessas horas dou graças à Deus por não ter um carro. Estou cansado de passar por um mendigo qualquer e ouvir o maldito xingar a minha mãe só porque ele pensa que tem este direito. Se todos estes fatos não forem exemplos sólidos de inconveniência, então não sei o que pensar.

Não nivelo e não generalizo. Pra quem não sabe, muitos moradores de rua o são por opção, e alguns conseguem coexistir sem grandes transtornos com o restante da sociedade. Mas há a categoria mencionada acima. Sem noção. Sem limites. E para estes, minha tolerância chegou no zero.

E agora divirta-se com nossa "Dica de Lugar"...

***

Dica de lugar:

Museu de Ciências e Tecnologias da PUCRS: Av. Ipiranga, 6681 - Porto Alegre - http://www.pucrs.br/mct/

Um prédio de 3 andares, um mesanino, e diversos ambientes com mais de 700 experimentos interativos, amostras, vídeos, exposições e toda sorte de curiosidades. Há um planetário inflável (2 real a entrada) e feiras de ciências que são organizadas periodicamente. 8 pilas para estudantes universitários e crianças de até 12 anos. 11 pilas para o resto.

Um barato.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

O Ensaio de Meirelles.

Estreou neste fim de semana o filme Ensaio Sobre a Cegueira, adaptação da obra de José Saramago pelas mãos habilidosas do diretor Fernando Meirelles, a qual fui assistir ontem. Antes de qualquer coisa, devo enfatizar que não li o livro de Saramago, então não poderei traçar paralelos entre um e outro. Trata-se de uma visão crítica sobre um filme, uma obra de ficção cinematográfica, e sobre isso sim tenho certa predileção.

Quando o trailer do filme circulou pela primeira vez, muita gente alardeou. Juravam que Meirelles havia transformado em mera ficção científica uma história que dizia muito mais sobre a humanidade e onde ela se perde quando todos são privados de um dos cinco sentidos (ao menos foi o que ouvi dizer, afinal, não li o livro). Após a experiência da projeção, posso dizer que se a proposta era capturar a essência humana e colocá-la num microscópio – mostrando de forma incisiva o quão tênue pode ser esta linha que nos separa do primitivo – então o diretor conseguiu.

Tudo começa quando um homem fica cego dentro de seu carro, no trânsito. Não demora muito para que esta estranha cegueira comece a se alastrar e algumas pessoas sejam “recolhidas” pelo Governo para um abrigo do Exército, no intuito de conter uma possível epidemia. A cada dia, mais e mais pessoas vão chegando ao abrigo, vítimas desta cegueira. A medida que os serviços oferecidos aos doentes pelo Estado se deterioram, os cegos são forçados a lutarem para sanar suas necessidades básicas.

Não há como não usar o termo “experiência” para definir este longa. O roteiro de Don McKellar é enxuto e utiliza com maestria elementos que provavelmente surgiram no próprio livro: não há nomes, nem de lugares, nem de pessoas. Os personagens são densos, únicos mesmo, mas nenhum deles têm nome. Há o oftalmologista, a esposa dele, o homem com um tapa-olho, a mulher de óculos escuros, o casal de orientais, o garoto, o ladrão, o Rei da Ala 3. Estão todos lá, mas não há nomes. Reza a lenda que, ao vender os direitos de adaptação de sua obra, Saramago exigiu que a história se passasse em uma cidade/país irreconhecível. Para evitar qualquer reconhecimento de lugar por parte do público, a produção optou por filmar as externas em 3 países diferentes: Uruguai, Canadá e Brasil (São Paulo). De fato, “onde diabos isso foi filmado?” é uma das muitas perguntas que surge na cabeça do espectador.

Mas é claro que o maior diferencial corre por conta de Fernando Meirelles, que mais uma vez prova que sua veia independente reinventa o modo de fazer cinema. Trucagens de câmera, efeitos de iluminação, câmeras no ombro, perda de foco e outras peripécias fazem de cada take uma experiência única de linguagem, nos transportando para a realidade inerente à história.

Uma tentativa e êxito de fazer com que nós, na poltrona do cinema, nos sentíssemos cegos. Atingidos pela névoa branca que cobria os olhos dos personagens e, por que não dizer, cobre nossos instintos mais primitivos. Trata-se de uma narrativa generalizada. Contando uma história que nos atinge em qualquer lugar, em qualquer época, não importando o nome que cada um tenha, mesmo em se tratando de uma doença que não existe. Um excelente resumo deste ponto de vista ocorre quando o personagem de Mark Ruffalo cobra “decência” de um outro personagem que é cego de nascença. O personagem de Gael Garcia Bernal intercede: “Ele é cego, mas isso não significa que ele seja bom ou mal. Ele é só cego e pronto”.

Não é à toa que Fernando Meirelles é, atualmente, o nosso melhor expoente da Sétima Arte e não foi à toa que José Saramago aplaudiu o longa. Ensaio Sobre a Cegueira é um filme denso, tenso, constrangedor e obrigatório. Nos faz refletir, recuar, temer o que pode haver dentro de nós.

***

Dica de filme:

Ensaio Sobre a Cegueira (Blindness)
Diretor: Fernando Meirelles
Elenco: Mark Ruffalo (Oftalmo), Julianne Moore (Esposa do Oftalmo), Yusuke Iseya (Primeiro Homem Cego), Yoshino Kimura (Esposa do Primeiro Homem Cego), Alice Braga (Mulher de Óculos Escuros), Danny Glover (Homem com Tapa-olho), Gael Garcia Bernal (Rei da Ala 3)
Duração: 120 minutos
Gênero: Drama
Ano: 2008

Será que o livro também é assim?

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Sete anos atrás.

Parece que foi ontem. Eu morava em Tubarão e trabalhava de madrugada em uma loja de conveniências num posto de gasolina da BR-101. Embora as noites naquele tempo fossem de arrepiar os cabelos da nuca, aquela madrugada de segunda pra terça foi tranquila. Até demais. Caixa fechado, um lanche básico de café da manhã e casa.

Após tomar um banho e colocar um roupão, ligo a televisão. Não era um hábito ligar a TV às 8 da manhã. Mas foi como se precisasse de uma presença a mais na casa. Como a sensação que o aparelho transmite quando se entra em casa e ele está ligado, sabe? Simplesmente sabemos que a TV está ligada. Lembro da manhã agradável de sol, depois de uma noite de trampo tranquila. Lembro do roupão e das pantufas de velho. Lembro do copo d’água que fui pegar na cozinha enquanto a chamada do Plantão da Globo chegava aos meus ouvidos. Parei na frente da TV e tudo estava acontecendo: gente correndo pra todo lado, repórteres tentando elucidar aquela loucura toda e um avião entrando com tudo no World Trade Center ao vivo. Quando o reporter disse que aquele era o segundo avião a atingir as Torres Gêmeas, sentei no sofá e disse “Merda!” pra mim mesmo.

Depois daquela manhã, Osama Bin Laden, Afeganistão, WTC, Al Qaeda e tantos outros nomes, lugares e termos, contaminaram o mundo. No P.E.S.T.E. (Projetos Especiais Simultâneos de Trabalhos Escritos) o tema da semana era o WTC e nos rendeu boas histórias. O conto que escrevi chamava-se “Tsunami” e contava a história de um aposentado no vôo da United 93. Curiosamente, três anos depois, o termo “Tsunami” também estaria na crista da onda (Hã, entenderam o trocadilho? Hein? Hein?) ao devastar a costa asiática e matar centenas de milhares de pessoas.

Mas nem só o P.E.S.T.E. ou Alan Jackson propagavam o amor nos tempos do WTC. Levou uns dois meses para os internautas criarem o NY Defender, um joguinho em flash onde o mouse era uma mira e o jogador tinha de acertar os aviões que tentavam chocar-se contra as Torres Gêmeas. Admito que o jogo era uma massagem. Gifs, montagens de fotos que colocavam um turista sorridente em uma das torres (enquanto, em segundo plano, um avião se aproximava) e uma penca de referências ao fatídico dia pulularam pela internet e pela indústria cinematográfica.

Aproveitando o ensejo (como diria minha Mãe) dos atentados, G. W. Bush resolveu travar uma pequena guerra contra qualquer país que ameaçasse a segurança estadunidense. Os EUA abraçaram a causa da retaliação. Virou a tal “Febre do Terror”. O engraçado é que todos esses países se encontravam no sudoeste da Ásia, mais precisamente na região árabe. Afeganistão primeiro. Iraque depois. Lembro-me de uma piada no Oscar de 2002 onde Billy Cristal dizia “Sabe pessoal, na última vez em que apresentei o Oscar, em 1992, tudo era diferente: o presidente dos EUA era George Bush e estávamos em guerra contra o Iraque”.

Quando sentei no sofá, na manhã do dia 11 de setembro de 2001, eu sabia que algo grande estava acontecendo. Era burro demais pra sacar a jogada toda numa só tacada, mas já conseguia enxergar alguns aspectos do efeito dominó que aqueles aviões trariam para o mundo. Sabia que os portões para a entrada de estrangeiros em países de 1º Mundo iriam se fechar como ostras. Sabia que esta crise e uma reação à ela dariam mais um mandato à George Bush (que até aquele momento era um Geraldo Alckmin no Salão Oval: não fedia e nem cheirava). Mas confesso que não imaginei que este catalizador justificaria não somente a caçada à “armas de destruição em massa”, como também a execução de Saddam Hussein e a transmissão de seu enforcamento na internet, nos remetendo ao que há de mais bárbaro e aterrador no espírito humano. O que nos diferenciava de certos animais, de algumas tribos abissais e de pessoas como o próprio Saddam (que era um notório genocida e merecia queimar mesmo) simplesmente foi para o espaço. Justificamos uma execução e o mundo assistiu de camarote. Hoje, qualquer criança abre o vídeo do enforcamento do ditador no You Tube.

Foi isso que perdemos naquela manhã de sol.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Saudosismos.

Acre.
Álbum de figurinhas de Fórmula 1.
Altered Beast.
Aposta da Morte.
Armas de madeira.
Atletismo.
Bala Sete Belo.
Baltimore.
Baré-Cola.
Bares da Salgado.
Batida de Côco.
Bingo caseiro.
Bolão.
Bolo de chocolate com cravo.
Brigas com minha irmã maior.
Campeonatos de matemática.
Carnaval no Camacho.
Carretilha que nunca tive.
Cine Astor.
Cine Coral
Cine Guarani.
Cine Imperial.
Comandos em Ação.
Comida da minha mãe.
Cooper na madrugada.
Crossroads.
Desenho com carvão.
Desenho em isopor.
Dindos ausentes.
Discussão com professores.
Doces de festa.
Duelo de espadas.
Esconde-Esconde.
Festival de cinema.
Filmes de ninja.
Fliperama.
Força Laser.
Futebol de salão.
G6.
Gemo.
Golden Axe.
HQs de super-heróis.
Intrigas no 2º grau.
Jornada nas Estrelas às 10 da manhã na TV.
Leite condensado.
Love Songs.
Macacão vermelho.
Meu filho dormindo sobre o meu peito.
Minha avó.
Miojo com filme.
Oktoberfest.
Paintball.
Paixão de primário.
Pescaria com meu pai que nunca aconteceu.
P.E.S.T.E.
Pezão.
Placa de "Pare" na porta do quarto.
Poker de mentira com apostas de verdade.
Primas.
Primo.
Professora da 3ª série.
Pudim de leite.
Relógio Seiko.
Reunião dancante.
Risada da minha irmã mais nova.
Ruas de Fogo.
Seriados japoneses.
Set de filmagem.
Sonic.
Sorriso da minha filha.
Street Fighter 2.
Super Mario World.
Tacuarembo.
Top Gear.
Tribunal de bicho de pelúcia.
Volei de rua.
War.
Xadrez de calçada.

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Obs: Em ordem alfabética, mas não em ordem de importância.